Fábrica da Bonduelle na Europa: empresa busca agora os emergentes (Divulgação/Bonduelle)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2010 às 09h20.
São Paulo - No próximo dia 26, o grupo francês Bonduelle vai inaugurar uma nova fase no Brasil. Após 15 anos atuando apenas por meio de exportações, a empresa colocará em funcionamento sua primeira fábrica no país - e a 43º em todo o mundo. Os planos são ambiciosos: quintuplicar sua participação de mercado em cinco anos, atingindo 15% do ramo de enlatados.
Com quase 160 anos de existência, a Bonduelle cresceu focada no mercado europeu, que responde por 75% de suas vendas. Somente a França foi responsável por 35% delas. Mas o problema é exatamente este: sim, a Europa ainda não se recuperou da crise mundial que eclodiu em 2008. E, sim, a França é aquele país que vem sendo sacudido, nas últimas semanas, por estudantes e trabalhadores contrários a reformas econômicas.
A estagnação europeia teve um impacto direto sobre o desempenho da Bonduelle. No exercício fiscal de 2009/2010, a companhia faturou 1,560 bilhão de euros. A cifra é apenas 2,36% maior que a do ano fiscal anterior, de 2008/2009.
Novo mundo
Se a empresa quiser acelerar o crescimento, precisa encontrar mercados mais promissores. E é aí que entra o Brasil, impulsionado pela já famosa classe média emergente.
É claro que a decisão de construir uma fábrica não é tomada de um dia para o outro. A matriz aprovou o projeto no final de 2007. As obras começaram um ano depois e, agora, a planta está pronta para iniciar a produção. Mas o cenário atual não se alterou em relação aos últimos anos, e o Brasil continua estratégico para o grupo.
“O Brasil tem um grande mercado consumidor”, afirma o diretor industrial da Bonduelle do Brasil, José Alves Neto, responsável pela instalação da fábrica. O investimento total no país será de aproximadamente 120 milhões de reais. Nesta primeira fase - a construção e inauguração da empresa -, foram consumidos 40 milhões para a instalação da linha de enlatados vegetais.
A segunda fase, ainda sem prazo para começar, consumirá mais 40 milhões de reais para iniciar a produção de vegetais congelados. Por fim, a última etapa demandará o mesmo montante para preparar a unidade brasileira para exportar para os Estados Unidos e a Europa.
Quando todas as etapas forem cumpridas, a Bonduelle do Brasil estará processando 50.000 toneladas anuais de vegetais. A fábrica que será inaugurada na próxima semana tem capacidade para um terço disso. “Queremos até 15% de participação, somente em enlatados, dentro de cinco anos”, afirma Alves Neto. Estima-se que apenas esse mercado movimente 300.000 toneladas por ano.
Todas as classes
Enquanto se limitava a importar os produtos da Europa, a Bonduelle atendia a consumidores de maior renda. Mas a fábrica local servirá para popularizar a marca, atraindo também compradores de outras camadas. “Vamos disputar o mesmo mercados dos concorrentes brasileiros”, diz Alves Neto.
Não será uma tarefa fácil. No caminho da Bonduelle, estão rivais com marcas fortes e bem posicionados no mercado. Um deles é a Brasfrigo, que conta com as marcas de enlatados vegetais Jurema e Jussara. Outra é a gigante Hypermarcas, maior empresa de bens de consumo do país e dona de marcas como a Etti.
Isso, contudo, parece não intimidar os franceses. “A Bonduelle possui uma tradição de mais de 150 anos nesse mercado”, afirma Alves Neto. “Temos tecnologia para oferecer produtos de qualidade, com um custo menor.”
Quando os primeiros lotes fabricados no Brasil chegarem aos distribuidores e varejistas, no início do próximo mês, a Bonduelle pretende também colocar na praça uma campanha de divulgação da marca, cujo orçamento ainda não está definido. “O peso global do Brasil é crescente”, diz o executivo. Mas só os próximos anos dirão se a estratégia da empresa fará com que esse peso seja refletido também nas vendas do grupo.