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Como A Tal da Castanha cresceu 12 vezes em 5 anos e agora mira o mercado global de leite vegetal

Criada no Ceará pelos irmãos Felipe e Rodrigo Carvalho, a marca aposta em rebranding, novos produtos e expansão internacional para sustentar um crescimento de até 40% em 2025

Felipe e Rodrigo Carvalho, CEOs do grupo Positive Co: “Esse crescimento não vem só de aumento de venda do leite. Vem da criação de novas categorias” (A Tal da Castanha/Divulgação)

Felipe e Rodrigo Carvalho, CEOs do grupo Positive Co: “Esse crescimento não vem só de aumento de venda do leite. Vem da criação de novas categorias” (A Tal da Castanha/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 21 de agosto de 2025 às 07h02.

O cheiro da castanha tostando ainda preenche os galpões no interior do Ceará.

Lá, no calor da fábrica criada por seu pai em 1999, os irmãos Felipe e Rodrigo Carvalho cresceram. A empresa, Amêndoas do Brasil, a maior exportadora de castanha de caju do mundo, era o negócio da família. Mas acabou virando o ponto de partida para algo maior: a criação de uma das marcas mais influentes do setor de alimentos plant-based no Brasil.

A Tal da Castanha nasceu em 2015, dentro da estrutura da fábrica de castanhas. A ideia era simples e radical ao mesmo tempo: criar uma bebida vegetal com apenas dois ingredientes — água e castanha-de-caju — num mercado acostumado a fórmulas cheias de gomas, espessantes e conservantes. Ninguém achava que fosse dar certo.

Hoje, a marca é líder nacional no segmento de bebidas vegetais. Faz parte da holding Positive Company, dona também das marcas Jungle, Plant Power, Possible e Zaya. O grupo é uma joint-venture entre o grupo 3corações e a Positive Brands.

Em cinco anos, a Positive cresceu 12 vezes em receita. Agora, mira o mercado global, com exportações para Austrália e Canadá e novas apostas em categorias como snacks e suplementos.

“Estamos passando por uma fase de reorganização estratégica. A empresa cresceu muito rápido e agora precisa se estruturar para os próximos cinco anos”, afirma Rodrigo, que divide o comando com o irmão.

Eles preveem crescer entre 30% e 40% ainda em 2025.

A nova fase da empresa começou com um rebranding da A Tal da Castanha, que marca os 10 anos da marca e prepara o terreno para novos lançamentos e expansão internacional.

Mas, por trás da nova identidade visual, está a mesma proposta que deu origem ao negócio: simplificar o leite vegetal — e ganhar mercado com isso.

Qual é a história da Tal da Castanha

O primeiro produto da A Tal da Castanha nasceu de um experimento dentro da indústria de castanhas da família.

Inspirado pelas bebidas de amêndoa que ganhavam força nos Estados Unidos, Rodrigo e Felipe queriam criar uma alternativa brasileira.

“Percebemos o aumento do consumo de leite vegetal lá fora, principalmente o almond milk. A gente viu uma oportunidade de fazer algo aqui, mas com castanha-de-caju, que era o que a gente dominava”, conta Rodrigo.

Mas não bastava copiar. O diferencial da marca foi a obsessão por rótulo limpo.

“Tudo naquela época era muita tranqueira, praticamente água saborizada com goma e aditivo. A gente queria fazer diferente”, diz. Foi assim que surgiu a primeira bebida vegetal do mundo com apenas dois ingredientes: água e castanha.

Felipe foi o responsável pelo desenvolvimento da fórmula.

“Ele é muito focado em fazer sempre o melhor", diz o irmão Rodrigo. "Só sai daqui o que tem eficácia, densidade nutritiva e qualidade de verdade. A gente precisava colocar muito mais castanha na fórmula pra garantir isso. O produto ficou mais caro, mas muito mais nutritivo”, lembra Rodrigo.

O produto nasceu dentro da estrutura da Amêndoas do Brasil, mas logo ficou claro que o caminho era outro.

