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Com Ásia em alta, JBS diz estar pronta para voltar a crescer

Frigorífico reportou dívida menor e prejuízo de 2018 revertido. Agora, deve buscar aquisições e diz ter condições de atender mercado chinês na crise suína

JBS: resultados do trimestre foram melhor que as expectativas (Paulo Whitaker/Reuters)

JBS: resultados do trimestre foram melhor que as expectativas (Paulo Whitaker/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 15 de agosto de 2019 às 11h38.

Última atualização em 15 de agosto de 2019 às 11h49.

A JBS, maior processadora de carnes do planeta, está pronta para crescer ainda mais, segundo afirmaram seus executivos nesta quinta-feira. A empresa diz enfim ter caixa para uma nova leva de expansão, embora ainda siga em uma reformulação dois anos após o “Joesley Day” e seja ajudada por fatores externos — como a gripe suína africana que deve seguir alavancando as exportações para a China.

"Nos últimos dois anos o foco foi em crescimento exclusivamente orgânico. Agora, com a previsão financeira e as oportunidades de mercados que estão se apresentando, mudamos o nosso foco", disse o presidente Gilberto Tomazoni, no cargo desde dezembro de 2018, em conferência com analistas.

Dona de marcas como Seara e Friboi no Brasil, a JBS anunciou faturamento de 50,8 bilhões de reais no segundo trimestre, alta de 12,5% na comparação com o mesmo período de 2018. O lucro foi de 2,2 bilhões, o dobro do 1,1 bilhão do primeiro trimestre e revertendo um prejuízo de 911,1 milhões de reais no segundo trimestre do ano passado.

A margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) subiu de 9,4% no mesmo período do ano passado para 10% no segundo trimestre deste ano, o que a empresa afirma ser a terceira maior margem na última década.

As "oportunidades" às quais Tomazoni se refere vêm sobretudo da gripe suína africana, que refletiu no mercado asiático e em parte da Europa. Um relatório do banco Itaú BBA apontou que a gripe suína deve dizimar no mínimo 25% da criação de porcos do mundo, algo como 200 milhões de animais. O maior atingido é a China, dona de mais de metade do rebanho suíno do mundo, e que deve ter que sacrificar metade de seus animais.

Neste cenário, a JBS e outros frigoríficos, como a concorrente BRF, têm espaço para aumentar suas exportações para o desejado mercado chinês.

Na JBS, a Ásia foi responsável por 48% dos 3,3 bilhões de dólares em exportações do segundo trimestre. Os líderes foram China (24,6% das exportações da empresa, incluindo Hong Kong), Japão (13,7%), África e países do Oriente Médio (13,3%), Coreia do Sul (10,1%), Estados Unidos (9,3%), União Europeia (5,5%), México (5,5%) e América do Sul (3,6%).

A companhia, contudo, ressalta que já estava crescendo na Ásia antes mesmo da crise com a gripe suína. No acumulado de 2018, o continente foi responsável por 46% do total de exportações da JBS.

A JBS não informou projeções de como os resultados do segundo trimestre seriam sem os casos de gripe, mas Tomazoni afirma que o período pegou apenas o começo do efeito da crise suína nos resultados. Que começo. As exportações brasileiras de carne suína (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 63,6 mil toneladas no mês de junho, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O número é 81% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando foram exportadas 35 mil toneladas.

Na JBS, as operações na Austrália foram as que mais ganharam com a crise suína na China e aumentaram 85% no trimestre na comparação com o ano passado.

Aquisições à vista

Uma das notícias mais celebradas do trimestre foi que o fluxo de caixa livre também teve alta de 93%, chegando a 3,7 bilhões de reais, o que faz a JBS afirmar que está "muito bem preparada para capturar oportunidades de mercado". Dois anos após acordo que fez com bancos no Brasil para preservar linhas de crédito diante da crise com os irmãos Batista, a JBS já pagou mais de 13 bilhões de reais em dívidas.

Assim, novas aquisições podem vir, sobretudo de empresas procesadoras de alimentos, uma vez que a produção de proteínas já está espalhada por todas as regiões. Uma prévia de uma possível nova rodada de aquisições da JBS foi a compra, feita em abril, de uma unidade no Rio Grande do Sul da processadora de carne suína Adelle Indústria de Alimentos, por 235 milhões de reais.

A JBS também planeja uma possível listagem de suas ações nos Estados Unidos no futuro.

"Temos todas as condições de ser um fornecedores preferencial para a China", disse Tomazoni. "A JBS está pronta para crescer, mas de forma sustentável e com disciplina financeira."

Parte mérito da JBS, parte sorte pelo cenário externo, dizem os analistas. O banco BTG aponta que a JBS foi favorecida por "ciclo favorável" e "execução forte". Os resultados da empresa animaram os investidores, e a ação abriu o dia subindo mais de 7% após a conferência de resultados.

Muita gente acredita que a ação da JBS, negociada na casa dos 29 reais na manhã desta quinta-feira, ainda está abaixo do que poderia ser, com o Itaú BBA tendo aumentado seu preço-alvo de 32 para 35 reais em seu último relatório. Os analistas do Bradesco BBI, que colocam o preço alvo da ação em 28 reais, elogiaram o "fluxo de caixa sólido e a redução da alavancagem financeira podem permitir à JBS buscar aquisições em alimentos processados" e afirmam que, no futuro, podem aumentar o preço-alvo da ação.

Com a expectativa em relação ao mercado chinês, a ação da JBS já cresceu mais de 200% desde o começo do ano. E analistas acreditam que há espaço para mais.

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