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Com queda na demanda, Gol e Azul reduzem voos domésticos em 90%

Voos internacionais já haviam sido cortados ou reduzidos. Empresas recomendam que clientes remarquem as viagens

Gol: queda na demanda por viagens em meio ao coronavírus (Dado Galdieri/Bloomberg/Getty Images)

Gol: queda na demanda por viagens em meio ao coronavírus (Dado Galdieri/Bloomberg/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 24 de março de 2020 às 09h06.

Última atualização em 24 de março de 2020 às 15h18.

Após reduzirem seus voos internacionais, as companhias aéreas brasileiras Gol e Azul anunciaram que vão cortar também o número de voos domésticos. O anúncio foi feito nesta terça-feira, 24.

A Gol, que já tinha cancelado todos os voos internacionais, disse em nota que está fazendo uma "readequação" da malha doméstica a começar pelo próximo sábado, 28. As mudanças duram até 3 de maio. Neste período, somente as operações em capitais serão mantidas. A malha nos próximos meses terá 50 voos diários, conectando todos os estados brasileiros ao aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP). O limite de conexões também vai aumentar para não prejudicar a ligação entre as cidades.

Já a Azul espera operar a partir de quarta-feira, 25, voos para apenas 25 cidades. A empresa já havia reduzido seu número de voos internacionais há algumas semanas. Também foram feitos cortes nos custos de operação, com 7.500 funcionários no programa de licença não-remunerada (mais da metade da força de trabalho). Os salários foram reduzidos em 50% para diretoria e em 25% para gerentes.

"Acompanhando a desaceleração que estamos vendo na economia brasileira, estamos adotando medidas imediatas para reduzir nossos custos, e preservar nossa posição de caixa", disse em comunicado aos investidores o presidente da Azul, John Rodgerson, em nota publicada nesta terça-feira.

A Gol informa que, com as mudanças, terá reduzido sua oferta de voos domésticos em 92%. A redução na Azul é da ordem de 90%.

As empresas sugerem que os clientes remarquem as viagens e dizem que não cobrarão taxa de alteração nas passagens, com exceção de alguns períodos, como em alta temporada. As aéreas recomendam que as dúvidas e procedimentos sobre as passagens sejam tiradas no site (neste link para Gol e neste link para Azul) e em outros canais digitais, para evitar aglomerações em espaços físicos.

No mercado doméstico, a Gol é líder com 37,7% de participação de mercado. Em seguida estão Latam, com 34,7%, e Azul, com 23,6%, segundo dados do acumulado de 2019 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). 

Aéreas em crise

A decisão de cancelar boa parte dos voos dentro do Brasil surge em meio "à nova demanda por transporte aéreo em tempos de isolamento domiciliar e distanciamento social", diz a Gol em nota.

Embora o avanço dos casos de coronavírus impactou pouco a empresa em fevereiro, data dos últimos números de oferta e demanda divulgados. Contudo, em nota posterior aos acionistas em 16 de março, a Gol escreveu que "nsses últimos dias, houve um declínio mais significativo na demanda em todo o mercado de viagens aéreas no Brasil."

No Brasil, há pelo menos 1.891 casos e 34 mortes pela Covid-19, segundo o último boletim do Ministério da Saúde, na noite de segunda-feira, 22. Até agora, o governo brasileiro não emitiu nenhuma restrição de deslocamento de pessoas dentro do país. Contudo, alguns estados vem paralisando operações comerciais e mantendo abertos somente estabelecimentos essenciais, o que diminui a necessidade de deslocamento pelo país.

A queda na procura por voos domésticos em março apontada pela Gol vêm sobretudo de uma tendência de menor atividade de viagens corporativas, como mostrou reportagem anterior da EXAME. As viagens corporativas representam boa parte do faturamento recorrente das companhias aéreas. Com muitas empresas em trabalho remoto e cancelando viagens de executivos diante da pandemia, a demanda sofreu, mesmo nos mercados domésticos. Eventos corporativos como feiras também foram todos cancelados.

A redução de viagens corporativas pode, inclusive, continuar acontecendo mesmo após o fim do pico do coronavírus, com empresas tentando enxugar custos em meio às perspectivas de recessão global.

No começo da crise do coronavírus, em fevereiro e começo de março, havia a expectativa de que empresas como Gol e Azul, nas quais a maior parte da receita vem de voos dentro do Brasil, estariam mais protegida em relação aos impactos do coronavírus. Na prática, a conta chegou para todos. 

As ações das aéreas vêm sendo especialmente penalizadas. Os papéis da Gol caíram 77,8% no último mês, entre 26 de fevereiro e o pregão de segunda-feira. A ação foi de 30,90 no fim de fevereiro a 6,86 reais no fechamento do último pregão, com valor de mercado de 2,44 bilhões de reais. O anúncio sobre a redução dos voos nacionais foi feito antes da abertura do mercado nesta terça-feira.

As concorrentes brasileiras Azul e Latam também viram queda no valor de seus papéis. A ação da Azul caiu 73% desde 26 de fevereiro e a Latam, que tem capital aberto no Chile, teve queda de 70%.

Além de Gol e Azul, a Latam também reduziu sua operação em março. A companhia é a aérea operando no Brasil com mais exposição ao mercado internacional, e anunciou em 16 de março redução de 70% na operação (90% nos voos internacionais e 40% nos domésticos nos países em que opera).

*A matéria foi atualizada para incluir a redução nos voos da Azul. 

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