Negócios

A estratégia da construtora Plaenge que dobrou vendas na pandemia e agora mira R$ 3 bilhões

A empresa que levantou fábricas da Coca-Cola e da Atlas Elevadores, aposta hoje em moradias de luxo e usará o mesmo plano de negócio de mais de 5 décadas para fechar mais um ano bilionário

Alexandre Fabian, sócio-diretor na Plaenge Empreendimentos: É o terceiro ano em que a Plaenge é a segunda maior operação de médio/alto padrão no Brasil (Plaenge/Divulgação)

Alexandre Fabian, sócio-diretor na Plaenge Empreendimentos: É o terceiro ano em que a Plaenge é a segunda maior operação de médio/alto padrão no Brasil (Plaenge/Divulgação)

Publicado em 5 de fevereiro de 2024 às 11h30.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2024 às 16h07.

A construtora paranaense Plaenge tem a meta de chegar a vendas líquidas de até 3,2 bilhões de reais em 2024 em empreendimentos de médio e alto padrão no Brasil e no Chile. Caso tudo saia conforme o planejado, será uma expansão e tanto para uma construtora que dobrou de tamanho desde a pandemia. Para ter uma ideia da expansão, em 2019, a companhia fundada em Londrina, no norte do Paraná, teve vendas de 1,2 bilhão de reais.

O patamar de negócios almejado pela Plaenge não fica muito longe das maiores do setor no país. A Cyrela, por exemplo, teve um valor geral de vendas, o VGV, de 6,6 bilhões de reais no ano passado, enquanto a Plaenge chegou em 2,9 bilhões de reais em projetos e 20 novos empreendimentos no Brasil e no Chile.

"É o terceiro ano em que a Plaenge é a segunda maior operação de imóveis de médio ou alto padrão", diz Alexandre Fabian, sócio-diretor da Plaenge. "Somos a maior do setor entre as empresas de capital fechado do Brasil."

Para alcançar a meta deste ano, a Plaenge usará a mesma estratégia que a ajudou a chegar até aqui em 54 anos de trajetória.

A companhia seguirá como uma empresa de capital fechado, investirá pontualmente em quatro grandes capitais e nas cidades onde já possui operações.

Além disso, o foco geográfico, na visão dos executivos da empresa, facilita uma das características da Plaenge em cinco décadas: a verticalização. Assim como em outras grandes do ramo imobiliário, é a própria Plaenge quem compra os terrenos, organiza a construção do imóvel e, depois, faz a venda diretamente para o cliente.

"Alcançamos um resultado muito expressivo o ano passado, acima do nosso planejamento, demonstrando o quanto o mercado imobiliário estava aquecido para o nosso nicho de alto padrão", diz Fabian.

"Para 2024, temos uma expectativa positiva com possibilidade de alavancar resultados e gerar valor."

A única mudança: o core business

A construtora Plaenge começou sua história no Brasil em 1970. A primeira grande obra foi a fábrica da Coca-Cola, em 1971, em Londrina. A expertise nesse tipo de obra abriu espaço para a companhia construir 60% das fábricas da Coca-Cola no Brasil desde então.

Esse tipo de negócio, conhecido como empreendimento corporativo, foi um marco da primeira geração da companhia, liderada pelo fundador Ézaro Fabian, engenheiro industrial formado pela FEI, em São Paulo, que empreendeu em Londrina em função da pujança da cidade nos anos 70 na esteira do agronegócio.

Com a passada de bastão para os filhos Alexandre e Fernando, o core business da Plaenge mudou: hoje, o foco está nos empreendimentos é de médio e alto padrão.

"A empresa foi aprendendo a trabalhar em diferentes mercados. Eu e o Fernando nos formamos em engenharia na Poli, da USP, em meados dos anos 80 e entramos como sócios aumentando a escala de desenvolvimento imobiliário. Com o tempo, o novo ramo foi crescendo", diz Fabian.

Ainda assim, a demanda que deu origem ao negócio segue no DNA da Plaenge. Em 2019, a Plaenge ergueu uma fábrica da Coca-Cola em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

"É uma fábrica 4.0, toda automatizada, e, em 2019, foi a maior obra industrial do Rio de Janeiro", diz Fabian.

Na pandemia, a Plaenge também fez uma fábrica para o Cacique Café Solúveis em Linhares, no norte do Espírito Santo. Atualmente, estão construindo a nova sede do edifício da fábrica da Atlas Elevadores, no Paraná.