“A gente saiu da miopia de achar que era só uma forma de agregar valor à castanha. Virou um negócio com propósito: trazer saúde de verdade para as pessoas através da alimentação”, afirma.

O primeiro produto, chamado simplesmente de “Original”, foi lançado em 2015. Em seguida, vieram versões com coco, aveia e castanha-do-pará. A distribuição começou pequena, mas ganhou força com a entrada no e-commerce e, depois, com a seleção como scale-up pela Endeavor.

A virada veio em 2020, com a joint venture com o Grupo 3corações.

“A gente saiu de 25 milhões para um faturamento 12 vezes maior em cinco anos. A parceria com a 3Corações nos deu escala, acesso a canais e força de distribuição nacional”, diz Rodrigo.

Quais são os desafios no meio do caminho

Com a joint venture, a Positive Company deixou de ser uma startup e virou uma operação nacional.

Mas o crescimento acelerado trouxe seus próprios desafios.

“Nunca é fácil crescer rápido. Você sai de uma estrutura super enxuta e precisa se reorganizar o tempo inteiro”, afirma Rodrigo.

A produção, em grande parte, ainda é terceirizada — as chamadas copackers, ou envasadoras parceiras —, mas todo o desenvolvimento de produto é feito internamente.

A operação passou de 6.000 para mais de 40.000 pontos de venda em 2025.

Ao mesmo tempo, o portfólio se expandiu. Jungle, uma bebida de hidratação natural que rivaliza com isotônicos artificiais, já representa 15% do mercado em algumas regiões.

A marca Possible atende consumidores que buscam uma bebida vegetal mais próxima do sabor do leite de vaca. E a Plant Power entrou no segmento de suplementos com cafés funcionais, creatinas e proteínas sem leite.

"Nosso foco é criar soluções saudáveis em mercados grandes. Fizemos isso com leite vegetal, depois com hidratação e agora com snacks. Não adianta lançar mais do mesmo", diz Felipe.

A Zaya, marca de snacks saudáveis adquirida no fim de 2024, é a mais nova aposta do grupo. Os produtos devem ganhar escala a partir de setembro.

Hoje, A Tal da Castanha ainda responde por cerca de 70% da receita da holding, mas a meta é chegar a um equilíbrio 50/50 com as demais marcas até o fim de 2026.

“Esse crescimento não vem só de aumento de venda do leite. Vem da criação de novas categorias”, diz  Rodrigo.

Uma das principais barreiras para os produtos plant-based no Brasil ainda é o preço. E, segundo os fundadores, isso não tem a ver só com o custo dos ingredientes. “É um problema estrutural. O leite de vaca tem isenção total de impostos em vários estados. O leite vegetal paga até 35% em tributos”, diz Rodrigo.

Mesmo com a escala maior, os preços dos produtos da A Tal da Castanha ainda não são comparáveis aos dos leites tradicionais. Mas, segundo a empresa, a percepção do consumidor mudou.

“No começo, as pessoas achavam caro. Hoje, entendem o valor do produto e da fórmula. Mas ainda lutamos por igualdade fiscal”, afirma Felipe.

Rebranding e próximos passos

O rebranding de 2025 é o marco visual da nova fase.

As embalagens foram redesenhadas, os personagens atualizados e a linguagem ficou mais direta.

“Queremos que o consumidor entenda o que está comprando. A nova identidade reforça a clareza e a autonomia”, diz Felipe.

A Tal da Castanha também lançou a bebida “Completo”, com 8g de proteína por porção, feita com arroz, ervilha e castanha.

Outro destaque é o “Condensado de Castanha”, alternativa 100% vegetal ao leite condensado, voltado para receitas.

Mas o plano vai além do visual. Em 2025, a empresa começou a exportar para Austrália e Canadá, com negociações em andamento no México.

A estratégia de internacionalização aproveita a estrutura comercial do Grupo 3corações, parceiro da joint venture.

“Vamos lançar pelo menos sete novos produtos nos próximos cinco anos. Mas sem abrir mão do que nos trouxe até aqui: saudabilidade, transparência e foco na qualidade”, afirma Rodrigo.

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