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Com mega parque, Rússia inaugura "Disneylândia" própria – mas sem a Disney

Espaço custou 1,5 bilhão de dólares e tenta fazer frente à Disney com personagens russos e licenciamentos como Hello Kitty e Smurfs

Dream Island, parque temático russo: sonho antigo da Guerra Fria (Governo da Rússia/Divulgação)

Dream Island, parque temático russo: sonho antigo da Guerra Fria (Governo da Rússia/Divulgação)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 1 de março de 2020 às 08h00.

Última atualização em 1 de março de 2020 às 08h00.

Durante a Guerra Fria, que durou entre as décadas de 1950 e 1980, a Rússia -- então União Soviética -- planejava construir um parque de diversões próprio para fazer frente aos parques e personagens da americana Disney, campeã no mundo Ocidental. O sonho se tornou realidade neste sábado, 29, quando a Rússia inaugurou um gigantesco parque de 1,5 bilhão de dólares, batizado de Ilha do Sonho (ou Dream Island, no nome mundial em inglês, ou Ostrov Mechty, em russo).

Localizado em Moscou, o parque tem 300.000 metros quadrados de área e é todo coberto para escapar do inverno russo. Segundo o governo local, é o maior parque do tipo indoors de toda a Europa.

O espaço se parece com uma cidade própria e é povoado por personagens de contos de fada com reedições "locais". Na versão russa de "Mogli", em vez do menino lobo e sua alcateia, a floresta é repleta de dinossauros. No lugar de Frozen, a chamada "Rainha do Gelo" russa. Do grupo de nove espaços do parque, cinco tem personagens que foram criados especificamente para o empreedimento por artistas russos.

Mas nem só de personagens relativamente desconhecidos vive a Dream Island. O parque licenciou personagens como os Smurfs, da belga IMPS, a Hello Kitty, da japonesa Sanrio, e Hotel Transilvânia, da também japonesa Sony. Os Estados Unidos não estão totalmente barrados: fazem parte do parque também as Tartarugas Ninjas, personagens do conglomerado de mídia americano Viacom e cujas histórias se passam em Nova York, um dos símbolos do poder estadunidense.

Funcionária com Smurfs na Dream Island: personagens russos se somam a licenciamentos. Mas nada de Disney (Shamil Zhumatov/Pool)

Guerra Fria do entretenimento

O parque foi uma parceria entre o governo russo, a prefeitura de Moscou e o bilionário Amiran Mutsoev, cuja família é dona da empresa Regions Group, que controla uma série de shopping centers na Rússia. O banco estatal russo VTB emprestou 600 milhões de dólares ao empreendimento.

A ideia de construir uma "Disneylândia russa" começou há cerca de 60 anos, no governo do então premiê e diretor do Partido Comunista, Nikita Khrushchev (1953-1964). O desejo surgiu depois de o político voltar de uma viagem aos Estados Unidos convencido de que elementos como os parques da Disney eram importantes fontes de convencimento a favor dos governos. Na época, o projeto não foi para frente.

Desta vez, a Rússia tem algo que a União Soviética não tinha: uma população mais capaz de consumir. Atualmente cerca de um terço da população russa é considerada de classe média -- e o governo espera que eles estejam dispostos a enaltecer o empreendimento local. Em Moscou, onde há 13 milhões de habitantes, o salário médio é o dobro da média nacional.

Ainda assim, a Rússia vem sofrendo com sanções dos governos ocidentais nos últimos cinco anos desde que anexou a Crimeia, antigo território da vizinha Ucrânia, em 2014. Os preços baixos do petróleo no mercado internacional também prejudicam a economia russa. Em resposta, o país vem idealizando uma série de obras de infraestrutura. A Dream Island faz parte de uma lista que incluiu ainda uma gigantesca ponte entre cidades russas e a Crimeia e um shopping em Moscou que o governo russo afirmou ser o maior da Europa.

O presidente russo, Vladimir Putin, visitou o parque na quinta-feira, 27, ao lado do prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin.

A administração do parque espera receber por ano 5 milhões de residentes da cidade de Moscou e 2,5 milhões de turistas de outras cidades russas, segundo o jornal The New York Times. Ao jornal americano, Mutsoev afirmou que os diretores estão, sim, preocupados com o potencial do parque. "As pessoas virão, ou não virão?", disse. "Claro, estamos preocupados [com a visitação]".

Um ingresso aos fins de semana custava no site da atração entre 2.600 rublos para crianças de até 10 anos (cerca de 174 reais), 2.900 rublos para pessoas acima de 10 anos (pouco menos de 200 reais) e 9.900 rublos para uma família de quatro pessoas (pouco mais de 660 reais) neste sábado. Outros espaços do parque ainda serão construídos em uma segunda etapa, como um hotel para turistas.

A mina de ouro dos parques

Parques e os produtos gerados pelos personagens são tão importantes que o diretor dessa divisão na própria Disney acaba de se tornar presidente da empresa. Nesta semana, Bob Chapek, diretor de Parques, Experiências e Produtos desde 2015 e há 27 anos na Disney, foi anunciado como substituto do presidente Bob Iger, que estava no cargo de mandatário da maior empresa de entretenimento do mundo desde 2005.

No ano fiscal de 2019, a divisão de Parques, Experiências e Produtos rendeu à Disney um faturamento de 26,2 bilhões de dólares, ante 24,8 bilhões da divisão de mídia, como os canais ESPN e Disney Channel. Foi o maior faturamento da empresa.

Ao todo, as propriedades da empresa do Mickey receberam 157 milhões de visitantes em 2018, segundo a Themed Entertainment Association (TEA), que acompanha a movimentação do setor. Nos últimos anos, a Disney expandiu seus espaços temáticos para uma série de lugares fora dos Estados Unidos e da Europa e abriu um parque em Xangai, na China, que recebe quase 12 milhões de visitantes por ano. A Dream Island russa espera, com sua solução caseira, ter um sucesso parecido.

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