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Como a brasileira Kokku entrou na elite dos games após quase ir à falência

Empresa do Recife é a única do Brasil que participa da produção de jogos com os maiores orçamentos do mercado

Horizon Zero Dawn: o game que mudou a história da Kokku (Divulgação/Divulgação)

Horizon Zero Dawn: o game que mudou a história da Kokku (Divulgação/Divulgação)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 07h27.

Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 08h14.

Se pudesse resumir as trajetórias de Thiago de Freitas, Alberto Lopes e Manoel Balbino em apenas uma palavra esta seria: persistência. Os sócios da Kokku quase viram sua empresa falir. Mas depois de conseguirem levantar o dinheiro para pagar as dívidas e fechar as portas, mudaram de ideia, reinvestiram tudo e resolveram recomeçar. Hoje, a Kokku é a única brasileira que participa da produção de games conhecidos como triple A, que tem os maiores orçamentos da indústria e, em meio à pandemia, deve triplicar a receita neste ano. Em seu portfólio, estão sucessos como Horizon Zero Dawn, games da franquia Sniper Ghost Warrior.

Com sede em Recife, a Kokku surgiu em 2011 na tentativa de fazer uma joint venture com a editora Abril para lançar um projeto ambicioso. “A intenção era fazer com que uma revista em quadrinhos se tornasse um jogo em que as empresas pudessem fazer anúncios dentro dele. Duraram mais de 2 anos para desenvolvê-lo, mas com a morte de Roberto Civita, alguns projetos foram cancelados e o nosso foi um deles”, lembra Thiago Freitas, presidente da Kokku.

Sem poder lançar o game de forma independente por questões contratuais e sem receita para pagar os gastos recorrentes, o endividamento da Kokku explodiu. A opção que restou foi oferecer serviços para conseguir arcar com as dívidas e a Copa do Mundo que seria realizada no Brasil foi sua grande oportunidade.

“Fizemos um chão interativo para que os convidados da área vip pudessem jogar bola. Mas em vez de pegar o dinheiro do projeto para pagar as contas e fechar o estúdio, investi todo o dinheiro novamente, remontei a equipe e comecei a mirar o mercado internacional que era o meu desejo”, conta.

O recomeço, porém, não foi fácil. Além de serem totalmente desconhecidos, o idioma era outra barreira. “Comecei a viajar para fora do país, mas eu nem falava inglês. Às vezes me enrolava, falava besteira para o cliente.”

Depois de um tempo rodando mundo a fora, o dinheiro foi diminuindo e o fantasma da falência voltou a bater à porta. Já em 2016, sem ter conseguido grandes projetos, Freitas resolveu fazer aquela que seria sua última viagem internacional me busca de clientes. Foi quando a história da Kokku cruzou com a da desenvolvedora holandesa Guerrilla, dos games Killzone. “Eles gostaram muito de nossa empresa, até pelo fato de sermos brasileiros e resolveram nos colocar no projeto que seria o mais audacioso de 2017.”

A intenção dos holandeses era contratar a Kokku para fazer a arte de Horizon Zero Dawn, que seria lançado com exclusividade para o Playstation 4. No entanto, nem Freitas nem os membros de sua equipe sabiam fazer o trabalho proposto. “Mas eu disse que se nos dessem a chance, nós tentaríamos e conseguiríamos”, afirma. A chance foi dada e depois de muita insistência, a missão foi cumprida. Com mais de 10 milhões de vendas no mundo todo, o jogo é até hoje um dos maiores sucesso do console. “Foi a partir daí que tudo virou do avesso e deixamos de ser uma empresa quase falindo”, recorda Freitas.

Os frutos do trabalho não demoraram para aparecer e a empresa passou a ser contatada para fazer parte de games de outras desenvolvedoras, como a Ci Games e WB Games. No ano seguinte, a Kokku conseguiu investimentos da Finep e dos Anjos do Brasil, o que possibilitou a mudança do estúdio de um local de cerca de 100 m² para um prédio só deles, de 900 m². Com mais recursos, a empresa também conseguiu fazer mais contratações, passando de 15 funcionários para mais de 100.

Além dos trabalhos de arte, a Kokku estendeu sua atuação para partes mecânicas dos jogos, do conserto de algumas falhas técnicas até o desenvolvimento do zero. Foi assim que surgiu a parceria com a Ci Games, da franquia dos games Sniper Ghost Warrior. “O terceiro jogo deles estava com problemas e fizemos um trabalho tão bom que fomos convidados para atuar no jogo seguinte da franquia. Algumas empresas veem a dificuldade e param para perguntar como faz. A gente já volta com a solução e pergunta se pode seguir por esse caminho”, comenta Freitas.

Agora, a Kokku se prepara para iniciar aquele que promete ser o maior trabalho da história da empresa. Ainda sem poder revelar qual será o jogo, Thiago de Freitas afirma: “é seguro dizer que é uma das 5 maiores franquias”.

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