Sala de aula da Kroton: empresa começa a retomar matrículas em cursos presenciais (Germano Lüders/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 17 de novembro de 2021 às 16h45.
Última atualização em 19 de novembro de 2021 às 10h22.
Os dias difíceis da companhia de educação Cogna ainda não acabaram. Os resultados do terceiro trimestre de 2021 mostram que, apesar dos esforços para sair do sufoco, a empresa continua em ritmo lento. A receita do período foi de 1,17 bilhão de reais, a mais baixa para um trimestre desde 2016. Já o prejuízo no período ficou em 122 milhões de reais. A empresa perdeu mais de 80% de seu valor de mercado desde 2017 e vale hoje 4,9 bilhão de reais na bolsa. Ainda assim, seus executivos afirmam que a empresa vive um ponto de inflexão.
A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio praticamente todas as empresas do setor de educação. O ensino presencial, mais caro que os cursos online, foi duramente afetado, reduzindo receitas e colocando o setor em alerta. Mas, no caso da Cogna, o susto chegou em péssima hora, quando a companhia já se debatia com seus próprios problemas. Passado o momento mais crítico da pandemia, e com a retomada das aulas presenciais, a expectativa é de que as coisas fiquem no mínimo menos difíceis.
Em relatório, o banco BTG Pactual destaca que a administração da Cogna “acredita que este trimestre marca um ponto de inflexão para seus ciclos de captação de alunos (especialmente no ensino presencial) e está confiante em um melhor cenário no primeiro semestre de 2022”.
Os números do terceiro trimestre já mostram uma retomada na captação de alunos no ensino presencial. Foram 32 mil matrículas, ante 24 mil no terceiro trimestre de 2020, auge da pandemia. É um crescimento, mas ainda pequeno se comparado às 66 mil matrículas do terceiro trimestre de 2019, em um cenário pré-covid, como destaca o banco Credit Suisse. “Com as formaturas e evasões, a base de estudantes presenciais chegou a seu ponto mais baixo desde 2014 (com 199 mil estudantes)”, diz o banco em relatório.
Não se deve esperar, no entanto, que o número de alunos presenciais volte aos patamares anteriores. Parte importante do turn around da Cogna é justamente a mudança do perfil de alunos da Kroton, a sua subsidiária de ensino superior. Antes a companhia atendia a uma massa de alunos de classe social mais baixa, mais suscetível aos solavancos da economia, e com mais risco de inadimplência. Agora, busca estudantes dispostos a pagar um pouco mais, e menos sensíveis ao cenário macroeconômico. Mesmo que para isso precise ter menos estudantes no total.
“O resultado da Cogna não foi forte, mas nossa visão não é de todo ruim. A Cogna fez um processo de turn around, com venda de ativos fixos, diminuindo estruturas, focando em um segmento de ticket mais alto, com alunos de perfil diferente”, afirma Leo Monteiro, analista de Research da Ativa Investimentos.
O Credit Suisse destacou entre as boas notícias do trimestre o fato de que a Cogna conseguiu reduzir seus recebíveis para 50 dias (menos 21 dias na comparação com o trimestre anterior), resultado na melhor seleção de estudantes.
A questão é que o negócio de ensino presencial – justamente aquele que precisou passar por ajustes -- tem enorme peso no resultado final da companhia. “A parte de ensino presencial da Kroton continua impactando muito a empresa. É um segmento com perspectivas futuras, mas os resultados continuam fracos”, diz Monteiro, da Ativa.
Além de apertar os parafusos no modelo de negócio da Kroton, a Cogna tem buscado outras frentes de atuação, a fim de depender menos do ensino superior presencial. Uma das principais apostas para essa diversificação está na subsidiária Vasta. A companhia vende sistemas de ensino, plataforma digital de estudos e serviços de gestão para escolas de educação básica. A avaliação é de que este ainda é um mercado pouco explorado, cheio de oportunidades.
No terceiro trimestre de 2021, porém, a Vasta impactou negativamente o balanço da Cogna. A subsidiária foi fortemente impactada pela segunda onda da pandemia, o que comprometeu seus resultados em 2021. A expectativa é de que os números venham melhores nos próximos trimestres – boa parte do trabalho da Vasta nos últimos meses foi no fechamento de contratos para 2022. A previsão é de que a subsidiária cresça 32% em 2022, impulsionada pela aquisição recente da Eleva. Sem considerar a aquisição, o crescimento deve ser de 20%.
Na visão dos analistas do Credit Suisse, a Cogna “está mais bem equipada do que antes, principalmente no que se refere à gestão e custos e ciclos de pagamento”. Ainda assim, a conclusão é de que “é cedo para assumir que a Cogna vai entrar em um novo ciclo de crescimento apesar das melhorias”
No BTG Pactual, a avaliação é semelhante. Para os analistas do banco, “o cenário para o segmento de graduação continua desafiador dado o nível operacional negativo dos campus da Kroton”.
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