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Entenda por que 2021 foi um pesadelo para os fabricantes de carros

Presidente da Anfavea prevê recuperação para segunda metade de 2022 e custos elevados para os consumidores

Luis Carlos Moraes, presidente da Anfavea: "Será um desafio fechar este ano” (Anfavea/Divulgação)

Luis Carlos Moraes, presidente da Anfavea: "Será um desafio fechar este ano” (Anfavea/Divulgação)

GA

Gabriel Aguiar

Publicado em 6 de outubro de 2021 às 19h33.

Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 20h06.

Existe fila de espera para comprar carros zero-quilômetro e, mesmo assim, o mercado deverá continuar igual ao ano passado — quando estava no auge da pandemia de covid-19 e com economia desacelerada. Por quê? Pela falta de componentes para produção. E nem pense que isso é exclusividade brasileira: os mercados globais também devem continuar no patamar de 2020 (e pelo mesmo motivo).

“Toda a cadeia global de produção está distorcida e temos surpresas todos os dias. Está muito difícil e já tivemos nevasca, falta de água, incêndios e a própria pandemia. E existe bagunça até mesmo em relação aos contêineres. Por isso mesmo, não quisemos cravar um número, porque tudo pode acontecer, desde a queda de 1% até crescimento de 3%”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

E olha que essa atual estimativa está bem abaixo da previsão anunciada pela associação dos fabricantes, divulgada em julho deste ano, que previa mais de 2,4 milhões de emplacamentos. Ou seja, crescimento de quase 400.000 unidades em relação ao ano passado. Só que a crise de semicondutores atingiu até as empresas que pareciam menos expostas — como a Fiat — e atrasou a retomada para 2022.

Como resultado, o executivo não descarta a possibilidade de novas paralisações das linhas de produção, suspensão dos contratos de trabalho e até mesmo demissões nos próximos meses. “Existe todo esforço para garantir volume suficiente para o mercado interno e externo, mas o risco de novas paradas é alto e todos os dias enfrentamos novas emoções. Será um desafio fechar este ano”, diz Moraes.

É claro que, com tantas dificuldades na produção, também há reflexos no bolso do consumidor — já que essa é uma indústria baseada no volume para amortizar custo. E se os aumentos bem acima da inflação pareciam uma alternativa para superar esse momento de dificuldade, de acordo com as estimativas da própria Anfavea, deverão se tornar o novo patamar do nosso mercado nos próximos anos.

“Temos alta carga tributária, aumento dos custos e baixo volume. Essa é uma combinação complicada. Eu acho que é um desafio, ainda que seja a decisão de cada fabricante, porque só volume traz eficiência. Na tentativa de manter a produção, existe desde logística por avião até jornada adicional de trabalho, o que tem reflexos. Não vejo possibilidade de redução de preços a curto prazo”, diz Moraes.

Pelo menos já existe uma luz no fim do túnel em relação ao fornecimento de componentes, que deverá continuar crítico até o fim deste ano, com sinais de recuperação no primeiro trimestre do próximo ano e estabilidade prevista para a segunda metade de 2022. Também há expectativa em relação ao aumento das exportações, principalmente a países da América Latina, como Chile, Colômbia e Peru.

Todo esse processo era esperado pela indústria automotiva, que previa até quatro anos de recuperação após a pandemia da covid-19 — algo também previsto para outros países. No caso específico do Brasil, o maior perigo está nas questões macroeconômicas que poderão afetar nossa economia no próximo ano, como aumento de desemprego, taxa de juro e inflação (e que reduzem poder de compra).

“Já pensávamos no tempo que levaria para melhorar, mas não pensamos que seria tão dramático. É um desafio para a economia como um todo e não apenas para a indústria automotiva. Nosso PIB deve subir 5%, mas se recuperando do tombo em 2020. No ano que vem, deve ser 1% ou até abaixo disso. Primeiro desafio será equilibrar a produção; depois, captar demanda neste cenário”, diz o executivo.

Por esse motivo, o presidente da Anfavea vê com maus olhos o aumento da Selic (taxa básica de juro), que deverá chegar a dois dígitos nos próximos meses, já que acaba refletindo também no CDC, principal ferramenta de financiamento de veículos no país e responsável por cerca de 50% das negociações. Para o executivo, a melhor solução é adiantar a reforma tributária para reduzir o “custo Brasil”.

“Unificar os impostos tende a facilitar a vida das empresas, porque a quantidade de cálculos, relatórios e interpretações é absurda. Mas precisamos ter a certeza de que créditos serão reembolsados de maneira simplificada. Porque, até agora, existe o conceito. Nossa indústria já tem uma das cargas tributárias mais elevadas do mundo. Se não mudar, perderemos mais uma chance de resolver isso”, afirma.

 

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