Negócios

Coisa de destino: ela trocou o Direito pela Astrologia e já atendeu 20 mil pessoas

Com seis mil clientes ativos e de todos os perfis – de engenheiros a empresários – Titi Vidal comanda um negócio que fatura R$ 800 mil por ano

Astróloga paulistana aposta em inovação e comunicação para criar um ecossistema completo na área. (Cesar Cinato)

Astróloga paulistana aposta em inovação e comunicação para criar um ecossistema completo na área. (Cesar Cinato)

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 2 de novembro de 2025 às 14h00.

Por uma década, a paulistana Titi Vidal seguiu um roteiro tradicional: faculdade de Direito, estágio e sociedade em um escritório. Até que decidiu seguir o chamado da astrologia, como ela mesma costuma dizer. O que parecia improvável, já que o campo é carregado de estigmas, se transformou em um ecossistema que reúne e-commerce, cursos, consultorias pessoais e corporativas e produção de conteúdo. Com mais de 20 mil atendimentos realizados, seis mil clientes ativos, uma base de 80 mil pessoas cadastradas na loja virtual e 67,7 mil seguidores no Instagram, está à frente de um negócio que fatura R$ 800 mil por ano.

Como reflexo do trabalho, consolidou-se como uma comunicadora multiplataforma – TV, podcasts, redes sociais – sendo a primeira apresentadora de um podcast de astrologia no Brasil, o Céu da Semana, original da Deezer, de 2018 a 2021. Depois, ao lado de Isabel Mueller, o Astrológicas, uma produção Globo, Gshow e Milk Podcasts. Entre os planos para os próximos meses estão voltar a conduzir um podcast, um pedido da audiência, e lançar um livro sobre a área para não astrólogos.

O hobby que virou carreira

Filha de um juiz e de uma economista, cresceu em um ambiente convencional. Após se formar como advogada pela PUC-SP, fez especialização na área de família e sucessões, e decidiu empreender com uma amiga. “Sempre tive essa vontade e não queria trabalhar para ninguém”, diz.

Dois anos depois, no entanto, um convite que parecia promissor a levou para o mundo corporativo. Titi chegou a trabalhar em duas empresas, mas, aos poucos, um interesse antigo começou a ocupar mais espaço. Durante a graduação, ela havia feito um curso de tarô e, em seguida, formou-se como astróloga. Por um tempo, viveu entre dois mundos: passava o dia entre petições e as noites em atendimentos e cursos. “Na minha cabeça, ninguém podia trabalhar só com astrologia”, lembra. Até que o hobby se tornou profissão. As consultas começaram a aumentar e o retorno financeiro também, superando o da primeira atividade. “Decidi me dedicar por um ano à área. Era algo com data para terminar e estou aqui até hoje.”

A paixão pela área vinha de longe. “Fiz meu primeiro mapa astral aos 14 anos e lia tudo o que encontrava sobre o assunto. Lembro que fazia os testes de revistas com minhas amigas e gostava de acrescentar interpretações e traçar o perfil de cada uma”. E o que começou como curiosidade acabou se tornando destino. “Chegou um momento em que o Direito já não cabia mais na minha vida.”

De frente com o preconceito

Com a procura aumentando, estruturou a empresa com formalizações e registro de marca. A base jurídica foi fundamental nessa etapa. Porém, apesar do reconhecimento dos clientes, precisou lidar com o preconceito e a resistência dentro de casa. Também havia estranhamento entre algumas amigas que, ao apresentá-la a alguém, faziam questão de mencionar todo o currículo como advogada antes de dizer que ela era astróloga.

Determinada a mostrar que a profissão tinha credibilidade e fundamento, decidiu apostar na comunicação com a criação de um blog, de uma newsletter semanal e de uma comunidade no Orkut. “No início meu objetivo era apenas ‘convencer’ amigos e família”, lembra. Mas não demorou muito para se tornar uma estratégia de crescimento e visibilidade. Titi passou a ser chamada para entrevistas e sua carreira deslanchou.

Testar, inovar e criar passou a ser seu diferencial. “Nunca gostei de fazer o que todo mundo faz. Sempre busquei desenvolver algo novo e me comunicar de forma autêntica”, afirma. Essa mentalidade se transformou em um dos pilares do negócio, que hoje vai muito além das sessões individuais. Há uma operação com produtos próprios, desde mapas personalizados e planners até cursos e workshops para quem deseja se profissionalizar no segmento. O resultado é um público diverso, que reflete o alcance da sua atuação. “Atendo juízes, médicos, advogados, engenheiros, empresários e pessoas de diferentes classes sociais”.

Outro ponto fundamental é a vontade de aprender continuamente e se reinventar, se for preciso.  “O mercado muda constantemente. Já existe mapa astral mais barato elaborado pela inteligência artificial e preciso de novas estratégias de posicionamento e comunicação para mostrar que meu trabalho é diferente”, explica. Para ela, continuar em movimento é parte de empreender, sempre tendo em mente o que cada setor demanda. “A astrologia é um olhar para a vida. Se vou atender uma criança, tenho que saber dos ciclos infantis; já uma companhia, preciso conhecer sobre estrutura organizacional e mercado. E amo estudar”, explica.

Além da formação em Direito e Astrologia, tem pós-graduação em Jornalismo e Influência Digital, mestrado em Comunicação Social, especializações em Radiestesia, Tarô, Lenormand, Psicologia e Autoconhecimento, e é Terapeuta de Constelações Familiares. Este ano, iniciou a graduação em Ciências Biológicas – atualmente em pausa para focar em outras frentes.

Persistir, confiar e equilibrar

Na visão de Titi, construir um empreendimento sólido nessa área exige paixão, conhecimento, comunicação e inovação. “Sou movida pela vontade de fazer diferença na vida das pessoas e acredito que o sucesso vem como consequência”, diz. Destaca, ainda, a importância das conexões e da colaboração. “Ninguém cresce sozinho. Precisamos dos clientes, amigos, funcionários.”

Apesar do sucesso, o preconceito ainda aparece em alguns ambientes. “Muitas portas se fecharam (e fecham) pelo simples fato de eu ser astróloga. Se eu tivesse outro título, talvez me chamassem mais para falar sobre empreendedorismo, por exemplo”, observa. Ainda assim, se mantém firme em seu propósito. “Persistência e autoconfiança são os segredos. Se eu não acreditasse em mim, já teria desistido.”

Mesmo com a agenda intensa, faz questão de manter uma rotina equilibrada, com tempo para a filha, amigos, terapias, exercícios físicos e cursos. “Estar bem é parte do trabalho. Cuidar de mim é o que me permite continuar produzindo”, finaliza.

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