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Combate à dentadura: Neodent, líder em implantes, aposta em impressão 3D

Com metade do setor de implantes no portfólio, a Neodent comprou uma startup especializada em impressão 3D e vai abrir nova fábrica em Curitiba

Molde dentário: impressão 3D pode ajudar na impressão de moldes e aparelhos, barateando os tratamentos dentários (Wutthichai Luemuang / EyeEm/Getty Images)

Molde dentário: impressão 3D pode ajudar na impressão de moldes e aparelhos, barateando os tratamentos dentários (Wutthichai Luemuang / EyeEm/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 5 de novembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 5 de novembro de 2019 às 07h00.

As impressoras 3D estarão cada vez mais presentes na vida dos dentistas brasileiros. A Neodent, líder em implantes dentários no Brasil, acaba de adquirir a startup especializada em impressão 3D de resinas dentárias Yller Biomateriais, de Pelotas, no Rio Grande do Sul, conforme divulgado em primeira mão a EXAME.

Fundada em 1993 no Paraná, a Neodent responde por mais de metade do mercado de implantes no Brasil e ajudou a popularizar o processo, que há 20 anos era muito menos acessível. A empresa pertence hoje ao grupo suíço Straumann, que comprou a empresa do dentista brasileiro Geninho Thomé por 1,2 bilhão de reais em 2015.

O alemão Matthias Schupp, vice-presidente do grupo Straumann na América Latina e presidente da Neodent desde 2015, aponta que a Yller é um "complemento perfeito" para o portfólio da Neodent e vai reduzir o tempo de tratamento e os custos do processo, tornando o tratamento mais acessível.

O valor da negociação não foi revelado. Com a aquisição, a Neodent espera alavancar sua linha de impressão 3D, um serviço que já oferece aos laboratórios, clínicas e dentistas, mas que pretende aprimorar com a nova parceria. No futuro, a Neodent espera poder exportar os produtos da Yller para os mais de 60 países onde atua.

Os implantes dentários não são diretamente feitos em uma impressora 3D. Mas essa tecnologia ajuda, por exemplo, na criação de moldes mais precisos e de aparelhos dentários. A Yller também atua em pesquisa e desenvolvimento, o que a Neodent espera ajudar na criação e aperfeiçoamento de novos produtos.

“A aquisição nos oferece uma enorme oportunidade de expansão de portfólio e desenvolvimento do mercado com tecnologia de ponta e troca de experiências", diz o Fabrício Ogliari, presidente e fundador da Yller. Ogliari é dentista e atua há quase uma década como professor na Universidade Federal de Pelotas, com especialização em biomateriais, polímeros e nanotecnologia, conhecimentos que usou para fundar a Yller. Apesar da compra, a startup funcionará de forma independente da Neodent e continuará baseada em Pelotas. 

Embora pertença ao grupo Straumann, a própria Neodent também tem operação independente -- as duas empresas atuam em segmentos um pouco diferentes, com os produtos importados da Straumann sendo, no geral, mais caros.

O grupo fatura como um todo 120 milhões de dólares no Brasil (mais de 480 milhões de dólares). O grupo Straumann é um gigante mundial, com capital aberto na Suíça e faturamento de 1,4 bilhão de francos suíços no ano passado (ou 5,5 bilhões de reais).

Matthias Schupp, presidente da Neodent: expectativa de fechar 2019 com crescimento de dois dígitos (Neodent)

Brasil, o país dos implantes

O Brasil é o segundo maior mercado de implantes dentários do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Anualmente, a Neodent estima que são colocados no Brasil mais de 2 milhões de implantes dentários por ano.

Desde a compra pelo grupo Straumann, a Neodent se internacionalizou, estando hoje presente em países como Chile, Argentina, Colômbia, México, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Itália, Alemanha e Canadá.

Mas mesmo dentro do Brasil, ainda há muito a avançar. As estimativas, segundo a empresa, são de que mais de 8 milhões de brasileiros não tenha nenhum dente sequer na boca, resultado de pouco acesso a higiene bucal e a profissionais de saúde. "O Brasil tem uma combinação de um mercado grande, mas, ao mesmo tempo, com pessoas que infelizmente não tiveram um tratamento dentário adequado ao longo da vida", diz Schupp.

O mercado é ainda altamente fragmentado. Segundo a associação da indústria de equipamentos médicos (Abimo), só 11% das empresas que atuam no segmento de equipamentos médicos e odontológicos fatura mais de 50 milhões de reais, com a maior parte das companhias sendo de pequeno ou médio porte, com faturamento de até 6 milhões. O braço de instrumentos e materiais de uso médico e odontológico movimentou 8,5 bilhões de reais no Brasil em 2018.

O preço de um implante dentário varia a depender do material usado (que pode ser nacional ou importado) e da quantidade de dentes. O valor começa em torno de 800 reais, mas pode passar de 16.000 reais se o material for importado.

A Neodent consegue vender seus produtos a um preço menor que os importados por produzir seus materiais de implante em Curitiba, no Paraná, onde tem uma fábrica com capacidade para fabricar mais de 1 milhão de implantes por ano.

Ao sair da fábrica, os produtos -- que vão de aparelhos eletrônicos a moldes, resinas e implantes em si -- chegam aos clientes por meio de 17 lojas próprias que a empresa tem no Brasil. Além disso, são mais de 300 vendedores que ficam em contato direto com dentistas e clínicas, tanto para as vendas quanto para entender as demandas dos clientes.

A empresa investiu 300 milhões de reais no Brasil para construir uma segunda planta, também em Curitiba, que será inaugurada em janeiro de 2020. "A primeira fábrica já estava operando no limite da capacidade devido à alta demanda, o que nos deixa muito felizes", diz Schupp.

Para os próximos anos, uma das principais apostas da Neodent é na linha de alinhadores transparentes, que vêm sendo preferidos pelos consumidores ante os aparelhos de metal, menos agradáveis esteticamente -- um segmento no qual a tecnologia de impressão 3D também poderá ajudar.

Embora a economia custe a voltar a engrenar no Brasil, a empresa espera fechar 2019 com crescimento de dois dígitos. E mais deve vir com a nova fábrica no ano que vem. "Os investimentos mostram como o mercado brasileiro é importante para nós", diz Schupp.

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