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Como a versão americana do TikTok chegou a valer US$ 1 bi e faliu em apenas 7 meses de operação

A Flip surgiu diante da possibilidade de proibição do aplicativo de vídeos da ByteDance nos EUA, mas grandes investimentos em market share saíram pela culatra

Noor Agha e Jonathan Ellman, sócios-fundadores da Flip (Flip/Divulgação)

Noor Agha e Jonathan Ellman, sócios-fundadores da Flip (Flip/Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 12 de setembro de 2025 às 18h25.

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Em janeiro de 2025, os funcionários da Flip estavam otimistas. O concorrente do TikTok havia alcançado o top 5 do aplicativo App Store (da Apple), com um aumento de 855% nos downloads em comparação com o mês anterior, impulsionado pela possível proibição do TikTok nos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump.

Com mais de US$ 230 milhões em financiamento e uma avaliação de US$ 1,1 bilhão, a Flip prometia transformar as compras nas redes sociais por meio de uma combinação de vídeos divertidos e avaliações de produtos. No entanto, sete meses depois, a companhia decretaria falência e o caso acendeu um alerta no setor.

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De olho nas oportunidades do social commerce

A Flip foi lançada em 2019 pelo ex-refugiado iraquiano Noor Agha e o americano Jonathan Ellman. A ideia era criar uma rede social de compras em que usuários pudessem experimentar roupas, tirar fotos e pedir a opinião de outros sobre o que comprar.

Em 2021, a Flip se afastou de seu conceito original e passou a se concentrar em avaliações de produtos e vídeos de compras ao vivo - como parte do movimento mais amplo de social commerce (estratégia de vendas que une a compra e venda de produtos nas redes sociais e plataformas de mídia online).

Segundo o Business Insider, a empresa arrecadou US$ 28 milhões em rodada Série A e se posicionou para competir com plataformas como o Whatnot — plataforma de compras com transmissão ao vivo em que usuários podem comprar e vender em leilões de vídeo online — e, mais tarde, o TikTok.

Com o rápido crescimento, a Flip atraiu grandes influenciadores, como o maquiador Patrick Starrr e a cantora americana Addison Rae. A empresa expandiu sua base de usuários em 500% no primeiro semestre de 2022 e conseguiu mais US$ 60 milhões em rodada Série B, o que elevou sua avaliação para US$ 500 milhões.

O 'voo de galinha' da Flip

Em 2023, a Flip investiu mais para expandir sua base de usuários, oferecendo créditos para atrair novos cadastrados e promovendo anúncios agressivos. Em abril de 2024, a empresa arrecadou US$ 144 milhões, o que dobrou sua avaliação para US$ 1,1 bilhão.

Logo após a proibição do funcionamento do TikTok nos EUA, em razão da disputa do país com a China, a Flip viu uma grande oportunidade para fisgar os consumidores americanos e expandir seu market share.

Para superar o TikTok Shop, o principal concorrente no setor de compras sociais, a Flip lançou o "Founding Creators Fund Flip", que ofereceria o benefício de US$ 100.000 aos criadores que se comprometessem a publicar conteúdos na plataforma por vários anos.

Além de reter influenciadores digitais para elevar o engajamento e atração de usuários, o objetivo do projeto era impulsionar a receita da plataforma. Mas, as apostas para superar o aplicativo de vídeos da ByteDance saíram pela culatra. Os elevados custos de aquisição de usuários e os impactos das tarifas de Trump aos produtos importados, anunciadas em abril, afetaram o crescimento da empresa.

Em seguida, a empresa demitiu muitos de seus funcionários e quase esvaziou sua sede em Los Angeles. Em junho, o aplicativo já não estava no top 100 da App Store. Em agosto de 2025, o aplicativo foi descontinuado no final de agosto e a Flip anunciou o fim de suas operações.

A empresa havia alcançado 16,5 milhões de usuários e gerado US$ 375 milhões em vendas para marcas, mas os fundadores ou representantes nunca deram explicações à imprensa sobre o fechamento.

O fim da Flip pegou muitos de surpresa. Ex-funcionários que haviam visto o crescimento dos downloads e a integração de novas marcas acreditavam que os negócios estavam prosperando. "Fiquei chocado com as demissões e a rapidez com que tudo se desfez", relatou um ex-funcionário, em condição de anonimato, ao Business Insider.

Desafios do setor

A queda da Flip representou também as dificuldades enfrentadas por startups que tentam competir com gigantes como TikTok, Meta e Google. Mas, para analistas consultados pelo Business Insider, a falência da empresa marcou também a fragilidade do setor, com diversas empresas investindo para se destacar em um mercado saturado e um modelo de negócios baseado na combinação de redes sociais e compras online, que ainda não está consolidado nos EUA.

Embora a Flip tenha investido milhões em recrutamento de criadores e atração de novos usuários, competir com esses gigantes não seria tarefa fácil, como já havia previsto Agha Ellman, um dos fundadores. "Construir uma plataforma social do zero é realmente complicado", disse o empreendedor em um evento em janeiro.

Além disso, a tentativa de integrar o comércio social também foi desafiadora para outros concorrentes. O TikTok teve dificuldades em lançar sua plataforma de e-commerce, o TikTok Shop, e a Meta diminuiu suas apostas no comércio online.

A Amazon, por sua vez, fechou o seu feed de compras, o Inspire, em seu aplicativo em fevereiro de 2025. O design se baseava no conceito do TikTok e funcionava como uma fonte de inspiração para clientes a partir de conteúdo criado por influenciadores e marcas.

“Nós avaliamos regularmente vários recursos para melhor nos alinharmos com o que os clientes nos dizem que é mais importante e, como parte disso, o Inspire não está mais disponível”, declarou uma porta-voz da empresa ao site TechCrunch, na época.

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