Chia Yuan Wang, presidente da Gerdau Aços Longos na América do Norte: “Um país competitivo precisa de uma indústria do aço competitiva”. (Gerdau América do Norte/Divulgação)
Repórter
Publicado em 16 de junho de 2025 às 09h38.
Última atualização em 16 de junho de 2025 às 09h38.
New York, Estados Unidos - “Um país competitivo precisa de uma indústria do aço competitiva.” A afirmação de Chia Yuan Wang, presidente da Gerdau Aços Longos na América do Norte, resume o momento da operação da empresa nos Estados Unidos e Canadá — operações hoje responsáveis por quase metade da receita global da siderúrgica brasileira.
Formado em engenharia metalúrgica pela UFRGS e com passagem pelas operações do Brasil, Canadá e China, Wang lidera a companhia na América do Norte desde 2018, mas é neste ano, com todas as movimentações do presidente Donald Trump, que Wang vê um futuro firme como o aço para siderúrgica brasileira.
O primeiro dado que traz essa previsão é a do backlog (carteira de pedidos já confirmados, mas ainda não entregues) superior a 70 dias – um resultado acima da média histórica, afirma Wang.
"Notamos também um impacto positivo das tarifas de importação anunciadas pelo governo norte-americano na utilização da nossa capacidade produtiva, que é 100% voltada para o fornecimento de aço para o mercado doméstico", afirma Wang.
Com exclusividade à EXAME, Chia Yuan Wang, presidente da Gerdau Aços Longos na América do Norte, conta como a companhia brasileira está levando a cultura da família e os resultados do negócio para um novo patamar global.
"O aço é visto, pelos Estados Unidos, como um setor estratégico e imprescindível para a segurança nacional, e estamos prontos para essa demanda", diz o presidente.
Com uma operação robusta em solo americano e canadense — com 13 usinas, 35 centros de coleta de sucata e cerca de 6.600 funcionários — Wang afirma que a Gerdau tem colhido os frutos de uma atuação cada vez mais integrada, tecnológica e sustentável no hemisfério norte.
“Temos um portfólio flexível e 100% voltado para o atendimento da demanda doméstica”, conta o presidente que lidera as operações que tem capacidade de 6,8 milhões de toneladas/ano.
Cerca de 60% dos negócios da Gerdau América do Norte estão concentrados nos setores de manufatura, energia e automotivo; os demais 40% miram infraestrutura e construção não residencial — segmentos que vêm puxando a alta dos pedidos em 2025, conta o presidente.
As operações na América do Norte representaram 47,3% da receita da Gerdau em 2024, o equivalente a R$ 31,9 bilhões. Já no primeiro trimestre de 2025, a participação subiu para 49,7%, com R$ 8,7 bilhões em faturamento.
“Para atender à crescente demanda, prevemos um plano global de investimento de R$ 6 bilhões neste ano, contemplando projetos voltados à manutenção, expansão e atualização tecnológica das operações nas Américas”, afirma.
Parte deste valor, segundo Wang, será destinado à ampliação das unidades americanas em Midlothian (Texas) e Monroe (Michigan), que somam 450 mil toneladas a mais de capacidade produtiva.
“A expansão da unidade de Midlothian, no Texas, irá ampliar a produção anual de aços longos em 250 mil toneladas de produção, com um potencial de captura de Ebitda estimada em R$ 140 milhões. Já na unidade de aços especiais em Monroe (Michigan), a produção deve ser ampliada em 200 mil toneladas, com um investimento de R$ 350 milhões”, afirma.
Mesmo com o avanço técnico, Wang reforça que os valores familiares e humanos seguem sendo a base do negócio.
“A cultura da Gerdau, construída ao longo de 124 anos, está presente em todas as regiões onde atuamos”, afirma Wang. “Segurança em primeiro lugar e fazer o certo são princípios inegociáveis — inclusive nos EUA.”
Outro pilar da expansão da Gerdau é a sustentabilidade. A operação americana é baseada em fornos elétricos com uso de sucata metálica. Segundo o presidente, esses investimentos colocam a Gerdau como líder na redução de emissões na indústria do aço no continente.
“O aço é um material infinitamente reciclável e, para cada tonelada de sucata reciclada, se evita a emissão de 1,5 toneladas de CO₂e”, afirma Wang.
Para reforçar essa estratégia, a Gerdau instalou uma planta solar com 230 mil painéis em Midlothian, capaz de abastecer 13 mil residências e cortar em 10% as emissões anuais da unidade.
Além disso, em dezembro do ano passado a companhia comprou ativos da Dales Recycling Partnership, uma empresa que capta e processa sucata ferrosa e não-ferrosa.
“Os ativos incluem terrenos, estoques e ativos fixos nos estados do Tennessee, Kentucky e Missouri, com capacidade anual de processar mais de 150 mil toneladas por ano. A aquisição teve como objetivo aumentar a captura de sucata ferrosa cativa pela Gerdau por meio de canais próprios a um custo competitivo”, afirma o presidente.
A companhia também participa de um projeto de hidrogênio verde liderado pela Purdue University — iniciativa de US$ 10 milhões, o maior aporte do governo americano para descarbonização do setor, diz Wang.
A digitalização também vem ganhando protagonismo na operação. A companhia já conta com robôs em tarefas fabris, sensores para manutenção preditiva, câmeras de IA para segurança e modelos de previsão de demanda em logística.
No backoffice, agentes digitais como a GABI — Gerdau Autonomous Buying Intelligence — automatizam compras recorrentes, enquanto plataformas de IA generativa dão suporte ao RH e ao atendimento interno.
“Temos soluções digitais implementadas em toda a empresa, proporcionando maior eficiência e agilidade nos processos”, afirma Wang.
O presidente também cita a parceria com a startup Ferro Labs, que usa inteligência artificial para otimizar o uso de ligas e reduzir a variação de qualidade em até 15%.
Liderar uma operação tão diversa, em um mercado tão competitivo como o americano, também trouxe desafios. “Foi preciso construir uma estratégia única que unisse profissionais com perfis e origens diferentes, todos em torno de um mesmo propósito”, diz Wang.
O presidente valoriza o perfil de liderança que estimula a cultura corporativa, toma decisões com coragem e pensa no longo prazo.
“Um bom líder nunca se satisfaz com o status quo, precisa sempre buscar resultados superiores aos que já foram entregues”, diz Wang. “Hoje, quase metade do faturamento da companhia já vem da operação americana, e a tendência é a empresa crescer junto com o nosso time”.