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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Vale deve assinar este ano contratos com a China para venda de minério de ferro baseados em um preço de referência ("benchmark"), que provavelmente ficará entre 30 e 35 por cento acima do de 2009, com grande influência do mercado à vista chinês, avaliou Jonathan Fenby, diretor especializado em China da Trusted Sources, consultoria baseada em Londres.
As companhias da Austrália, no entanto, principalmente a BHP, maior concorrente da Vale, continuam defendendo preços liberados.
"A Austrália é a maior barreira para ter benchmark na China", ressaltou Fenby, que acredita novamente em uma mistura de preços de referência e mercado à vista este ano, mas com assinatura de contratos, o que não ocorreu em 2009.
"Eles (China) gostam de benchmark, a dúvida é qual volume será dentro do benchmark e qual dentro do mercado à vista", complementou o especialista, que participou de um seminário do setor no Rio de Janeiro nesta terça-feira.
No ano passado, o preço do minério foi reduzido na China em cerca de 30 por cento em acordos informais, mas a pressão da demanda fez com que o valor do produto disparasse no mercado à vista. Sem contratos formais, as mineradoras passaram a vender no mercado à vista para recuperar receita.
Autor de livros sobre a história da Ásia, Fenby avalia que a Vale está em melhor posição para negociar este ano do que a Rio Tinto, por exemplo, que teve executivos detidos em 2009 durante as negociações de preços.
"A Rio Tinto está numa posição mais delicada por causa das prisões, enquanto a BHP está dando sinais de que está sendo mais flexível", afirmou.
Ele lembrou que a demanda por minério continua forte na China e que mesmo com os estoques atualmente maiores do que os feitos antes das negociações em 2009, a pressão da demanda torna o aumento de preço inevitável.
"Eles estão mais fortes com os estoques, mas estão sendo usados (estoques) pela construção civil, pelos automóveis, que têm demanda grande. A China terá que negociar para garantir o minério", afirmou.
Fenby lembrou que a maior preocupação da China é garantir a oferta de 12 milhões de empregos por ano, e isso garante a continuidade da indústria siderúrgica, que é considerada um símbolo de status para as províncias chinesas, "cada uma (província) quer ter uma siderúrgica", explicou.
APETITE FORTE
Para ele, a China vai continuar comprando muita matéria-prima, e não só minério, com boas perspectivas também para o segmento de alimentos e petróleo, outras áreas fortes do Brasil.
"A vantagem do Brasil é ter o que a China quer", disse, referindo-se a produtos como soja, petróleo e outros exportados para o gigante asiático.
Fenby, no entanto, vê riscos de medidas protecionistas contra a China dentro dos próximos dois anos, depois que o país mudou de estratégia e resolveu se expor.
"Trinta anos atrás quando começou a reforma econômica, a ideia era ter crescimento com pouca visibilidade no mercado internacional, agora está disposta a aparecer, o que é natural, é igual ao Reino Unido no século 19", comparou.
Segundo o diretor, a China deve crescer forte até meados de 2010 e, na segunda metade do ano, ter um avanço mais modesto, fechando o ano com alta de 8 por cento no Produto Interno Bruto, patamar que deve ser mantido pelos próximos anos.