Negócios

Com apelo de desfralde gentil, médica comanda negócio que fatura R$ 500 mil no Sul do país

Sabrina Aroucha é sócia da Clínica de Atendimento Integral da Criança (CAIC), que reúne 22 profissionais e atende 250 pacientes

Sabrina Aroucha, sócia da Clínica de Atendimento Integral da Criança (CAIC):“Tenho uma vida social, não vivo só do trabalho. Faço minha atividade física, durmo bem para ter energia no dia a dia. Acredito que o segredo é ter uma equipe em que você confie e consiga delegar”

Sabrina Aroucha, sócia da Clínica de Atendimento Integral da Criança (CAIC):“Tenho uma vida social, não vivo só do trabalho. Faço minha atividade física, durmo bem para ter energia no dia a dia. Acredito que o segredo é ter uma equipe em que você confie e consiga delegar”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 16h00.

A carioca Sabrina Aroucha viu sua vida mudar muito mais do que imaginava quando decidiu, há uma década, sair de Niterói (RJ) para fazer especializações de medicina. Ela acreditava que as duas residências, em pediatria no Hospital Infantil Joana de Gusmão (Florianópolis-SP), e em nefrologia pediátrica, no Instituto da Criança da USP (São Paulo-SP), seriam o bastante para compor seu currículo e garantir prosperidade. Mas os planos não saíram como o esperado. A médica se deparou com um mercado extremamente competitivo e as oportunidades de trabalho em hospitais não atenderam suas expectativas financeiras e de carreira. Foi aí que o empreendedorismo entrou em cena com a criação da Clínica de Atendimento Integral da Criança (CAIC), um espaço de saúde multiprofissional especializado em disfunções miccionais, que reúne 22 profissionais, atende 250 pacientes por mês e fatura R$ 500 mil por ano.

Ao lado de outra médica, Gisele Takaki, ela percebeu que a clínica seria o diferencial para sua área de atuação, já que auxiliaria nos problemas de micção em crianças e num processo de desfralde gentil, algo que não existia na capital catarinense. “Sempre sonhei com um local onde as famílias sentassem e fossem ouvidas, com um atendimento acolhedor: da recepção à consulta oferecemos uma assistência humanizada, que deveria ser o padrão na área da saúde”, diz.

Recentemente, Sabrina conquistou o 1º lugar na categoria Micro e Pequena Empresa do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios na etapa estadual durante o DELAS Summit 2024, em Florianópolis. “Representar as mulheres empreendedoras do Estado que escolhi para morar, sendo uma mulher preta, foi muito significativo”, diz.

Mas a trajetória até aqui foi cheia de desafios e a empresa só entrou na rota do sucesso depois de dois anos no vermelho.

“Não desisto fácil”

Para chegar à estrutura atual, foi preciso superar alguns obstáculos, como a pandemia. A decisão de fundar o negócio veio um pouco antes do período de confinamento por conta da covid-19 e atrapalhou os planos iniciais. “Levamos um ano planejando como seria a CAIC. Estudamos, abrimos o CNPJ, alugamos a sala, contratamos arquiteta e quando a obra começou, tudo parou. Tínhamos um espaço em um prédio de alto padrão e ficamos dois anos no negativo, investindo valores de outras frentes, para não quebrar de vez”, lembra.

Em meio aos desafios, Sabrina conta que descobriu uma veia empreendedora que não sabia que tinha, mas que começou na época da graduação quando fazia a gestão do centro acadêmico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A experiência prévia ajudou a dupla a ter paciência, um componente fundamental para quem deseja empreender. “Não desisto fácil. Levei cinco anos para passar no vestibular e sabia que era uma questão de tempo até as pessoas conhecerem o trabalho dos nossos profissionais e passarem a ver a saúde como um investimento, não como um gasto”.

Foi a persistência em ajudar as crianças que fez também com que a médica seguisse e adotasse o posicionamento de não atender planos de saúde, visando um tempo de consulta digno. “Se atendêssemos os convênios, com o repasse tradicionalmente baixo, haveria queda na qualidade e aumento da insatisfação dos pacientes”, diz. Foi essa estratégia de negócio, aliada à empatia pelas famílias, que fez a diferença.

Inovação e colaboração para expandir

Atualmente, a CAIC conta com uma equipe médica composta por diversas especialidades voltadas à pediatria, como fisioterapia (pélvica feminina, pediátrica, respiratória, do desenvolvimento e osteopatia), nutrição, terapia alimentar e fonoaudiologia. “Ter diversos profissionais no mesmo espaço, facilita a rotina das famílias e nos ajuda a discutir os casos e aprimorar a terapêutica”, explica.

Em três anos e meio de existência, a clínica já conseguiu sair do vermelho e este ano triplicou a instalação, que agora fica em uma casa de mais de 200 metros quadrados. Agora o objetivo é ir além dos atendimentos médicos e formar uma comunidade. “Em 2024, realizamos o primeiro Encontro CAIC de pediatria ambulatorial. Trouxemos temas técnicos e de inovação e gestão para os profissionais de saúde, e tivemos grandes empresas parceiras, como o Sebrae, que nos apoiou e foi fundamental para que o evento acontecesse”, diz.

Além disso, a meta de 2025 é aumentar em 40% o faturamento. Para isso, Sabrina pretende realizar palestras sobre conscientização da incontinência urinária à comunidade local, aumentar a frequência de curso de gestantes para um por trimestre, dobrar o número de participantes do Encontro CAIC de pediatria ambulatorial e trazer mais capacitações para as famílias e para profissionais da área da pediatria.

“Também pretendo estudar mais o sobre empreendedorismo e me tornar conselheira, além de levar a minha história como palestrante e inspirar outras pessoas”, afirma. Outro plano é continuar levando a bandeira do desfralde gentil para as famílias e as escolas, evitando danos à saúde das crianças.

O segredo para conciliar as demandas

Sabrina diz que não tem dificuldade em exercer as funções de empreendedora e médica ao mesmo tempo. “Tenho uma vida social, não vivo só do trabalho. Faço minha atividade física, durmo bem para ter energia no dia a dia. Acredito que o segredo é ter uma equipe em que você confie e consiga delegar”, explica.

A médica atende a especialidade de nefrologia pediátrica uma vez por semana na clínica, além de trabalhar em uma emergência pediátrica por duas tardes e atuar em uma startup de IA ocasionalmente. “Os  períodos em que não estou na linha de frente, atuo na gestão. Aprendi que empreender requer muito conhecimento e digo: não abra uma empresa por impulso ou por amizade. Entenda o seu negócio e estude. Quando você tem o conhecimento, o medo vai embora ou fica menor”, finaliza.

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