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Com novas cheias, startup que arrecadou R$ 76 milhões nas enchentes reabre vaquinha para ajudar o RS

Com previsão de mais chuvas e risco de nova cheia do Guaíba, Vakinha relança campanha solidária para apoiar cidades afetadas

Luiz Felipe Gheller, CEO da Vakinha: "Uma campanha que não queríamos criar”

Luiz Felipe Gheller, CEO da Vakinha: "Uma campanha que não queríamos criar”

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 26 de junho de 2025 às 16h47.

Última atualização em 26 de junho de 2025 às 16h57.

Um ano depois de mobilizar o país com a maior campanha solidária já realizada na internet brasileira, a plataforma Vakinha, criada em Porto Alegre, reabriu a iniciativa SOS Enchente RS para arrecadar doações às vítimas das novas chuvas no estado.

A campanha mira a assistência direta a pessoas desalojadas e apoio logístico para ONGs e coletivos civis que atuam nas áreas atingidas.

A tragédia que se repete agora já deixou mais de 6 mil pessoas fora de casa, segundo a Defesa Civil. E a situação pode piorar nos próximos dias. A previsão para este fim de semana (28 e 29 de junho) indica chuvas entre 100 e 140 milímetros em regiões como Serra Gaúcha, Passo Fundo e parte da região metropolitana de Porto Alegre — onde o Guaíba pode ultrapassar novamente a cota de inundação.

O alerta é de que os rios ainda em cheia no interior empurrem o volume para a capital — um cenário parecido com o de maio de 2024, mesmo que em proporção menor.

“Infelizmente, um ano depois da tragédia que assolou nosso estado, estamos aqui de novo buscando contribuir com nossa comunidade. Uma campanha que não queríamos criar”, afirma Luiz Felipe Gheller, CEO da Vakinha.

Como é a nova vaquinha

A nova edição da SOS Enchente RS segue o mesmo modelo usado no ano passado, quando a plataforma arrecadou R$ 76 milhões com mais de 1 milhão de doadores. Foi a maior campanha da história da Vakinha — e também a maior operação emergencial já feita pela startup desde sua fundação, há 15 anos.

Em 2024, os recursos foram destinados a cestas básicas, combustível para barcos de resgate, kits de higiene, atendimento veterinário e distribuição de água potável. Este ano, a Vakinha afirma que está pronta para repetir o modelo, com as mesmas premissas: agilidade na liberação de recursos e transparência no repasse para parceiros locais.

“Vamos usar a expertise que adquirimos no ano passado para gerenciar com transparência e assertividade as doações que chegam em nossa plataforma”, diz Gheller.

Segundo ele, a reativação de uma campanha emergencial como essa depende de três fatores principais: dimensão da tragédia, cobertura midiática significativa e número elevado de vaquinhas individuais abertas por conta do desastre.

Como funciona a Vakinha

Fundada em 2009, a Vakinha permite que qualquer pessoa crie uma campanha online para arrecadar dinheiro com objetivo pessoal ou coletivo. Atualmente, a plataforma movimenta cerca de 250 mil doações por mês e contabiliza 3,5 mil campanhas novas por dia.

Durante as enchentes de 2024, a empresa precisou montar uma operação emergencial mesmo com a sua sede atingida. O escritório, localizado próximo ao Guaíba, continua com o subsolo alagado, e a equipe segue trabalhando remotamente desde então.

“A gente teve de organizar tudo sem deixar as outras campanhas sem atendimento. E estávamos sem acesso ao nosso espaço físico, com oscilações de energia e internet”, disse Gheller em entrevista à EXAME, no ano passado.

Além do repasse financeiro, a Vakinha articula a destinação dos recursos em conjunto com entidades civis, organizações locais e voluntários. O foco é cobrir as necessidades que o poder público não consegue suprir no curto prazo: botas, lanternas, comida para resgatadores, ração, combustível.

Segundo Gheller, o Instituto Vakinha atua como ponte entre a doação e a demanda real. Para garantir maior impacto e precisão na destinação, a plataforma trabalha também com apoio técnico de consultorias especializadas em emergências humanitárias.

Em 2024, parte do valor arrecadado foi reservada para ações de médio prazo, como reconstrução de moradias e apoio a pequenos negócios. A expectativa é repetir esse modelo neste ano, dependendo do volume total arrecadado.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado em 2024 e, mais recentemente, em 2025.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. Em 2024, as cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para a frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.

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