Fábrica da Fiat: No Brasil, as duas montadoras competem em quase todos os segmentos em que atuam (Germano Luders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 30 de maio de 2019 às 08h00.
Última atualização em 30 de maio de 2019 às 09h55.
Em discussões para formar um dos maiores grupos automotivos do mundo, a italiana Fiat Chrysler Automotive (FCA) e a francesa Renault são concorrentes em quase todos seus mercados. Mas, juntas, as duas companhias podem impulsionar o desenvolvimento de carros elétricos - setor no qual a Fiat está muito atrasada em relação à concorrente - e buscar mais eficiência na produção para aumentar os lucros.
No mercado brasileiro, as duas juntas teriam uma participação de mercado estimada em mais de 27%, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Mas, no país, as duas competem em quase todas as categorias em que estão presentes. Ao considerar também as japonesas Nissan e Mitsubishi, parceiras da Renault há 20 anos, o páreo é ainda mais duro.
No segmento de carros de entrada, a Renault tem o Kwid e a Fiat, o Uno e Mobi. Em hatchs pequenos, Argo e Sandero são competidores, assim como o March da Nissan. Ao considerar os sedans, Senna e Cronos, da Fiat, enfrentam o Logan da Renault e o Versa da Nissan. Até em picapes as três se enfrentam, com os modelos Toro, Oroch e Frontier da Fiat, Renault e Nissan.
A diferença maior está com a marca Jeep, que está em um segmento de preço acima de outras marcas. "No Brasil, as empresas são competidoras diretas e não ganhariam diversidade com a união", diz Raphael Galant, consultor da Oikonomia Consultoria Automotiva.
O grande ganho da fusão para as montadoras está em outros mercados. Caso a união se concretize, a Renault poderá ter acesso a um mercado em que ela até agora não tem força, os Estados Unidos. A compra da Chrysler, em 2014, abriu o mercado americano para a Fiat, que chegou a um novo tamanho e patamar de vendas.
Outro mercado que deve ser afetado é o europeu. A União Europeia firmou um acordo para impor limites às emissões de CO2 dos automóveis. O objetivo é reduzir as emissões em 30% de 2021 a 2030. Para atender aos novos parâmetros, montadoras buscam melhorar a eficiência e alternativas aos combustíveis fósseis, como carros elétricos.
No entanto, a Fiat está atrasada na corrida do desenvolvimento de carros elétricos ou híbridos. A a Europa, Oriente Médio e Ásia representam 30% do volume e 20% do faturamento da companhia. Então, caso a companhia não desenvolva alternativas - e rápido - tem um grande problema pela frente.
O grande mistério é como a fusão deve afetar a Ásia, maior mercado do mundo e também o mais difícil de entrar. Renault e FCA têm uma participação muito pequena do mercado chinês. "Se a Nissan participar da aliança, a experiência dela no Japão pode ajudar as companhias na China", diz Galante.
O grande ganho das duas empresas pode ser com os cortes de custo, tanto na produção quanto nas divisões operacionais e de back office, como marketing, recursos humanos, vendas e outros. “A operação faz sentido ao considerar os grandes ganhos com a escala das duas montadoras, não ao pensar em ganho de mercado. O negócio não é sobre vender mais, mas sobre como obter mais rentabilidade e lucro”, afirma o consultor da Bright Consulting, Paulo Cardamone.
No entanto, ainda que as parcerias comerciais para ampliar a presença global das duas montadoras sejam desenhadas assim que a fusão foi fechada, outras integrações ainda devem demorar para acontecer. Os lançamentos de novos carros para os próximos anos já estão planejados e em desenvolvimento. Assim, pode levar anos para que as duas montadoras pensem em plataformas de produção integradas e, assim, cortem custos.
Por participarem dos mesmos mercados e com veículos semelhantes, as duas concorrentes têm muito a ganhar com a união.