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Como a Vale foi bloqueada pelas siderúrgicas brasileiras, suas novas rivais

Fatia do Brasil nos negócios da Vale permanece estagnada, devido à concorrência de seus próprios clientes

Vale: a participação da China nas vendas de minério de ferro e pelotas da Vale subiu de 41,4% para 41,9% no segundo trimestre de 2011 (Divulgação)

Vale: a participação da China nas vendas de minério de ferro e pelotas da Vale subiu de 41,4% para 41,9% no segundo trimestre de 2011 (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2011 às 06h12.

São Paulo – A vida já foi mais fácil para a Vale no mercado brasileiro. No seu auge, a companhia chegou a fornecer 70% do minério de ferro consumido pelas siderúrgicas locais. Hoje, a fatia é de 50%, e a própria companhia admite que a tendência é que a queda continue. O motivo é bem simples: seus clientes, as siderúrgicas, passaram também a ser seus maiores concorrentes. Isto porque estão investindo cada vez mais na autoprodução de minério de ferro.

“A autossuficiência das siderúrgicas cortou a fatia da Vale no mercado interno”, disse Pedro Galdi, analista da SLW. Os números do segundo trimestre mostram que, com isso, a fatia do Brasil nos negócios da Vale tem andando de lado. No segundo trimestre do ano passado, o Brasil respondeu por 12,1% das vendas físicas de minério de ferro e pelotas. No mesmo período deste ano, o número praticamente empata: 12,3%. Enquanto isso, a China continuou avançando: de 39,5% para 41,7% no mesmo período.

O reajuste de preços promovido pela Vale, e que contribuiu com boa parte do aumento de receitas e lucros do trimestre, também não ajudou muito a avançar no Brasil. Há um ano, o país respondia por 17% da receita operacional – agora, está um ponto percentual maior, 18%. Como exemplo, a China avançou quatro pontos percentuais, de 27% para 31%.

Concorrente local

Tudo isso reflete a forte disposição das siderúrgicas de reduzirem sua dependência da Vale – algo bom para elas, mas ruim para a mineradora, obviamente. O próprio presidente da Vale, Murilo Ferreira, queixou-se da atuação das siderúrgicas na teleconferência sobre os resultados do trimestre. “As siderúrgicas no Brasil não investem em aço, tentam ser mineradoras”, disse Ferreira.

Muitas siderúrgicas locais investem em mineração, como a Usiminas. Em 2010, a empresa uma joint venture com o grupo japonês Sumitomo Corporation e criou um um braço de mineração. A produção é destinada ao consumo próprio nas plantas siderúrgicas da Usiminas e também à exportação.

A Gerdau acredita que, nesse ano, deve conseguir suprir aproximadamente 75% da sua necessidade de minério de ferro. A empresa projetou, para 2012, a autossuficiência em minério de ferro na sua unidade de Ouro Branco, em Minas Gerais (Gerdau Aço Minas). A necessidade da companhia é de cerca de 7 milhões a 7,5 milhões de toneladas por ano. 


A CSN, por sua vez, é praticamente autossuficiente em minério de ferro. Ela é dona da Casa de Pedra, uma das melhores minas do país – que produz hoje cerca de 30 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, e pretende produzir 84 milhões de toneladas de minério de ferro em 2015. A produção da Vale de minério de ferro no primeiro semestre foi de 151,8 milhões de toneladas.

Ser ou não ser siderúrgica

Essa perda de participação, porém, não indica necessariamente que a Vale deve construir uma siderúrgica no país, segundo Galdi, da SLW.  “A Vale é fomentadora de siderúrgica no Brasil, entra como sócia, como fez com Usiminas, Thyssen...”, disse. A Vale tem uma participação de 26,87% na ThyssenKruppCSA Siderúrgica do Atlântico. O objetivo da siderúrgica é cinco milhões de toneladas por ano de placas de aço.

“Hoje o Brasil é um dos lugares mais caros do mundo para produzir aço”, disse Galdi. Além disso, a produção siderúrgica no Brasil gera excedente - cerca de 20% da produção é exportada, segundo Galdi. Mais um motivo para tornar a mineração um bom negócio – inclusive para as siderúrgicas, para desgosto da Vale.

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