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Com BIG, Carrefour vai além do arroz e feijão e deve apostar em serviços

Pela primeira vez, Carrefour Brasil nomeia-se como "ecossistema", termo da nova economia para empresas que englobam serviços e produtos em diversas áreas

Carrefour: Carrefour faz também um movimento de estender seus negócios no médio prazo para se tornar um ecossistema que oferece serviços para além do arroz e feijão dos supermercados (Germano Lüders/Exame)

Carrefour: Carrefour faz também um movimento de estender seus negócios no médio prazo para se tornar um ecossistema que oferece serviços para além do arroz e feijão dos supermercados (Germano Lüders/Exame)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 25 de março de 2021 às 15h58.

Última atualização em 25 de março de 2021 às 19h10.

A aquisição da rede de supermercados BIG pelo Carrefour Brasil, anunciada nesta quarta-feira, não é só a aposta do gigantesco varejista para se consolidar no setor de mercados, assumindo bandeiras como BIG, Maxxi e Sam's Club.

O Carrefour faz também um movimento de estender seus negócios no médio prazo para se tornar um ecossistema que oferece serviços para além do arroz e feijão dos supermercados. Essa é a visão do analista de varejo Marcos Gouvêa, que é diretor-geral da Gouvêa Ecosystem.

Pela primeira vez em um fato relevante divulgado ao mercado, que revelou a compra do grupo BIG nesta quarta, o Carrefour usou o termo ecossistema para se nomear.

Esse termo surgiu nos últimos anos para englobar negócios que escaparam de seu propósito inicial e, ao fazer fusões, surfaram na onda digital e expandiram seu alcance para atingir o consumidor em todas as interfaces possíveis.

Nas palavras de Gouvêa, é uma briga “pelo bolso e pela mente” dos consumidores digitais.

“O Carrefour não quer concorrer com o Grupo Pão de Açúcar. Ele quer concorrer no novo jogo que está sendo jogado de um novo ecossistema de negócios", explica. “Isso faz parte de um movimento que é o próximo estágio do Brasil. Nós vamos ter os ecossistemas crescendo no Brasil e se integrando para poder criar meta-ecossistemas (ainda maiores e relevantes) ou sub ecossistemas, focados em segmentos, como saúde, alimentação, transportes.”

No Brasil, esse ambiente é dominado por empresas como B2W, Magalu, Americanas. Ou seja, as grandes varejistas, o que é uma característica própria do país.

Nos Estados Unidos, isso aconteceu a partir das grandes empresas de tecnologia como a Amazon e o Google. Já na China é a partir de empresas de serviço e e-commerce, como o Alibaba, e até de games.

Com a compra do BIG, o Carrefour deverá alcançar 60 milhões de clientes. Hoje, são 45 milhões. Com a aquisição, a rede amplia a possibilidade de crescer os formatos em que era líder, de atacarejo e hipermercados, mas ganha escala para incorporar novos.

O Grupo BIG (antigo Walmart Brasil) opera uma rede de 387 lojas, sendo 35 unidades Sam's Club, 107 hipermercados BIG e BIG Bompreço, 99 supermercados Bompreço e Nacional, 97 lojas Todo Dia, 49 unidades Maxxi e 13 postos de gasolina.

Segundo Gouvêa, as empresas que alcançam esse modelo de ecossistema, como a Magalu, Google e a chinesa Alibaba, avançam ao unir conhecimento e comportamento de grupos de consumidores para prover mais serviços, conveniência e acesso.

À medida que essas empresas se ampliam, com fusões e aquisições, elas incorporam segmentos, categorias, atividades e serviços. Nos últimos meses, a Magalu adquiriu a Hubsales, o site de notícias Canaltech, por exemplo.

Assim, oferecem todo tipo de serviços aos clientes. Com a pandemia, houve um reforço ainda maior sobre movimentos em direção à digitalização.

O Carrefour hoje opera no setor financeiro com o Banco Carrefour e deve usar sua rede ampliada para expandir a oportunidade de crédito. Sua rede Atacadão já tem oferecido e-commerce dos produtos, o que também ganha escala ao incorporar a infraestrutura das lojas Maxxi, que deixarão de existir, e de parte do BIG.

O e-commerce do Atacadão é, na visão do analista de varejo Valter Pieracciani, sócio-diretor e fundador da Pieracciani, Desenvolvimento de Empresas, um ponto de vantagem para o Carrefour nos próximos anos.

A opção oferece entrega rápida a preço baixo, sem a necessidade de deslocamento às lojas de atacado, o que é uma vantagem, na visão do analista, ao se considerar que as lojas de atacado não costumam ser focadas em conforto e experiência de compra.

O analista também destaca que, independentemente da pretensão do Carrefour tentar se colocar como um ecossistema de produtos e serviços, ele já tem sucesso em oferecer uma jornada mista de compra, que reúne boas experiências online e offline. 

Já o ex-consultor do Walmart (atual Big) e também analista do Varejo, André Pimentel, acredita que a aquisição do Big pelo Carrefour foi uma oportunidade de um cenário mais concreto.

O Carrefour viu a oportunidade de expandir sua atuação e de complementar sua presença no Brasil, principalmente no Sul e Nordeste, e partir para a decisão. Ele pondera também que, se for essa a estratégia do Carrefour, o caminho não é muito fácil.

"O ecossistema é uma coisa que se trabalha duramente anos para você implementar, e é algo para alguns, não é para todo mundo. Magalu trabalha há anos para se tornar isso. É só para gente muito grande e propõe uma diversificação muito grande do negócio. Não é algo de uma hora para outra."

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