Paçoquita; marca olha para público fitness com produto com whey protein (Santa Helena/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 06h00.
Última atualização em 28 de janeiro de 2022 às 09h49.
Que tal uma paçoca antes de começar sua prática de esportes? Prestes a completar 80 anos, a Santa Helena, indústria alimentícia dona da marca Paçoquita, tem buscado formas de ampliar as ocasiões de consumo de seus produtos e se manter conectada com as necessidades do consumidor. Uma das frentes para isso é o maior contato com o público preocupado com a saúde. No ano passado, a marca laçou a Paçoquita Esportes, produto sem açúcar, com 24% de whey protein e 65% de amendoim, que superou as expectativas de vendas em 90%.
“Vivemos um momento disruptivo na companhia, em que nos desafiamos a fazer diferente para melhorar os resultados e nos mantermos atentos às tendências de mercado. Sabemos que aquilo que fizemos nos últimos 80 anos não necessariamente garante o crescimento no futuro”, afirma César Augusto Pezzotti, gerente executivo de controladoria da Santa Helena.
As iniciativas para se manter conectada ao presente têm dado certo. Maior empresa de produtos de amendoim do país, a Santa Helena fechou 2021 com receita de 800 milhões de reais, 23% a mais que os 650 milhões de reais de 2020. Parte do bom desempenho se deve a novidades como a Paçoquita Esportes.
Além dela, no ano passado a empresa lançou também uma nova versão do amendoim Mendorato, com 40% menos sódio, ainda com foco no público em busca de uma alimentação mais saudável. E lançou ainda a Paçoquita Lovers, de chocolate com avelã, cujo sabor foi escolhido pelos clientes por meio das redes sociais. O produto superou a expectativa de vendas em 200%.
“A inovação é um ponto importante para a companhia, e nesse caso tivemos essa dinâmica fora do tradicional, de trazer a colaboração do consumidor”, diz Danilo Leão, gerente de marketing da Santa Helena.
Outro foco no ano foi ampliar os momentos de consumo de seus produtos. A paçoca é muito relacionada às festas juninas, época em que ocorre a maior parte do seu consumo anual. Em 2021, a Paçoquita firmou parcerias para colocar o doce de amendoim como opção também em outras épocas do ano.
Uma das parcerias foi com a fabricante de chocolates Cacau Show, com o ovo de pascoa com Paçoquita. A outra, com a doceria Casa Suíça, colocou Paçoquita cremosa no panetone. “Essas parcerias nos colocam em outras sazonalidades de consumo, a paçoca deixa de ser algo só do período junino e passamos a ter espaço também na Pascoa e no Natal”, diz Leão.
Para 2022, a empresa pretende ampliar a estratégia de parcerias. Também está realizando um estudo para entender melhor o consumidor da marca Cuida Bem, de produtos mais saudáveis. O levantamento deve direcionar decisões estratégicas para a marca. “Essa é uma linha estratégica para o nosso negócio, tendo em vista as tendências de consumo, e estamos buscando entender como atender melhor esses consumidores”, afirma Leão.
O consenso no setor é de que há espaço -- e muito -- para ampliar o consumo de amendoim no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o brasileiro consome em média 1,1 kg de amendoim por ano. Nos Estados Unidos esse consumo é de 7 kg por ano e, na China, chega a 12 kg por ano. A média mundial é de 6 kg de amendoim ao ano.
“Existe um potencial enorme de crescimento do consumo de produtos feitos de amendoim e as indústrias têm procurado desenvolver novos produtos e opções mais acessíveis ao consumidor final”, afirma Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab.
Os dados mostram que o consumo de produtos industrializados feitos com amendoim vem crescendo no Brasil. De julho de 2020 a junho de 2021, esses produtos estavam em 11,4 % dos lares brasileiros, um crescimento de 8,6% na comparação com o período aanterior. Já o faturamento da indústria com os snacks salgados de amendoim teve crescimento de 13,8% no mesmo período.
Para chegar a mais clientes, a indústria tem recorrido a embalagens menores, com foco no consumo rápido, para os momentos de deslocamento do consumidor. A tendência está no radar da Santa Helena. “Estamos atentos para preencher lacunas de ocasiões de consumo, e buscando ajustar gramaturas e nos posicionar melhor em preço”, afirma Leão.
O crescimento do setor no Brasil esbarra, contudo, na disponibilidade do amendoim. “Um dos desafios do setor é aumentar a área plantada. Tudo o que é produzido é vendido, a demanda existe”, afirma Fonseca.
Fundada em 1942, a Santa Helena é hoje a maior fabricante de produtos com amendoim do país. A empresa compra cerca de 40% de toda a safra brasileira do produto, sendo que 25% vai para sua produção e 15% são revendidos. A empresa tem uma fábrica em Ribeirão Preto (SP), 1.200 funcionários, e cerca de 150 produtos no portfólio, como amendoim, paçoca, pé de moleque, pasta de amendoim, barra de castanhas, dentre outros. Além do Brasil, os produtos são vendidos em outros oito países da América Latina, Europa e Ásia.
Nos últimos dez anos, a Santa Helena vem fazendo mudanças em sua gestão, para tornar-se mais profissionalizada. Em 2011 criou um conselho de administração e passou a reforçar sua governança. Em 2020, Renato Fechino, da família fundadora, deixou a presidência da companhia e passou a atuar apenas no conselho de administração. Em seu lugar assumiu o executivo Renato Feliz Augusto, que antes ocupava a cadeira de vice-presidente de marketing, vendas e operações.