Bianca Andrade, fundadora da Boca Rosa: “Meu produto não tem pico e queda; ele cresce no tempo. Boca Rosa é tipo vinho, só melhora com o tempo” (Boca Rosa /Divulgação)
Repórter
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 1 de novembro de 2025 às 10h03.
“Sempre quis ter marca independente. A parceria anterior foi importante para aprender a indústria, mas eu queria ser dona do meu próprio negócio”, afirma Bianca Andrade, influencer e empresária da marca de maquiagem Boca Rosa, que mira em 2026 um faturamento de R$ 400 milhões.
Ao encerrar o ciclo de cocriação com a Payot, Andrade assumiu o volante do negócio - sem sócio investidor neste primeiro momento - para “entender o valor da marca” e construir base de governança antes de trazer capital.
“Encerrar o contrato de parceria não foi uma decisão súbita, foi algo planejado”, afirma Andrade.
Em entrevista exclusiva à EXAME, a empresária que cresceu na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, conta começou a trabalhar como maquiadora aos 16 anos, mas ganhou destaque ensinando técnicas de maquiagem nas redes sociais. Hoje, a empresária soma mais de 19 milhões de seguidores no Instagram – e tem novos planos para o negócio no Brasil.
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A sociedade entre Bianca Andrade e a Payot começou em 2018, quando a influenciadora lançou a linha Boca Rosa Beauty by Payot, em um modelo de cocriação. A parceria unia o alcance digital e a visão criativa de Bianca ao know-how industrial e de distribuição da tradicional marca francesa de cosméticos.
Durante cerca de cinco anos, a colaboração foi um sucesso comercial, consolidando a Boca Rosa como uma das marcas de maquiagem mais populares do país. No entanto, desde o início, Bianca já expressava o desejo de um dia ter sua própria operação.
Em 2023, a sociedade foi encerrada de forma natural e consensual, sem quebra de contrato. Bianca explicou que o ciclo foi concluído após o prazo previsto e que a decisão de seguir sozinha foi motivada pela vontade de ter autonomia sobre as decisões criativas e estratégicas da marca.
Após o fim da parceria, ela lançou, em 2024, a nova fase da marca, agora 100% independente,
Andrade investiu R$ 30 milhões do próprio caixa na largada como marca independente e quer abrir a empresa a investidores em 2026 para acelerar tecnologia, volume e custo-benefício.
Além da meta para 2026 de R$ 400 milhões de faturamento, há outra meta de longo prazo – chegar a R$ 1 bilhão até 2030 em receita – mas para Andrade, se for preciso recalcular a meta, ela fará, o objetivo é crescer com sustentabilidade.
“Se não acontecer em 2030 e sim em 2035, tudo bem. Não vou sacrificar a alma da marca por ansiedade de número”, afirma a empresária.
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No primeiro ano como marca independente, a Boca Rosa colocou mais de 100 produtos no mercado. Bianca evitou repetir fórmulas antigas e priorizou uma “história nova” com linha 100% vegana e lista de ingredientes “ready to export”.
A parte de pesquisa e desenvolvimento dos produtos fica no Brasil, com desenvolvimento em São Paulo e parceiros industriais selecionados (80% da produção ainda no país; parte na Ásia para tecnologias específicas, como as coreanas).
A estratégia técnica conversa com o posicionamento: cartela de 50 tons (com consultoria de diversidade) e aposta em formatos stick para pele — que, segundo ela, combinam praticidade, recompra recorrente e tendência mundial.
“Daqui a dois anos todas as marcas vão lançar stick. A gente puxou essa tendência no Brasil com um portfólio pensado para recompra.”
No bastidor, a transição exigiu renegociar fábricas, refazer processos e “ensinar conta” na cadeia. Bianca relata ter intervindo pessoalmente em problemas de embalagem e custos.
“Sou a alma do negócio e aprendi a delegar, mas entrei no front quando precisei. Afinal, o custo errado quem paga é a consumidora”, diz.
Bianca reconhece ter passado por um “burnout” ao centralizar tudo e diz estar aprendendo a delegar. Com a mãe como sócia (Mônica Andrade), ela segue liderando a companhia com mais equilíbrio e segurança.
“Eu via minha mãe empreendendo, ela era dona de um buffet pequenininho na favela, mas era referência de qualidade. Eu queria seguir o padrão dela e ter o apoio dela é fundamental nesta nova fase”, diz Andrade que afirma que a mãe, inclusive, dá dicas para novos produtos.
“Ela prova tudo. Foi por causa dela que criamos o pó compacto, porque ela dizia que o solto sujava tudo”, conta Andrade.
Apesar do DNA digital, o e-commerce ainda representa menos de 20% das vendas.
“Maquiagem, especialmente pele com 50 tons, pede prova física. O negócio é B2B”, diz.
A marca testou TikTok Shop e trouxe provador virtual (que Bianca descreve como uma “primeira” entre marcas brasileiras), mas decidiu reequilibrar a ambição online para não “forçar” 30% de participação antes da hora.
Embora pele seja a categoria mais forte da Boca Rosa, o produto nº 1 hoje são as máscaras (sobrancelha e olhos). O pó compacto - decidido após pesquisa de uso real e “validação” pela mãe, sócia e testadora 50+ - já rendeu prêmio da Glamour.
“Meu produto não tem pico e queda; ele cresce no tempo. Boca Rosa é tipo vinho, só melhora com o tempo”, afirma Andrade.
A maior base segue entre 25 e 35 anos, mas a mira estratégica está no público 40+, com campanhas que combatem o etarismo. “Metade da nossa arquibancada tinha mulheres 40+”.
O design minimalista e as embalagens atemporais servem à lógica de recompra e sustentabilidade — não à efemeridade de datas promocionais. “Vendo histórias, não modismos de embalagem”, diz.
“O presente que posso dar à consumidora é poupar o tempo dela. Tempo é o ativo mais caro.”
No curto prazo, a ordem é consolidar o Brasil e sustentar P&D local com manufatura parceira enxuta e criteriosa. “O nosso foco será nacional nos próximos 4 anos”, afirma a influencer.
Em 2026, a marca planeja rodada de investimento e em breve irá anunciar uma collab global com uma das maiores marcas do mundo. Exportação para Europa e América Latina entra no plano depois da consolidação doméstica.
“A Boca Rosa é um negócio de longo prazo. Eu quero crescer com consistência, com propósito e com o mesmo DNA que me trouxe até aqui: fazer o impossível parecer possível,” afirma Andrade.
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