Chaim Zaher, fundador do Sistema Brasileiro de Educação (.)
Karin Salomão
Publicado em 7 de julho de 2016 às 10h20.
Última atualização em 20 de fevereiro de 2017 às 18h18.
São Paulo - Imigrante libanês, Chaim Zaher construiu um dos maiores grupos educacionais do Brasil. Hoje, ao lado de sua família, ele é o maior acionista da Estácio, com 14,13% de participação.
O empresário começou sua carreira no setor de educação como bedel em um cursinho no interior de São Paulo. Foi franqueado e sócio do Objetivo antes de criar e mais tarde vender o Sistema Educacional Brasileiro. Só depois disso entrou no conselho da Estácio.
Até o início desta semana, ele também era presidente do grupo educacional, cujo controle estava sendo disputado pela Kroton e pela Ser Educacional. Na sexta-feira, a Estácio afirmou que havia aceitado a proposta da Kroton.
O empresário tentava evitar a compra da empresa e para isso, ele buscava adquirir o controle da companhia.
Ontem, depois de apenas 20 dias no comando, Zaher renunciou ao cargo. A informação foi antecipada pelo blog Primeiro Lugar de Exame.
A família Zaher e o seu fundo de investimentos TCA têm até o dia 18 para apresentar uma oferta pública de ações. A ideia é comprar cerca de 36% do capital da Estácio, para ficar com 50% - e o controle da companhia.
Mas a proposta pode nem ser feita dependendo da decisão do conselho de administração da companhia amanhã, dia 8, sobre a proposta da Kroton.
Zaher veio do Líbano ainda pequeno, com apenas seis anos. Ajudou seu pai, Zein, que era mascate em Araçatuba, interior de São Paulo. Vendeu catálogos, doces e até limpou orelhões na cidade.
Sua carreira na educação começou cedo. Aos 18 anos, começou a trabalhar em um cursinho local e vendia matrículas, controlava horários de entrada e saída, foi porteiro e bedel.
Logo, redes maiores como Anglo e Objetivo chegaram à cidade e ameaçava o cursinho onde Zaher trabalhava. Ele sugeriu ao seu chefe fazer parcerias para fortalecer o empreendimento, mas foi demitido.
Sem perder tempo, buscou entrar em contato com o Objetivo, cujo dono, João Carlos Di Genio, também era de Araçatuba. Para isso, ele usou um método bem pouco tradicional.
Dormiu no banheiro da escola durante uma noite e conseguiu falar com o professor Jorge Bryhi, braço direito de Di Genio, logo pela manhã e se tornou franqueado da rede.
Ele trabalhou por quatro anos como franqueado do Objetivo até ser chamado pelo próprio Di Genio a ser seu sócio em Ribeirão Preto, em 1984. Os dois sócios se tornaram grandes amigos. Zaher chamava o parceiro de "ídolo" e o convidou para ser seu padrinho de casamento.
Para impulsionar o crescimento do Objetivo, os dois precisavam brigar com o COC, um cursinho criado por professores de medicina que estava chamando a atenção.
O concorrente COC alugava até um jatinho para trazer aos alunos as listas de aprovados na Fuvest antes dos outros cursinhos, em um tempo em que ainda não existia internet. Mas Zaher não ficaria atrás. Ele alugou um helicóptero e foi da USP a Ribeirão Preto ainda mais rápido.
Em 1986 Zaher comprou o cursinho COC e deixou o Objetivo. A aquisição foi a porta para criar um dos maiores grupos educacionais de ensino médio do Brasil, o Sistema Educacional Brasileiro.
Ele abriu o capital do grupo SEB em 2007, e captou R$ 400 milhões. Com o dinheiro recebido no IPO, saiu às compras e adquiriu 12 empresas, investindo quase R$ 200 milhões. Entre elas, as universidades Dom Bosco, Pueri Domus e Name.
No SEB, ele administrava as escolas com a mulher, Adriana, e duas de suas quatro filhas. Segundo o Estadão, a mesa precisava ser grande o suficiente para toda a família.
Uma de suas tradições era chegar às 6 horas da manhã, antes do início das aulas, e fazer a ronda pela escola, mesma função que exercia como bedel no cursinho do interior de São Paulo. Conferia horário de aulas e participava de reuniões de professores.
Outra tradição era celebrar o aniversário do seu grande ídolo, o cantor Roberto Carlos, todo dia 19 de abril. As festas animadas contavam com um cover do Rei e, claro, muita música.
Três anos depois do IPO do grupo, ele vendeu a divisão de materiais didáticos e as marcas COC, Dom Bosco, Pueri Domus e Name para a Pearson, dona do Financial Times e da The Economist, por R$ 888 milhões.
Nos dias seguintes à venda, Zaher reuniou os 600 funcionários em um auditório para dizer que a venda dos principais negócios do grupo não significava que ele estava fora do mercado. Pelo contrário, a empresa estava "back to the game".
"Dizem que essa é a origem da sigla BTG", disse o empresário em uma entrevista na época, referindo-se ao banco de investimentos BTG Pactual.
Ele reinvestiu 40% do dinheiro recebido e recriou sua empresa, agora a UniSeb, ainda mais forte que antes.
Zaher desenvolveu as escolas de ensino básico, faculdades e polos de ensino a distância que ficaram com ele. Três anos depois, o negócio já faturava R$ 600 milhões.
O próximo passou foi a venda do SEB para a Estácio. Com a negociação, Zaher se tornou o principal acionista da Estácio e ganhou um assento no Conselho de Administração.
Um dos seus mantras nos negócios é a filosofia árabe "Maktub". A expressão significa "estava escrito", ou "era para acontecer". Agora, é esperar para saber o que virá pela frente.