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Como a Uber mudou o cartão de débito no Brasil – e conquistou a periferia

Para conquistar o público das periferias, a Uber precisou enfrentar uma batalha dura e mudar a forma como os bancos lidam com o cartão de débito no Brasil.

UBER: gigante de tecnologia está trabalhando "há vários meses" em seu novo projeto (Victor J. Blue/Getty Images)

UBER: gigante de tecnologia está trabalhando "há vários meses" em seu novo projeto (Victor J. Blue/Getty Images)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 28 de junho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 28 de junho de 2018 às 11h54.

São Paulo – Inicialmente lançada como um serviço de carros de luxo, a Uber busca chegar a um público que, até agora, estava distante da empresa: consumidores que moram nas periferias. Com a inclusão do débito entre os meios de pagamento, chegou a pessoas que não possuem um cartão de crédito.

Para pedir um carro pelo aplicativo, é necessário inserir um meio de pagamento. Até um ano atrás, o cartão de crédito era a única opção. No entanto, com acesso a crédito escasso no Brasil e por conta das altas taxas de juros, muitas pessoas, principalmente das classes sociais mais baixas, optam por ter apenas um cartão de débito.

Há um ano, a Uber começou a aceitar pagamento em dinheiro e viu o número de viagens aumentar principalmente nas periferias. Porém, andar com dinheiro não é tão seguro para os motoristas, que correm risco de assalto.

Além disso, não é uma boa experiência para os passageiros, diz Gabriela Manzini, líder de comunicação da Uber. "Você precisa se preocupar se tem dinheiro no bolso, se vai ter troco. O que a gente quer é que as pessoas se sintam confortáveis, que pedir um carro seja uma coisa simples e que leve poucos minutos", afirma ela.

Débito ou crédito?

Para resolver esse problema, a Uber firmou uma parceria com a Visa para incluir um novo meio de pagamento no aplicativo: pelo débito.

Pode parecer uma mudança simples, mas foram necessárias extensas conversas com as equipes de tecnologia das duas empresas e de dois bancos parceiros: Bradesco e Banco do Brasil.

Ainda que tanto débito quanto crédito sigam as mesmas regras de fraude ou de contestação de compra, há uma diferença na autenticação da compra.

No caso do crédito, o dinheiro é dado primeiro pelos bancos, que conseguem suspender a compra e a cobrança com maior facilidade. No caso do débito, o valor sai diretamente da conta corrente do consumidor e, por isso, é sempre necessário fornecer uma autenticação, como a leitura do chip e a senha. No crédito, a empresa pode ou não pedir a autenticação.

O diferencial da Uber sempre foi o pagamento invisível - o passageiro sai do carro sem nem olhar para a carteira. Essa experiência seria prejudicada se ele precisasse digitar a senha em algum aparelho, diz Gabriela.

"Preparamos todos os processos e a linha de defesa antifraude para que os emissores de cartão autorizem o pagamento mesmo sem autenticação”, afirma Edson Ortega, diretor de risco da Visa.

A empresa criou um novo pacote de autenticação que usa dados do consumidor para validar a transação. Entre os mais de cem dados, estão o número do celular do consumidor, o endereço de onde e pra onde ele vai e se o valor é razoável para aquela corrida. Esses dados devem estar de acordo com as informações que a bandeira possui de seu cliente.

O débito passou a integrar os meios de pagamento em fevereiro de 2017. De lá para cá, a empresa viu um aumento no uso do serviço nas periferias em comparação com o centro.

Em Porto Alegre, o crescimento foi 4,6 vezes superior nas regiões mais afastadas e, em Goiânia, 3,7 vezes. Em São Paulo, uso nas periferias cresceu 2,3 vezes mais que no centro, mesmo número do Rio de Janeiro. Em Brasília, 2,7 vezes.

A solução foi inicialmente desenvolvida para o Brasil, por conta da importância dos pagamentos em débito no país, mas será levada a outras regiões em que a Uber atua.

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