Andrade Gutierrez: a construtora mineira tenta levantar dinheiro novo no mercado para honrar o pagamento (Bruno Kelly/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de maio de 2018 às 12h26.
Última atualização em 2 de maio de 2018 às 12h27.
São Paulo - Uma das maiores empreiteiras do País, a Andrade Gutierrez deixou de pagar na segunda-feira, 30, R$ 1,2 bilhão (US$ 345 milhões) devido a credores que adquiriram títulos emitidos por ela no exterior.
A construtora mineira tenta levantar dinheiro novo no mercado para honrar o pagamento, informou a Andrade à agência de risco Fitch Ratings, que ontem rebaixou a classificação da empresa, dando a ela a segunda pior nota em sua escala de avaliação.
As negociações para fazer o pagamento da dívida estavam avançadas até meados da semana passada, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou R$ 508 milhões em bens da empresa por suposto superfaturamento no contrato de obras civis da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro.
Agora, com o calote, a companhia tornou-se vulnerável ao pedido de credores para antecipar o pagamento do que têm a receber.
A construtora aposta, porém, que nenhum investidor tomará essa medida antes de esgotado o chamado período de "cura", um prazo de carência de 30 dias dado aos devedores para acertar o débito. Mas os títulos emitidos pela Andrade não preveem esse tempo extra e, por isso, o risco a que a empresa está submetida é maior.
Mesmo assim, a empreiteira julga que os investidores aguardarão o pagamento, confiando que ela conseguirá levantar os recursos no mercado nas próximas semanas.
É a mesma aposta feita pela Odebrecht, outra grande empreiteira que foi obrigada a confessar crimes após o avanço das investigações da Lava Jato e enfrenta grave crise.
Na semana passada, a empresa baiana deixou de pagar R$ 500 milhões a credores estrangeiros e prometeu honrar a dívida assim que convencer bancos brasileiros a conceder novo empréstimo. Como a rival, a Andrade tem tido dificuldade de fechar acordo e obter dinheiro novo, especialmente depois da decisão do TCU.
As tentativas nos últimos meses incluíram bancos brasileiros e investidores estrangeiros com maior apetite ao risco, como a gestora Pimco.
O grupo mineiro tenta usar ações da companhia de concessões CCR, da qual é sócia, como garantia para essa nova dívida. Na Odebrecht, a operação envolve ações detidas pelo grupo na Braskem.
Sem o novo financiamento, a Andrade não tem como honrar o pagamento. Não há recursos em caixa suficientes para cobrir a dívida. Até setembro, último dado disponível, a empreiteira tinha R$ 665 milhões em caixa e uma dívida de R$ 2,1 bilhões, segundo a Fitch.
Apesar de conseguir R$ 4,4 bilhões em novos contratos, a carteira de projetos recuou para R$ 17 bilhões em março de 2017 (o novo balanço não foi divulgado). Em 2014, ano em que as construtoras foram envolvidas na Lava Jato, a empresa tinha um portfólio de R$ 30 bilhões em obras.
Com o escândalo de corrupção, além da dificuldade em conquistar novas obras, o grupo teve de queimar caixa, aportar capital e vender ativos para honrar compromissos.
Um dos últimos negócios foi a venda de 12,69% na Cemig - o que pode ter gerado quase R$ 600 milhões para a empresa. Antes disso, já havia se desfeito de participações na Oi e na Sanepar, empresa de saneamento do Paraná.
Ainda estão à venda a participação no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, no Sistema Produtor São Lourenço - uma parceira público-privada de saneamento em São Paulo - e uma participação indireta na Hidrelétrica Santo Antônio, no Rio Madeira - em negociação com grupos chineses. Procurada, a empreiteira não se pronunciou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.