Raquel Reis, CEO da SulAmérica Saúde e Odonto: “O ano de 2023 foi para arrumar a casa. Em 2024 voltamos a crescer acima do mercado e, em 2025, todos os trimestres vieram fortes. A estratégia se provou acertada” (Bob Wolfenson/Divulgação)
Repórter
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 08h57.
Última atualização em 11 de setembro de 2025 às 22h59.
O setor de saúde suplementar, que reúne hospitais, clínicas, laboratórios e planos odontológicos privados, é considerado um dos mais competitivos do Brasil, mas cresce pouco. Apenas 25% da população tem acesso a um plano.
“O mercado de saúde é um mercado que cresce muito pouco, é praticamente estagnado, embora o plano de saúde esteja entre os três maiores desejos da população brasileira. Só 25% da população tem acesso. Apesar disso, conseguimos crescer trimestre a trimestre”, afirma Raquel Reis, CEO da SulAmérica Saúde e Odonto.
A operadoras de saúde encerrou o primeiro semestre de 2025 com receita operacional líquida de R$ 16,2 bilhões, um avanço de 11,5% frente ao mesmo período de 2024. A sinistralidade consolidada caiu para 79,95%, uma melhora de 3,1 pontos percentuais.
O avanço, segundo Reis, veio de três frentes: da gestão de sinistro, oferta de produtos e expansão da base, com desenho de produtos customizados para grandes empresas.
“A customização e a flexibilidade que demos aos clientes viraram diferencial competitivo”, diz. “O ano de 2023 foi para arrumar a casa. Em 2024 voltamos a crescer acima do mercado e, em 2025, todos os trimestres vieram fortes. A estratégia se provou acertada”.
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O crescimento é resultado também em investimento em tecnologia. Com a inteligência artificial a SulAmérica está conseguindo combater algumas fraudes no setor, que geram prejuízos superiores a R$ 30 bilhões por ano, segundo a Fenasaúde. Entre os esquemas mais comuns estão:
Para enfrentar o problema, a SulAmérica investe em biometria facial em reembolsos, checagens automatizadas por IA e canais de denúncia.
“Fraude encarece o plano para todos. Endereçamos formatos de fraude de beneficiários e de prestadores. A política é tolerância zero”, afirma a CEO.
Além disso, a telemedicina via app já superou 4 milhões de consultas 24h, e a inteligência artificial apoia decisões técnicas, jurídicas e clínicas.
“Inovação aqui não é buzzword. Fazemos ciclos curtos de teste e aplicamos tecnologia na jornada inteira. O ganho de precisão e agilidade é imenso”, diz Reis.
A queda da sinistralidade - proporção entre custos assistenciais e receita - foi alcançada por três pilares:
“Para baixar sinistralidade, é contenção de custos com todos os atores na mesa. Coparticipação não é cerceamento, é racionalidade no cuidado”, afirma Reis.
A CEO lembra que 25% a 30% dos exames não são retirados pelos pacientes. “Com a coparticipação, o beneficiário tende a retirar os exames e levá-los ao médico, evitando repetir o procedimento e reduzindo desperdícios que impactam a sinistralidade e os reajustes futuros”.
Como representante da Fenasaúde, Reis aponta entraves regulatórios que limitam a expansão do acesso, como o debate sobre franquias e coparticipações modernas.
“Quanto mais crescer a saúde suplementar, mais desafogamos o SUS. Mas é preciso soltar amarras e envolver todos os stakeholders, inclusive a indústria farmacêutica, no compartilhamento de risco”, afirma.
Ela cita exemplos internacionais em que medicamentos de altíssimo custo são pagos de forma fracionada e atrelados a resultados de longo prazo. “Isso é inovação com responsabilidade.”
Atuária de formação, com passagem por gigantes como Allianz e experiência na ponta hospitalar na Rede D’Or, Reis assumiu a SulAmérica em 2023, em meio à crise do setor.
“Consegui avançar profissionalmente porque não deixo minha carreira na mão de ninguém. Curiosidade e humildade me abriram portas, mas nada disso vale sem líderes e times dispostos a acolher”, afirma a executiva que desde que entrou na gestão da companhia viu a base de beneficiários de saúde e odontologia crescer 10,5%.
Ela também destaca a importância de redes de relacionamento. “Quando você só olha por dentro, subestima o valor do ‘cafezinho’. Relacionamento gera confiança, e confiança move contratos.”
A CEO não dá guidance formal, mas projeta continuidade do crescimento em saúde e odontologia, com avanço em segmentos como asset, vida e viagem, além da expansão da rede hospitalar do grupo.
“Não vejo nada que nos direcione para um resultado abaixo do que já apresentamos nos últimos dois trimestres”, afirma Reis.
Números-chave (1º semestre de 2025)