"O empreendimento corporativo marcou a nossa história, mas hoje é uma atividade secundária, mais de 95% do nosso volume é de desenvolvimento imobiliário", diz ele.

As estratégias de negócios que não mudaram

Capital fechado

Uma das decisões que ajudou a Plaenge a mirar vendas líquidas acima de 3 bilhões de reais este ano foi não terem surfado na onda das empresas que abriram capital por volta de 2006.

"Optamos por não abrir capital porque queremos fazer um crescimento orgânico. O desafio era conseguir ter controle de uma operação eficiente em várias cidades, por isso que nós não abrimos capital e ficamos bem satisfeitos com essa decisão, que se mantém como uma das nossas estratégias de negócio", afirma o sócio-diretor.

O investimento em novas áreas

O valor de 2,9 bilhões de reais de lançamentos e de 2,7 bilhões em vendas líquidas em 2023 foi um acumulado dos resultados dos 20 empreendimentos lançados no último ano, diz o executivo, que reforça que são imóveis distribuídos em diferentes cidades do Brasil e no sul do Chile.

Algumas regiões apresentaram destaque no volume de vendas e por isso devem receber um aporte maior em 2024. "O foco do crescimento para este ano está nas novas cidades, Campinas, São Paulo, Porto Alegre a Santiago do Chile".

"Nas cidades onde já trabalhamos, vamos manter o volume de três a quatro lançamentos por ano e vamos também investir em condomínios fechados”, diz Fabian.

Entre as obras com maior número de vendas em 2023, o executivo destaca o primeiro lançamento em São Paulo, no bairro Moema, em que venderam 70% do VGV do valor do empreendimento. Outro projeto de destaque foi um lançamento que fizeram em um condomínio fechado de lotes de altíssimo luxo em Campo Grande, MS, em que venderam 400 milhões de reais em menos de uma semana.

Além das novas cidades, outra aposta da companhia neste ano será os condomínios fechados, devido ao bom banco de terrenos que possui há alguns anos.

Os bairros planejados possuem um ciclo bem mais longo entre comprar e lançar um terreno. Os edifícios verticais, segundo Fabian, levam em média dois anos entre você comprar e lançar. No horizontal, entre você comprar e lançar levam em média de 6 a 8 anos.

Como a companhia investiu em várias áreas em 2014, nos próximos anos terá uma “safra” grande de lançamentos de condomínios. “Temos muitos condomínios em preparação. Nesse ano vamos lançar um em Campo Grande e no ano que vem em Curitiba e Ponta Grossa; sempre condomínios fechados e sempre de médio e alto padrão”, afirma Fabian.

Com cinco décadas de história no Brasil, a Plaenge chegou na capital paulista apenas no ano passado, e segundo Fabian foi um movimento calculado com os pés no chão para dar realmente o resultado esperado.

“São Paulo é um desafio diferente, porque é uma cidade que foge muito da lógica das outras cidades pelo tamanho e pelo valor dos terrenos. Tínhamos mais oportunidades de ter um retorno mais rápido em outras cidades, porque pagamos mais baratos nos terrenos. Também buscamos criar estrutura para crescer nesta megacidade.”

O olhar para fora

A ideia de investir em outro país veio com a experiência de investir em construções em diferentes cidades. “Quando você atua em cidades diferentes, por exemplo, você pega uma curva diferente da situação do estado, e com isso você consegue uma estabilidade melhor de receita de resultado, porque você sempre vai dar uma região que vai estar um pouco melhor”, diz Fabian.

De regiões em que o agronegócio dominava, como MT e MS, a Plaenge foi também chegando em regiões industriais como Joinville, SC, até que um dia uma proposta para investir no Chile apareceu.

“Dentro dessa filosofia de atuar em outra região geográfica que está num outro ciclo econômico, surgiu a vontade de atuar em outro país. Escolhemos o Chile por ser um país que tem bastante estabilidade econômica e é receptivo ao capital externo”, diz o sócio-diretor.

Em 2023, fez 15 anos que a Plaenge chegou no sul do Chile. Na época a oportunidade era de comprar uma construtora pequena, diz Fabian. “Começamos com 51% da companhia. “Depois de 5 anos compramos a operação de outros sócios e ficamos sozinhos, com a operação crescendo até hoje.”

