Fábrica da Volkswagen: montadora colocou 2,5 mil funcionários em coletivas por falta de peças (Sebastian Kahnert/picture alliance/Getty Images)
Nesta terça-feira, 10, a Anfavea, associação que representa a indústria nacional automotiva, irá apresentar os dados de emplacamentos e produção de veículos do mês de abril, além de dados do quadrimestre.
Os dados anteriores registraram o pior março desde 2003, com a produção de carros caindo 7,8% e os licenciamentos recuando 22,5% em relação a 2021. E, segundo especialistas, o cenário pessimista deve continuar em abril, completando dez meses consecutivos de números negativos.
Segundo dados da consultoria Jato Dynamics, especializada no setor, em abril, a venda de veículos caiu 16,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Já no comparativo com março deste ano houve um aumento quase nulo, de 1%. No acumulado do ano, o cenário também é pessimista: as vendas estão 23,2% abaixo em relação a 2021.
Com a China voltando a apertar as restrições por conta da pandemia, os problemas na cadeia de suprimentos também começam a se multiplicar. Agora, além da falta de semicondutores, com os quais as montadoras já sofriam desde o ano passado, elas também estão lidando com a escassez de outros componentes.
“Semicondutor ainda é o grande problema, mas outras peças que também são essenciais estão em falta por conta de uma série de dificuldades logísticas. A cadeia de fornecedores como um todo não se recuperou totalmente, mas recentemente, o que vem pesado mais é a situação na China”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics.
Na semana passada, por exemplo, a Volkswagen colocou 2,5 mil funcionários em férias coletivas justamente por falta de peças. Em abril, a Mercedes-Benz também precisou recorrer às férias coletivas, afastando 5,6 mil trabalhadores das fábricas de São Bernardo do Campo (SP) e Juiz de Fora (MG), sobretudo em razão da falta de semicondutores.
Tudo isso aliado à alta do dólar e à inflação têm disparado o preço dos carros seminovos que, segundo a Jato, estão custando, em média, R$ 134 mil. “Enquanto o emplacamento bruto caiu, o emplacamento pelo valor do veículo vem aumentando, ou seja, a indústria ainda está lucrando”, diz.
Kalume Neto, entretanto, salienta que esse cenário não favorece as montadoras. “Porém, você tem uma ociosidade na fábrica que também não é interessante para as empresas porque os custos fixos se mantêm, mas você não consegue produzir mais, seja para consumo interno ou externo. Ou seja, desperdiça recursos”.
No longo prazo, o cenário também não é animador. Além de eleições, que devem trazer mais instabilidade política contribuindo para o aumento da inflação até a Copa do Mundo, que dessa vez vai acontecer mais tarde, também prejudica as montadoras.
"Dezembro tradicionalmente é um dos meses que mais se vende carro. Por outro lado, mês de Copa do Mundo diminui as vendas, as pessoas estão focadas em outras coisas. Ou seja, tudo isso se soma à turbulência que o mercado automotivo já está enfrentando", finaliza.