Negócios

Como a dona de parques e hotéis de Gramado quer se recuperar de uma dívida de R$ 1,3 bilhão

Plano de recuperação judicial da empresa foi aprovado nesta segunda-feira pela maioria dos credores

Snowland: parque de neve da Gramado Parks é uma das principais atrações do grupo  (Divulgação/Snowland)

Snowland: parque de neve da Gramado Parks é uma das principais atrações do grupo (Divulgação/Snowland)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 8 de abril de 2024 às 15h51.

Tudo sobreRecuperação Judicial
Saiba mais

Quem entra em Gramado, na serra gaúcha, rapidamente é impactado por algum dos negócios do Grupo Gramado Parks. A rede de hotéis e parques temáticos é dona de atrações disputadas por turistas dali. A principal delas é a Snowland, um parque com neve artificial que faz o turista se sentir no polo norte ou sul. Há também parques aquáticos e resorts. 

A empresa, porém, passa por uma crise financeira que culminou numa recuperação judicial de cerca de 452 milhões de reais em dívidas. O processo é do início do ano passado. O montante poderia ser ainda maior, passando do 1,3 bilhão de reais, mas o processo de reestruturação só abraça algumas verticais do grupo. Os hotéis, por exemplo, não entraram na recuperação judicial

Na justificativa para pedir a reestruturação, a Gramado Parks alegou que as dificuldades econômico-financeiras começaram com os impactos da pandemia da covid-19. A empresa também alega que, por causa disso, precisou recorrer à captação de recursos, entre eles, a emissão de recebíveis imobiliários, os CRIs. A necessidade de bancar investimentos e manter a operação, porém, fez com que houvesse redução dos pagamentos desses recebíveis para a securitizadora, o que gerou um imbróglio judicial que intensificou a crise.

Agora, cerca de um ano após o início da reestruturação, porém, a empresa começa a se movimentar para sair da crise. Foi aprovado, nesta segunda-feira, 8, o plano de recuperação judicial da companhia. A proposta foi aceita por 98,5% dos credores presentes.  

"A ampla maioria na aprovação do plano representa um voto de confiança de seus credores, que acreditam no potencial de longo prazo da empresa e na sua relevância econômico-social no segmento de hospitalidade e entretenimento brasileiro”, disse em nota a diretoria da companhia, representada por Ronaldo Costa Beber e Anderson Caliari. 

O processo é conduzido pelo escritório Medeiros, Santos & Caprara Advogados e pela Tarvos Partners.

Qual é a história da Gramado Parks

A Gramado Parks é um dos principais grupos de hospitalidade e entretenimento do país. A empresa é da família fundadora do Café Colonial Bela Vista, o primeiro café desse estilo na turística cidade gaúcha. 

A família resolveu ampliar suas operações em 2012, quando Gramado descobriu que tinha águas termais. O plano foi pensar em novos projetos para aproveitar esse potencial turístico. O primeiro projeto, porém, não tem nada de quente. Pelo contrário. Em 2013, abrem o Snowland, um parque de neve indoor. No ano seguinte, consolidou as operações com a Gramado Parks.

A partir de 2018, a empresa passa a fazer, também, hotéis. Hoje, são três em Gramado: Buona Vitta Gramado, Bella Gramado e Exclusive Gramado. Se aventurou também na gastronomia,com os restaurantes Don Milo, Opiano, Signature e DonaLira. 

Hoje, a empresa tem também um parque aquático em Gramado e opera as rodas-gigantes Yup Star em Foz do Iguaçu, no Paraná, e no Rio de Janeiro.

Qual é a crise da Gramado Parks

Os primeiros sinais da crise da Gramado Parks começaram em março do ano passado, quando a empresa conseguiu na Justiça uma liminar para suspender o pagamento de suas contas por 60 dias. A partir de então, houve uma série de negociações judiciais que culminaram no pedido de recuperação judicial. 

A empresa, que estava numa toada de investimentos com abertura de novos hotéis e parques, disse que houve uma queda de demanda muito forte com a pandemia, o que balançou o caixa da operação. A saída foi emitir certificados de recebíveis imobiliários para fazer captação. Mas o dinheiro que entrava no caixa da empresa foi menor, em alguns momentos, do que o valor do recebível. A securitizadora, para garantir o investimento dos investidores que compraram os certificados, entrou na Justiça. Foi quando começou o processo que culminou na recuperação judicial. 

Nesse meio tempo, a securitizadora chegou a assumir a operação da rede, que depois voltou para os fundadores. Agora, com o plano aprovado, a empresa espera concluir sua recuperação e voltar a crescer, inclusive com a abertura de novos hotéis e parques.

Como a empresa quer se recuperar

O plano de recuperação judicial aprovado pelos credores nesta semana estima condições especiais de pagamentos para os credores, o que ajudará a dar fôlego para continuar operando e investindo em novas operações.

Para dívidas trabalhistas, a empresa fará pagamento integral em até cinco dias para aqueles casos vencidos nos quatro meses anteriores ao pedido de recuperação judicial e limitados a até cinco salários-mínimos. 

Já para a maioria dos credores, o pagamento será feito em 16 anos, com uma carência de dois anos para início dos acertos. Haverá também um deságio de 20% sobre o valor da dívida. Há também uma indicação de que, se as empresas pagarem tudo certinho nos oito primeiros anos, terão um desconto de 95% sobre o saldo restante da dívida. É o chamado bônus de adimplência. 

Como é comum numa recuperação judicial, também, a empresa oferece outra opção para esses credores. São as chamadas condições especiais.

Neste caso, como a empresa em si vende partes de hotéis, a condição especial é usar os créditos para pagar a entrada de novas aquisições nas operações. 

Por exemplo, poderá ser usado até 50.000 reais da dívida como pagamento da entrada do preço de aquisição de uma nova fração de multipropriedade oferecida no portfólio vigente das recuperandas. Ou até 20.000 reais para usar como diárias nos hotéis. Ou 2.500 reais para entrada de ingressos nas atrações do grupo. 

Haverá uma terceira opção, que é usar parte dos créditos para converter em ações da empresa. 

Por fim, fornecedores com dívidas de até 5 milhões de reais podem optar por receber com 40% de deságio em 12 parcelas iguais, sem juros, ou com 30% de desconto, mas em três anos. 

Para o advogado Laurence Medeiros, da MSC, o plano é bastante sólido "e dá segurança para a Gramado Parks seguir em sua jornada de reestruturação, garantindo entregas com cada vez mais excelência ao público que frequenta os hotéis e parques", afirma.

"É um grande passo. O grupo tem ativos fabulosos, uma história incrível e um futuro ainda mais promissor. Agora, começa um novo e maior capítulo para a empresa", diz Roberto Martins e Bento Ribeiro, sócios da Tarvos Partners, que assessora a Gramado Parks no trabalho de reorganização financeira e empresarial.

Acompanhe tudo sobre:Recuperação JudicialRio Grande do Sul

Mais de Negócios

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira

A força do afroempreendedorismo

Mitsubishi Cup celebra 25 anos fazendo do rally um estilo de vida

Toyota investe R$ 160 milhões em novo centro de distribuição logístico e amplia operação