Do faturamento de 2023, as operações no Sul do Chile representam ano a ano aproximadamente 15% do volume. “Agora a ideia é fazer essa expansão para a capital Santiago, que é uma cidade que tem outra escala. É uma cidade grande e com uma renda per capita bem alta”, diz o sócio-diretor.

Com previsão de lançamento para o primeiro semestre deste ano, o primeiro projeto em Santiago vai contar com sete torres e receberá o nome de “Distrito Paulista”. O público será média/alta, com apartamentos na faixa de 70 a 110 metros quadrados. “O imóvel de alto padrão fica em um bairro que tem muitos escritórios e pouca oferta de apartamento. A expectativa é alta”.

Negócio verticalizado

O ano em que a Plaenge chegou ao marco de 50 anos de história no Brasil foi um dos períodos mais desafiadores, não só para a companhia, mas para todos os setores da economia nacional e global. O ano era 2020, em pleno a crise sanitária da Covid-19.

“Na época nós tínhamos umas 60 obras em andamento espalhadas e o primeiro desafio foi passar todos para home office e parar todas as obras”, afirma Fabian que além de colocar cerca de 500 pessoas do administrativo em regime remoto, de diversas cidades com diferentes condições de conexão, precisou também passar toda a parte de assinatura dos contratos para a forma digital.

Com as obras paradas, Fabian disse que o outro desafio foi acompanhar as decisões sanitárias de cada cidade e logo depois fazer a gestão da equipe que trabalhava nos canteiros.

“As obras ficavam voltando e parando cada hora em uma cidade diferente, porque essa atribuição estava sob controle da prefeitura. Como o canteiro de obra era um lugar aberto, foi uma atividade que acabou voltando logo e tivemos que fazer toda gestão da equipe, além da logística dos suprimentos, que deu muito trabalho devido às restrições”, afirma Fabian.

Outra questão que pesou foi a explosão dos custos dos insumos, segundo o executivo. “O aço, por exemplo, chegou a mais que dobrar de preço, e o aço tem um peso de 8% no orçamento de obra. Só aí houve um aumento de 4% em todas as obras que estavam em andamento.”

Apesar dos impactos que a economia nacional e global sofreu com a pandemia, a Plaenge conseguiu superar os desafios do momento devido ao modelo verticalizado que adotaram desde a sua fundação.

“Conseguimos nos destacar em um momento difícil, porque temos uma estratégia verticalizada, que passa por todos os processos de uma construção. Nós compramos os terrenos, coordenamos os projetos, construímos, lançamos e vendemos, não é toda empresa que constrói os seus próprios empreendimentos”, diz Fabian.

Com muitas pessoas trabalhando em home office, as vendas de imóveis começaram a aquecer no segundo semestre de 2020 e no primeiro semestre de 2021, segundo Fabian.

“Tivemos bastante sucesso de vendas no segundo semestre de 2020, porque não paramos os projetos, ou seja, continuamos a aprovar projetos com a prefeitura e a investir em maquetes com imagem virtual. Enquanto avançamos no que estávamos ao nosso alcance, outras empresas desaceleraram.”

Desde o ano da pandemia, a Plaenge cresce de forma significativa em vendas líquidas:

  • Em 2019: 1,198 bi
  • Em 2020: 1,508 bi
  • Em 2021: 1,904 bi
  • Em 2022: 1,980 bi
  • Em 2023: 2,778 bi

“De 2019 para 2023 tivemos um crescimento médio de 26% ao ano, que é bastante coisa”, afirma Fabian.

A prospecção de novos terrenos

A Plaente chega em 2024 com 79 empreendimentos em fase de obra no Brasil e no Chile que estão divididas em dois estilos: a Plaenge, que é a marca premium, e a Vanguard, focada no público jovem. “A Vanguard representa 35% do nosso volume e a Plaenge 65%”, diz Fabian.

Para manter o ritmo de crescimento dos últimos anos, a prospecção e compra de terremos da companhia segue focada em imóveis verticais, com condomínios ganhando espaço cada vez maior nos negócios da companhia.

“Atualmente temos no land bank 124 terrenos nas diferentes cidades em que atuamos e 17,8 bilhões de reais de VGV. Desses 17,8 bilhões, 4,7 bi de reais são de desenvolvimento urbano. O que sobrou foram 13 bilhões de reais que é a parte de vertical que deve gerar uns 4 anos de estoque”, diz Fabian.

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