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ClearSale cresce no 3º tri, mas efeitos não recorrentes derrubam lucro

Companhia registrou aumento de 23,8% em receita, mas despesas cresceram 314%, impactadas por gastos com IPO e plano de incentivo de executivos

Companhia quer continuar acelerando crescimento (Cauê Diniz/Divulgação)

Companhia quer continuar acelerando crescimento (Cauê Diniz/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 20h19.

Última atualização em 16 de novembro de 2021 às 20h22.

A ClearSale, empresa especializada em soluções antifraude, mostrou em seu primeiro balanço um resultado alinhado com o prospecto de abertura de capital: aumentou a receita em 23,8% na comparação anual, atingindo R$ 116,2 milhões, e derrubou a margem bruta em 8,9 p.p. na comparação com o terceiro trimestre de 2020. O objetivo é, como em muitas empresas de tecnologia, crescer de forma acelerada. Como resultado dessa estratégia, somada aos efeitos não recorrentes de custos com IPO e plano de incentivo de executivos, o lucro líquido passou de 4,1 milhões para -45,2 milhões. Excluindo esses efeitos, o lucro líquido ajustado ficaria  positivo em 7 milhões, crescimento de 3,9% na comparação anual.

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A principal avenida para o crescimento da companhia, também como prometido aos investidores, está na operação de "Onboarding" -- que se dedica a fornecer segurança a operações principalmente financeiras, barrando fraudes de cadastro -- que cresceu 61% em receita líquida, atingindo R$ 33 milhões. A maior vertical permanece sendo a de soluções antifraude para e-commerce, que somou R$ 68,8 milhões (crescimento de 13%) nos clientes nacionais e R$ 14,5 milhões (crescimento também de 13%) com os clientes internacionais.

O número de clientes dentro dessa vertical ajudou a empurrar a receita para cima, nas palavras do CEO, Bernardo Lustosa. No terceiro trimestre, a companhia aumentou em 32,4% a base de clientes, atingindo 5,020 mil. Desse total, a vertical de Onboarding passou a ter 162 clientes (ante 148 no ano passado). 

O diferencial da ferramenta está, como a companhia afirma, na riqueza de dados que construiu ao longo dos anos. Com um data lake de mais de 3 bilhões de dados, o objetivo da ClearSale é autenticar transações com um cruzamento múltiplo de informações, evitando o uso de ferramentas como biometria. O objetivo final é criar uma ferramenta que facilite a validação de cadastros em instituições financeiras de forma rápida.

“Queremos transformar essa ferramenta na preferida para autenticação de diferentes fluxos que os clientes queiram. Hoje, grandes empresas já aderiram ao onboarding e vamos concentrar ao longo do tempo nossos esforços em capturar também as empresas de médio porte até chegar no long tail. Investimos em inteligência artificial e humana para aperfeiçoá-la cada vez mais”, afirma Bernardo Lustosa, CEO da ClearSale, à EXAME.

Para se apoiar nesse crescimento, alguns dados da pesquisa Febraban de tecnologia bancária mostram um cenário otimista: em 2020, houve crescimento de 44% na contratação de crédito via mobile banking, e queda de 23% na contratação dos serviços nos canais presenciais. A abertura de contas digitais também explodiu: aumento de 90% em 2020, ante 52% feito de forma presencial. 

Hoje, a ferramenta ainda não está totalmente pronta -- cerca de 88% concluída, nas palavras do executivo -- mas, no acumulado do ano, os novos contratos feitos nesta vertical já correspondem a 99,3% da receita obtida com as novas vendas do serviço em 2020. Em um período de inflação elevada e redução do poder de compra do varejo, faz sentido -- ainda mais -- intensificar os esforços em uma vertical ligada às transações, onde a maior oportunidade de rentabilidade está. 

Para garantir essa captação, os esforços de marketing e de operações também se refletiram no balanço apresentado pela companhia. A estrutura comercial teve incremento de 36% no ano, gerando R$ 4,5 milhões a mais em despesas. Também aumentaram no trimestre as equipes de TI, Analytics e Comercial, com impacto aproximado de R$ 3,2 milhões ante o mesmo período do ano anterior. Somadas aos efeitos não recorrentes (de R$ 64,7 milhões), as despesas somaram R$ 103,9 milhões, ante R$ 25,1 milhões no mesmo período do ano anterior. 

A alavancagem operacional foi de 89,4%, 62,7 p.p, maior do que a do mesmo período do ano anterior. Desconsiderados os efeitos, a alavancagem operacional seria de aproximadamente 34%. No período, o EBITDA também foi negativo, em R$ 54,5 milhões, com margem EBITDA negativa em R$ 46,8 milhões.

Na ponta positiva, a empresa mostrou que tem espaço para crescer. O LTV/CAC (métrica que correlaciona vida útil aos custos para adquirir clientes) permaneceu o mesmo, em 13 vezes. Para efeito de comparação, um índice saudável, que mostre crescimento de empresas de software-as-a-service, é considerado a partir de 3 vezes. 

Aliado a isso, a companhia também apresentou redução no churn no acumulado do ano: de 3,5% em 2020 para 1,9% em 2021 -- mostrando que conseguiu uma base sustentável de crescimento no período.

“Mesmo tendo IPO, mesmo aumentando em 65% o time técnico e estruturando o departamento financeiro, estamos crescendo a uma taxa alta e gerando caixa. No acumulado, estamos gerando 10 milhões de reais a menos em EBITDA do que o ano passado. É o que prometemos para os próximos dois anos, reduzir margens e alavancar o crescimento”, diz Bernardo.

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