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Com IPO fracassado, WeWork vale menos que o Nubank – mas mais que a Natura

Valor de mercado do co-working foi de 47 bilhões para 8 bilhões de dólares, intensificando discussão sobre os métodos para avaliar uma empresa de tecnologia

WeWork: plano de recuperação do Softbank coloca valuation da empresa em 8 bilhões de dólares (Bobby Yip/File Photo/Reuters)

WeWork: plano de recuperação do Softbank coloca valuation da empresa em 8 bilhões de dólares (Bobby Yip/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 24 de outubro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 24 de outubro de 2019 às 08h00.

De mercado de 47 bilhões de dólares, o valuation da empresa de aluguel de escritórios WeWork caiu para 8 bilhões de dólares nesta semana -- é um valor que não só tira a empresa do grupo de gigantes globais, como a coloca atrás de uma startup brasileira.

Depois da fracassada tentativa de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, em inglês), que deveria ter acontecido em setembro, a empresa corre o risco de ficar sem caixa e se viu obrigada a optar por um plano de recuperação liderado pelo grupo de telecomunicações japonês Softbank, conforme divulgado pela imprensa na terça-feira.

Maior investidor da WeWork, o Softbank já colocou mais de 10 bilhões de dólares na empresa desde sua fundação, em 2010, e se compromete a colocar outros 5 bilhões de dólares. Com o plano, contudo, a empresa fundada por Adam Neumann -- que deixou os cargos na companhia ontem -- passa agora a valer 8 bilhões de dólares.

É uma queda vertiginosa antes os 47 bilhões de dólares em valuation que a WeWork atingiu justamente após investimento do Softbank em janeiro deste ano. Na prática, a empresa já valia menos há alguns meses: às vésperas do IPO, à medida em que investidores passaram a questionar os prejuízos de 1,9 bilhão de dólares no ano passado e quase 1 bilhão de dólares no primeiro semestre deste ano, a empresa já cogitava reduzir o valuation para 20 bilhões ou mesmo 10 bilhões de dólares antes de entrar na bolsa.

Com esse valor, a WeWork, que começou o ano como uma das promessas para chegar à bolsa americana e exemplo de sucesso das startups do Vale do Silício, agora já vale menos que o banco digital brasileiro Nubank, que, mesmo sendo uma fintech brasileira -- e, portanto, com faturamento em reais, que tem um quarto do valor do dólar -- passou a valer 10 bilhões de dólares em julho, após uma rodada de investimentos liderada pelo fundo TCV, da Califórnia.

Como são de setores diferentes, a princípio WeWork e Nubank não têm relação direta. Mas ambos operam dentro de um grupo parecido: empresas de tecnologia que chegaram para transformar seus setores -- imobiliário e bancário, respectivamente -- e têm como mote uma expansão exponencial em busca de novos clientes e mercados.

O Nubank é uma das poucas startups que abre seu valor de mercado, mas algumas brasileiras também superaram recentemente o patamar de 1 bilhão de dólares (as chamadas unicórnios), embora ainda valendo muito menos que o banco digital. Entre elas, estão a empresa de transporte por aplicativo 99, a empresa de academias Gympass, o serviço de logística Loggi, e a plataforma de aluguel Quinto Andar. Estima-se que a empresa de entrega de refeições iFood (do grupo de tecnologia Movile) tenha valor de mercado de 2 bilhões de dólares.

Das empresas de tecnologia brasileiras que abriram capital nos Estados Unidos, a companhia de pagamento PagSeguro vale 12,6 bilhões de dólares e a rival Stone vale 9,1 bilhões de dólares.

Quanto vale uma empresa

Mesmo com o valuation abaixo do anterior e com um modelo de negócio que ainda não deu um centavo de lucro e vem sendo questionado, se tivesse capital aberto na bolsa brasileira, a WeWork seria a 28ª empresa mais valiosa. A empresa estaria à frente da Localiza (7,9 bilhões de dólares de valor de mercado), das Lojas Americanas (7,5 bilhões) e de seu braço digital B2W (6,1 bilhões), da BRF (7,4 bilhões), da Natura (6,9 bilhões), da Braskem (5,6 bilhões), entre outras.

Os dados de valor de mercado foram compilados pela consultoria Economática, com base no preço das ações no dia 22 de outubro.

Enquanto isso, na bolsa brasileira, algumas empresas passaram a valer mais que a WeWork nas últimas 24 horas -- mesmo faturando em reais, o que deixa seus números em dólar a um quarto do valor real. Têm valuation pouco maior que a WeWork nomes como a RaiaDrogasil (8,6 bilhões de dólares), CCR (8,6 bilhões), Carrefour Brasil (9,1 bilhões), Renner (10 bilhões) e Suzano (11,5 bilhões). Todas as citadas dão lucros milionários, ao contrário da WeWork.

A empresa mais valiosa da bolsa brasileira é a Petrobras (96,1 bilhões de dólares), seguida por ItauUnibanco (79 bilhões de dólares), a Ambev (72,2 bilhões), o Bradesco (66,6 bilhões) e a Vale (59,4 bilhões).

De fato, o valor de mercado da WeWork caiu, mas segue deixando na mente dos investidores um questionamento sobre a precisão do valuation das empresas de tecnologia.

Na mesma linha de empresas de tecnologia que ainda não dão lucro mas prometem crescimento exponencial, a Uber vale na bolsa de Nova York 56,2 bilhões de dólares, a rival Lyft vale 12,6 bilhões, o mensageiro corporativo Slack vale 11,3 bilhões e a fabricante de carnes vegetais Beyond Meat vale 5,9 bilhões. Todas chegaram à bolsa neste ano -- a WeWork deveria fechar a fila dos IPOs de tecnologia em 2019 antes de ficar pelo caminho.

Como mostrou a reportagem "Quanto vale uma empresa?", em edição de EXAME em agosto, o certo é que as métricas de matemática financeira não são suficientes para medir risco e retorno num cenário em que a economia pode ser transformada a qualquer momento por companhias disruptivas. Investidores aceitam pagar um ágio para ser um dos primeiros a investir em empresas que podem despontar, como Uber, WeWork e Airbnb — e lá na frente obter uma rentabilidade maior do que a dos demais.

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