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Coaching: a importância do jogo interior

Durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em agosto, a atenção deve se voltar para as estratégias e os métodos dos treinadores de atletas vencedores, uma área com muitos pontos em comum com o coaching de profissionais da iniciativa privada. Vários campeões de modalidades diferentes seguem a filosofia conhecida como inner game, ou “jogo interior”, […]

PEP GUARDIOLA: ex-técnico do Barcelona ajuda a entender a importância da humildade nos negócios / Jasper Juinen/Getty Images

PEP GUARDIOLA: ex-técnico do Barcelona ajuda a entender a importância da humildade nos negócios / Jasper Juinen/Getty Images

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2016 às 20h33.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h43.

Durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em agosto, a atenção deve se voltar para as estratégias e os métodos dos treinadores de atletas vencedores, uma área com muitos pontos em comum com o coaching de profissionais da iniciativa privada. Vários campeões de modalidades diferentes seguem a filosofia conhecida como inner game, ou “jogo interior”, criada há cerca de quatro décadas por Tim Gallwey, então um técnico de tênis americano. Gallwey argumenta que o caminho para a vitória é não querer apenas ganhar. Parece paradoxal, mas não é. “Ter a vitória como o único objetivo não funciona”, me disse ele num encontro que tivemos em meados de 2015. De acordo com Gallwey, os atletas aproximam-se da vitória quando entendem que competem pelo que aprendem enquanto estão competindo: o significado de motivação, determinação, comprometimento, capacidade de superar obstáculos, medos e dúvidas.  

A conversa com Gallwey, considerado o pai de todos os coaches, foi o ponto de partida de uma grande viagem que estou fazendo para conhecer de perto, e a fundo, alguns dos treinadores mais bem-sucedidos do mundo. Meu objetivo é escrever um livro sobre como o coaching leva à vitória – não apenas dizendo que o objetivo é vencer, como ensina Gallwey. O coaching de excelência, transformador, sempre me interessou, seja como tenista, como empresário, gestor e pai. Alguns coaches estão bem perto, como José Roberto Guimarães, técnico da vitoriosa seleção feminina de vôlei do Brasil. José Roberto me contou que, até por não ter sido tão talentoso como jogador, sempre se preocupa em estudar em profundidade as melhores jogadoras do mundo. Seu objetivo é desafiar as suas atletas. “Quero saber tudo. Desde por que se tornaram as melhores até os movimentos que fazem, passando pelo modo como leem o jogo”. É um esforço de benchmarking constante, que ultrapassa as fronteiras do vôlei. “Vi um filme de beisebol em que um sujeito com um radar media a velocidade do arremesso de um jogador em teste. Trouxemos dois radares e começamos a testar a velocidade do ataque e do saque das jogadoras, das nossas e das concorrentes, fazendo um paralelo para as nossas terem noção de onde tínhamos de chegar”. Diante das evidências, as atletas aceitaram fazer um treinamento mais intenso para fortalecer os membros superiores, algo que resistiam. 

Larisa Preobrazhenskaya, que, antes de morrer em 2009, ficou célebre por treinar muitas campeãs do tênis, como Anna Kournikova, tinha outro ensinamento valioso. Sua pupila Evgeniya Kulikovskaya, que treinou com ela entre 1997 e 2004, diz que Larisa exigia alta técnica, mas oferecia um forte apoio emocional. “Como ela não tinha filhos, dava amor para os alunos. Nunca nos julgava, sempre achava tempo e vontade para nos apoiar em nossas vidas pessoais. Todas nós a amávamos”, lembra Evgeniya.

Entender o coaching de excelência não é descrever técnicas, táticas e estratégias. É muito mais do que isso. Significa achar respostas para perguntas essenciais: como um coach aprende? Como faz os outros aprender? Como desenvolve um método vencedor? É possível ele ou ela criar um ambiente que predisponha à vitória? Quais as semelhanças e diferenças entre o coaching individual e o coletivo? Como impedir que a perda de uma competição vire uma sequência de fracassos?

O exemplo de Pep Guardiola, técnico recém-contratado pelo Manchester City, ajuda a entender o papel da humildade no coaching. Quem conta é Mauro Silva, jogador da seleção tetracampeã de 1994: “Eu machuquei o joelho durante a Copa de 1994. Tomei anti-inflamatório e joguei a final em que fomos campeões, mas, quando voltei para o La Coruña e comecei a treinar, tive de operá-lo. Mandaram-me fazer a cirurgia em Barcelona, e, enquanto me recuperava, o Guardiola foi ao hospital me visitar. Nunca tinha jogado no Barcelona, mas ele fez essa deferência”. Como conta Mauro Silva, a pequena história revela a humildade de Guardiola e também outro ponto: “Para ele, o futebol também é uma maneira de transmitir valores e melhorar a sociedade.” 

Troque, na frase anterior, a palavra futebol pela expressão “mundo dos negócios” e pense se continua fazendo sentido. Seja no futebol, no tênis, no vôlei, na vida familiar ou nas empresas, um coach de sucesso segue sempre as mesmas linhas.

(José Salibi Neto

 

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