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Cloroquina, refugiados e fast-food: quem é Carlos Wizard

Bilionário e dono de uma empresa com 20 investimentos, Carlos Wizard anunciou na noite de ontem sua desistência de uma secretaria do Ministério da Saúde

Carlos Wizard: empresário desistiu de posto no Ministério da Saúde (Miguel Schincariol/AFP)

Carlos Wizard: empresário desistiu de posto no Ministério da Saúde (Miguel Schincariol/AFP)

Felipe Giacomelli

Felipe Giacomelli

Publicado em 8 de junho de 2020 às 08h59.

Última atualização em 8 de junho de 2020 às 16h40.

Em meio ao vaivém dos números de casos e mortes de coronavírus no Brasil, um empresário ganhou as manchetes nos últimos dias.

É Carlos Wizard, um bilionário que construiu do zero um império da educação e que num intervalo de poucos dias aceitou para depois descartar a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Entre outras funções o órgão é responsável pela compra de vacinas e remédios para o novo coronavírus e também de respiradores.

Wizard já atuava como conselheiro do ministério desde o final de maio e já vinha se reunindo com a equipe do ministro interino. O empresário foi anunciado no novo cargo na segunda-feira dia 1o. Seu trabalho seria o de coordenar os esforços de combate à covid-19 e agregar a eficiência privada ao mundo governamental. “Com a minha experiência em negociação, em apenas uma compra já economizei 100 milhões de reais do orçamento”, disse Wizard à EXAME.

Na mesma entrevista, disse que daria enfoque à disponibilização da hidroxicloroquina, remédio de eficiência não comprovada no tratamento da covid-19. “Existem centenas de estudos atestando a sua eficácia”, disse.  

Na sexta-feira dia 5, o empresário iniciou uma enorme polêmica ao afirmar que estados brasileiros estariam “inflando” o número de mortos e casos do novo coronavírus. Desde o boletim daquele dia, o governo federal deixou de apresentar o número total de mortes e de casos de covid-19, informação que sumiu do site oficial sobre a doença. Os balanços também passaram a ser publicados às 22 horas, em vez de 19 horas. Bolsonaro afirmou que o Jornal Nacional não poderia mais divulgar as informações diariamente, numa medida sem nenhuma explicação plausível.

O Ministério Público Federal (MPF) abriu procedimento extrajudicial para apurar o atraso do Ministério da Saúde na divulgação dos dados. A universidade americana Johns Hopkins, que consolida os casos globais, chegou a excluir o Brasil do ranking global no sábado (depois, os dados voltaram). Numa escalada da confusão, na noite de ontem o Ministério da Saúde anunciou dois dados diferentes sobre o número de mortes diárias.

Wizard foi parar no governo por intermediação de Eduardo Pazuello, militar que comanda interinamente o Ministério da Saúde. Os dois se conheceram em Roraima, onde Wizard atuou no auxílio a refugiados venezuelanos. Ontem, foi ao militar que o empresário agradeceu, ao anunciar sua saída da secretaria. “Agradeço ao ministro Eduardo Pazuello pela confiança, porém decidi não aceitar para continuar me dedicando de forma solidária e independente aos trabalhos sociais que iniciei em 2018 em Roraima”, disse Wizard em nota.

“Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”, disse na nota.

A turbulenta passagem do empresário gerou uma série de críticas, dentro e fora do Brasil. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, afirmou que "brincar com a morte é perverso". "Um ministério que tortura números cria um universo paralelo para não enfrentar a realidade dos fatos", publicou em sua conta no Twitter.

Fundador da escola de inglês Wizard, vendida para o grupo britânico Pearson por 2 bilhões de reais, o empresário atualmente comanda o grupo Sforza. Trata-se de uma holding que atua nas áreas de fast-food, com as redes Pizza Hut, KFC e Taco Bells; de alimentação saudável, com a rede Mundo Verde; e também no setor de educação, com a escola de inglês Wise Up, que controla em sociedade com o empresário Flávio Augusto da Silva.

No último ano, Wizard tirou um sabático para fazer trabalho voluntário no apoio a refugiados venezuelanos em Roraima. Graças a negociações com empresas aéreas e com instituições sociais, ele e sua mulher ajudaram mais de 12.000 pessoas a se estabelecer nas regiões Sul e Sudeste do país, aliviando os efeitos da crise migratória na fronteira. A EXAME, Wizard disse que encarava o convite para a secretaria como uma "continuidade da minha missão humanitária".

Em entrevista publicada pela revista EXAME em maio, Wizard afirmou que sua experiência em Roraima desenvolveu seu lado comunitário. "No mundo empresarial, estamos voltados para o faturamento e para o lucro dos negócios. Tudo é muito racional. Quando você se despe dessa armadura corporativa, está olhando para um ser humano, independentemente das circunstâncias", disse. "Eu espero que, depois desta pandemia, as empresas possam se reinventar, se redefinir e valorizar muito mais o ser humano. Sem pessoas, não existem empresas."

Wizard diz que, agora, vai voltar a se dedicar ao trabalho comunitário. Precisará de tempo para reconstruir a reputação que implodiu em uma semana.

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