Localiza: por meio de acordo com a Hertz, brasileira passa ter acesso a clientes aos quais ainda não chegava (Localiza/Divulgação)
Luísa Melo
Publicado em 6 de dezembro de 2016 às 14h36.
Última atualização em 7 de dezembro de 2016 às 10h29.
São Paulo - A Localiza, líder em aluguel de carros no Brasil, vai pegar carona na marca e na estrutura da Hertz, uma das maiores do ramo no mundo, para conquistar novos clientes e se tornar mais global.
A brasileira acaba de comprar 99,99% dos negócios locais da concorrente e vai ainda compartilhar reservas e marca com a norte-americana fora do país.
Assim, os clientes da Localiza passarão a ser atendidos globalmente nos postos da Hertz (com exceção da América do Sul) e os usuários da Hertz terão acesso à rede da Localiza no Brasil.
Além disso, a marca combinada Localiza Hertz passa a ser usada internamente e o nome Localiza será associado aos guichês da Hertz nos principais aeroportos frequentados por brasileiros na Europa e Estados Unidos.
As duas corporações também farão intercâmbio de tecnologias, conhecimentos e executivos. Os acordos valem por 20 anos, prorrogáveis por mais 20.
"Vamos capturar clientes aos quais ainda não tínhamos acesso porque a marca Localiza não tinha alcance internacional", disse o presidente da empresa brasileira, Eugênio Mattar, a investidores nesta terça-feira (06) em São Paulo.
"Também acreditamos que vamos dar um salto na receita com turistas estrangeiros que vêm para o Brasil, principalmente americanos e europeus", completou.
Do outro lado, a Hertz, cuja presença ainda é pequena no país, com menos de 5% do mercado, ganha maior espaço por aqui.
"Com a força da Localiza, damos aos nossos clientes norte-americanos uma rede com maior capilaridade nesse mercado", afirmou Tom Kennedy, diretor financeiro da Hertz.
O negócio parece ter caído nas graças dos investidores. Após o anúncio, as ações da Localiza chegaram a subir 7% nesta manhã.
Conversas antigas
Pela transação, que vem sendo discutida desde 2014, a Localiza Fleet, subsidiária de gestão de frotas (voltada para clientes corporativos) da Localiza, incorpora 9.200 carros e 42 agências da Hertz Brasil (cujo nome de registro é Car Rental Systems do Brasil).
Desse total de veículos, 3.700 pertencem ao segmento de gestão de frotas da Hertz.
A compra deve sair por um valor próximo de 337 milhões de reais, equivalente ao valor do patrimônio líquido da Hertz Brasil mais a sua dívida.
Os empréstimos, majoritariamente tomados com a holding Hertz Corporation, serão liquidados de imediato após o fechamento da transação.
Nos últimos 20 anos, a Localiza apostou na expansão orgânica. Porém, até o início da década de 1990, comprou cerca de 30 concorrentes.
Segundo seu presidente, Eugênio Mattar, a companhia "sempre esteve e estará aberta a crescer por meio de aquisições".
O negócio com a Hertz ainda depende do sinal verde do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Até lá, as duas empresas continuam operando separadamente.
O diretor de finanças e relações com investidores da Localiza, Roberto Mendes, acredita que a aprovação deve ser rápida.
"Existem 7.500 empresas de aluguel de carro no Brasil. Pela pulverização do mercado, temos esperança de que o processo no Cade não seja de longo prazo", disse, sem fazer nenhuma estimativa de tempo.
A compra dos ativos locais da Hertz pela Localiza não contempla nenhuma aquisição dos ativos globais da estrangeira pela brasileira, nem o contrário.
No Brasil, o sistema operacional usado será o da Localiza. Sobreposições de agências das duas marcas, que acontecem principalmente em aeroportos, serão eliminadas.
"Mas nós também acreditamos que a Hertz tem boas práticas no Brasil e estamos interessados em aprender e capturar o que eles fazem melhor do que a gente", disse Mattar.
Os programas de fidelidade de ambas as companhias também devem ser integrados.
Em cash
O pagamento pela aquisição será totalmente feito em dinheiro, sem troca de ações.
O caixa da Localiza, que somava 1,16 bilhão de reais em setembro, é suficiente para cobrir a operação.
Entretanto, para captar mais recursos no mercado, a empresa emitiu no mês passado duas debêntures simples: uma no montante total de 500.000 reais, pela Localiza Rent a Car, e outra de 250.000 reais, pela filial Localiza Fleet.
O reforço será usado principalmente na renovação de frota, segundo Mendes.
A alavancagem da Localiza era de 1,9 vez o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) em setembro e, de acordo com o executivo, "continuará baixa no ano que vem".
A companhia teve um lucro líquido de 109,3 milhões de reais no terceiro trimestre e atingiu uma receita líquida de 362,5 milhões de reais com aluguel de carros e de 163,5 milhões de reais com gestão de frotas no período.
Novos caminhos?
Questionado sobre como o avanço de tecnologias de compartilhamento de veículos, mais maduras nos Estados Unidos que no Brasil, tem afetado a Hertz, Tom Kennedy, diretor financeiro da companhia disse que isso não é uma preocupação.
"Não vemos um impacto nos nossos negócios nos Estados Unidos, nem mesmo em São Francisco, onde o Uber e Lyft já estão há mais de cinco anos", disse.
Segundo ele, porém, a companhia está atenta à mudança de comportamento dos consumidores e desenvolve projetos para diminuir o tempo de aluguel e aumentar a conveniência do serviço.
Um deles, que deve começar a ser testado nos Estados Unidos no primeiro trimestre do ano que vem, é um aplicativo pelo qual o cliente poderá pedir um carro de aluguel - e o veículo será levado até ele.
"Queremos compartilhar isso com a Localiza", afirmou.