Rafael Vasconcelos, CEO da Tropicool no Brasil: “A gente já validou o produto lá fora. O desafio agora é abrir portas no Brasil e mostrar que dá pra fazer diferente"
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de setembro de 2025 às 06h47.
Última atualização em 12 de setembro de 2025 às 09h26.
Num primeiro momento, pode soar improvável imaginar o que um sheik árabe, Neymar e o açaí têm em comum.
Mas é justamente dessa combinação inusitada que nasceu a Tropicool — uma marca de alimentos saudáveis criada fora do Brasil e que agora tenta fincar raízes no próprio país, apostando em franquias enxutas e na promessa de margens atraentes.
A ideia começou em 2019, em um curso em Harvard.
Ali, os brasileiros Caio Nabuco e Maurício Esteves, veteranos do comércio exterior, conheceram Moe Al Thani, da família real do Catar.
O sheik, entusiasta de esportes radicais e do açaí, questionou por que o fruto vendido no exterior era sempre congelado, caro e pouco prático. A provocação virou negócio: Nabuco e Esteves desenvolveram uma polpa líquida de açaí que pode ser armazenada fora da geladeira por até um ano.
A inovação simplificou o transporte e abriu espaço para a expansão internacional - e o próprio sheik (e o irmão dele) viraram sócios.
Com essa tecnologia, a marca estreou em Dubai e, desde então, abriu 120 pontos em mais de dez países.
Agora, volta os olhos para o Brasil — um mercado onde o açaí já é popular, mas disputado entre marcas locais, operações pulverizadas e redes que exploram a onda da saudabilidade.
“A gente já validou o produto lá fora. O desafio agora é abrir portas no Brasil e mostrar que dá pra fazer diferente, com mais controle e menos custo fixo”, diz Rafael Vasconcelos, CEO da operação brasileira. Ele faz parte da FTC Participações, o fundo brasileiro que está por trás da expansão no Brasil.
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O diferencial está na forma de preparo. Em vez dos blocos congelados tradicionais, a Tropicool trabalha com litros de polpa concentrada em embalagens assépticas — que dispensam refrigeração. São embalagens como as caixinhas de suco e de leite.
Na loja, basta conectar a embalagem a uma máquina de sorvete soft para ter o açaí pronto na textura certa para venda.
A lógica elimina freezers industriais e câmaras frias, reduzindo o investimento inicial.
Segundo Vasconcelos, uma unidade pode ser aberta com cerca de 180.000 reais, já incluindo equipamentos, estoque inicial e projeto arquitetônico. Há ainda a opção de modelos reduzidos, a partir de 120.000 reais.
Esse formato também facilita o controle de estoque: como a polpa é líquida e porcionada, o franqueado mede o custo de mercadoria quase em tempo real.
“Em vez de potes de sorvete e espátula, você tem uma linha de montagem. Isso reduz perdas, melhora o controle e exige menos pessoal. São só três funcionários por loja”, afirma o executivo.
Antes mesmo do anúncio oficial da expansão, a ser feito agora em setembro, a Tropicool já havia vendido sete franquias.
As primeiras estão sendo implantadas em São Paulo, em pontos de alto fluxo, com parcerias em negociação com redes como Pão de Açúcar e academias.
A companhia estima um faturamento médio mensal por loja entre 55.000 e 70.000 reais, o que equivale a algo próximo de 800.000 reais anuais por unidade. Se atingir a meta de 200 franquias em dois anos, o potencial de receita no Brasil superaria 160 milhões de reais anuais.
O ritmo é ambicioso. A franqueadora diz ter alcançado o ponto de equilíbrio já nos primeiros meses de operação, algo raro no setor.
Mas crescer nessa velocidade exige capital e visibilidade.
“Nosso maior desafio é abrir lojas físicas para que as pessoas vejam o produto funcionando. O boca a boca ainda não existe porque a marca é nova aqui”, diz Rafael.
Para isso, eles contarão com a ajuda de um dos brasileiros com maior quantidade de seguidores no Instagram: o craque do futebol Neymar.
Desde 2024, Neymar é o rosto da linha de smoothies em mercados como Emirados Árabes e Estados Unidos, estratégia para conectar a marca a um público jovem e global, e seguirá sendo o rosto da operação em terras brasileiras.
Para além da dificuldade de marketing, é importante lembrar que a Tropicool entra em um setor altamente fragmentado no Brasil.
Redes como Oakberry e Nação Açaí já ocupam parte relevante do mercado formal, enquanto milhares de pequenas operações competem de maneira informal.
Para tentar driblar esta questão, a Tropicool quer se posicionar como uma marca de superalimentos. O cardápio inclui bases de manga e coco, smoothies, snacks proteicos e até refeições prontas com proteína defumada e embalada a vácuo.
A ideia é disputar não só com redes de açaí, mas também com fast foods que surfam a onda saudável.
Há ainda o risco da padronização. O formato modular acelera a expansão, mas depende de processos bem estruturados para manter a qualidade. Para isso, a empresa criou um sistema de gestão digital que integra logística, treinamento e suporte.
A meta é fechar 2025 com pelo menos 60 unidades vendidas e alcançar 200 até o fim de 2027.
Nos bastidores, a empresa negocia parcerias em eventos e estádios, como o Allianz Parque, em São Paulo. A loja-escola na Bela Cintra, numa região central de São Paulo, já serve como espaço de testes e ativações.
Apesar dos riscos, a companhia aposta em crescimento acelerado.
“O que a gente fez foi pegar tudo o que não funcionava nas franquias tradicionais e criar algo mais direto, mais simples de tocar. Isso pode atrair um novo perfil de franqueado — mais executivo, menos operador”, diz Rafael.