(Alexandre Battibugli/Site Exame)
João Pedro Caleiro
Publicado em 29 de novembro de 2017 às 12h33.
Última atualização em 29 de novembro de 2017 às 17h04.
São Paulo — O EXAME Fórum Sustentabilidade, realizado nesta quarta-feira (29) em São Paulo, convidou três empresas para apresentar suas experiências em conciliar lucro e impacto social — Vivenda, Coca-Cola e Danone. Seus relatos são inspiradores e mostram que ações sociais e ambientais podem, sim, ser lucrativas.
"Um problema social gigantesco, um mercado gigantesco e uma lacuna de mercado gigantesca". Foi assim que Fernando Amiky Assad, membro da rede de Responsible Leaders da Fundação BMW e Fellow Ashoka, resumiu a precariedade na habitação de 40 milhões de famílias brasileiras.
O pontapé inicial para seu projeto envolveu conviver com cinco famílias por 6 meses em uma favela na Zona Sul de São Paulo para entender quais eram suas dificuldades ao realizar reformas.
Na lista estavam a dificuldade de planejamento e a falta de acesso aos materiais, à mão de obra qualificada e a mecanismos de crédito — já que são pessoas, em geral, excluídas do setor financeiro.
A solução encontrada foi oferecer kits de reforma prontos por 5 mil reais em parcelas de até 30 vezes com início a partir de 100 reais. "Não tem tecnologia da NASA. É colocar revestimento, impermeabilizar paredes, coisas muito simples", disse Fernando.
A meta é concluir 1.000 reformas no período entre janeiro de 2017 e junho de 2018 e ganhar ainda mais escala ao longo do tempo. O público potencial é de 40 milhões de pessoas que vivem em habitações precárias e podem se beneficiar enormemente das reformas.
Para ser uma marca relevante, não basta estar na casa das pessoas. É preciso gerar impacto real na vida delas. Esse foi o insight que levou a Coca-Cola a iniciativas de valor compartilhado.
"A grande virada é quando a gente pensa: 'As agendas são excludentes?' Não. Elas podem e devem ser convergentes", disse Flávia Neves, gerente de sustentabilidade e relações institucionais da empresa.
Para conciliar impacto no negócio com impacto na sociedade, a Coca-Cola foi atrás de jovens em comunidades carentes que pudessem ser capacitados para trabalhar no varejo.
Foram utilizadas estruturas pré-existentes nas comunidades para a aplicação de treinamentos. Depois, os jovens são empregados na ampla rede de parceiros da Coca-Cola, que inclui empresas como Walmart e Cinemark.
“Volta como lucro para a Coca-Cola sim, e não tenho vergonha de dizer isso. O modelo precisa do lucro para ficar em pé”, diz Flávia.
Ela também citou uma iniciativa ambiental no Espírito Santo, um dos grandes fornecedores de frutas da empresa e que passava por um grande estresse hídrico.
Um sistema de controle automatizado da terra e de comunicação com fazendeiros para irrigação permitiu uma economia de água de cerca de 30%, segundo Flávia.
Outro projeto exigiu passar por cima de vaidades. Uma agenda de reciclagem foi elaborada em parceria com Ambev, Nestlé, Unilever e Natura. Essa união de empresas trouxe ganho de escala e impacto social muito maior do que se cada uma continuasse agindo individualmente.
Ligia Camargo, executiva responsável pela área de sustentabilidade da Danone, apontou que a ideia de impacto social é antiga na Danone e foi considerada na própria definição do portfólio de produtos.
Além disso, a empresa tem fundos de investimento social e parcerias com uma série de organizações que vão do Sebrae à Cruz Vermelha.
O principal projeto apresentado foi uma parceria com o Grameen Bank e seu fundador, Muhammad Yunus – vencedor do Prêmio Nobel em 2006 – para criação e distribuição de um produto nutritivo.
Além de criar empregos, a fabricação do produto considerou também o cuidado com o meio ambiente na criação da embalagem e no uso de energia solar.