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Como a Nestlé usa IA para 'rastrear' 700 mil xícaras de café por dia no Brasil 

Case nacional será replicado pela empresa no mundo; investimento no setor gira em torno de R$ 600 milhões 

A empresa informa que a incorporação dessas soluções de IA permitiram uma previsão de demanda com 94% de acurácia (EcoPim-Studio/Getty Images)

A empresa informa que a incorporação dessas soluções de IA permitiram uma previsão de demanda com 94% de acurácia (EcoPim-Studio/Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 23 de julho de 2025 às 05h26.

Última atualização em 24 de julho de 2025 às 17h18.

A Inteligência Artificial deixou de ser um assunto para ser discutido apenas por especialistas ou futurólogos. Ela está no dia a dia das pessoas.

A tecnologia vai da conversa por chat para resolver qualquer tipo de problema de prestação de serviços e segue até a nossa sagrada xícara de café.

A Nestlé investe pesado nessa ideia. Só a área de DataLab, dedicada à criação de ferramentas de IA e dados para demandas diversas do negócio, como supply, vendas e marketing, emprega 100 pessoas e mais 30 funcionários terceirizados.

Desde sua criação, em 2019, o DataLab já fez mais de 6 milhões de combinações de recomendações por dia.

Temos 1.300 produtos. Criamos uma solução de leitura de dados sobre estoque de clientes. Conseguimos ler possíveis riscos de ruptura [a famosa prateleira sem produtos]. Com essa tecnologia, reduzimos em 35% esse problema. Começamos com isso há três anos e hoje temos 300 mil clientes pelo Brasil, diz Brunno Ragonha, diretor de Data Science & Analytics da Nestlé.

O executivo não revelou quanto a empresa investe no setor, mas admitiu que é um "número significativo".

Na trilha das xícaras e dos vendedores

Ragonha revelou em primeira mão à EXAME como funciona o projeto Conecta Nestlé Professional. O programa faz parte dos R$ 600 milhões de investimento no Brasil para a área.

O conceito é utilizar IA para melhorar a definição do roteiro de visita dos vendedores da empresa aos clientes corporativos para evitar a falta de estoque – ou ruptura.

O Brasil tem o maior parque de equipamentos de multibebidas instalados em ambientes corporativos da Nestlé no mundo - são 700 mil xícaras de café por dia no país por meio de seus canais fora do lar, segundo informações da empresa.

Case reconhecido mundialmente

Todo esse aparato tecnológico no Brasil e sua conectividade de dados foram reconhecidos pela matriz suíça. A solução desenvolvida aqui será implementada no mundo inteiro, mas ainda sem prazo definido.

A ferramenta Optimizer teve um piloto em março de 2024 no Rio Grande do Sul, gerando um aumento de 11% na conversão em vendas após a visita do vendedor. Com os bons resultados, a iniciativa foi replicada para o resto do país.

Para conseguir gerar esses insights de dados, todos os quase 30 mil equipamentos corporativos de bebidas da Nestlé passaram a ter tecnologia de telemetria desde o final de 2023.

Com um chip instalado nas máquinas, é possível coletar informações como a quantidade de bebidas extraídas diariamente, o tempo de inatividade e os níveis de estoques projetados.

A empresa informa que a incorporação dessas soluções de IA permitiram uma previsão de demanda com 94% de acurácia. Essa análise permite à Nestlé projetar a venda B2C em um horizonte de até 12 semanas.

"Com o Conecta, vendemos soluções para as empresas, sejam hotéis ou cafeterias. Fico sabendo se a máquina está funcionando de forma adequada, as doses etc. Hoje, cruzo informações e vejo as últimas vendas. Com isso, o approach do vendedor é muito melhor. Antes, ele percorria 'apenas' uma rota geográfica. Hoje, a ideia é priorizar clientes com menor estoque. A probabilidade de compra é muito maior", diz Ragonha.

O futuro da IA

O executivo acredita que os próximos 10 anos serão de consolidação da tecnologia, mas será preciso garantir que os modelos possam ser replicáveis. "Será preciso garantir que os casos de uso dessas tecnologias sejam escaláveis. Hoje, a grande dificuldade é sair de um piloto e ir para a escala. Ganhar tempo para fazer uso dessas ferramentas e colocar coisas novas para funcionar num espaço de tempo menor.  Consigo ver essa transformação mais rápida", argumenta o diretor da Nestlé.

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