Iseli Reis, CEO da Fleximedical: choque de gestão e olhar estratégico após assumir a liderança de forma repentina (Fleximedical/Divulgação)
A arquiteta hospitalar Iseli Reis escolheu para si uma profissão que a deixava bem distante do gerenciamento de um negócio. Sem inclinação para a liderança, mas com paixão pela área médica, ela trabalhou por anos no planejamento de espaços hospitalares. O gosto pelo mercado de saúde, contudo, não era mera coincidência, mas sim um coisa de família. Seu primo, Roberto Kikawa, também trabalhava no ramo.
Kikawa fundou, em 2005, a Fleximedical, uma startup hospitalar nascida dentro das limitações da Universidade de São Paulo (USP). Logo no início, o negócio era dedicado ao desenvolvimento de pinças endoscópicas inteligentes, utilizadas em cirurgias de alta complexidade.
O primeiro desafio surgiu dois anos depois, quando a China passou a exportar o mesmo produto em larga escala. Com os preços baixos cobrados pelos concorrentes chineses, foi difícil sobreviver. A empresa teve de se adaptar. Foi quando a Fleximedical passou a fabricar equipamentos médicos para unidades móveis de tratamento hospitalar, em essência veículos que funcionam como hospitais itinerantes.
A proposta da Fleximedical era a de levar o hospital até o paciente, com consultas e triagens móveis. A começar pelo papel social, o impacto era o principal objetivo do negócio. "Nossa intenção era ampliar o acesso às populações de regiões desassistidas", explica Reis. Além das consultas, a startup também oferecia nesses veículos atendimentos mais especializados, como exames diagnósticos e mini centros cirúrgicos. "A unidade é customizada de acordo com a necessidade da região e das comunidades, porque o gargalo da saúde sempre foi nosso principal alvo”, diz.
Na outra ponta, estava a vantagem econômica para instituições médicas, que passaram a estender serviços e equipamentos para mais de um lugar ao mesmo tempo. “Isso criou uma inteligência na área da saúde que ainda não existia”, diz.
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A mudança de curso levou Kikawa a chamar Iseli Reis para entrar no negócio. Com experiência na elaboração de espaços médicos, ela era a candidata perfeita. Na parte operacional do negócio, a arquiteta ficou responsável pelos projetos dos hospitais móveis por 11 anos.
O distanciamento de posições de liderança, porém, logo teve fim. De uma hora para a outra, Reis foi incubida de assumir o cargo de CEO da Fleximedical após a trágica morte de seu primo, assassinado durante um assalto na grande São Paulo em 2018.
"Não sabia nada além do operacional, mas me provei em assumir essa missão", diz. “Claro que tive de aprender sobre gestão de negócios. Estudei, me cerquei de mentorias e acelerações. Foi o que me capacitou e preparou um novo olhar para a empresa, mas sem perder o propósito inicial. O propósito é o que dá as forças".
Já na cadeira de presidente, Reis promoveu um choque de gestão na empresa. Em 2018, a Fleximedical se abriu para o mercado — a empresa até então tinha apenas um cliente, fazendo unidades médicas para uma única empresa.
Olhando para o mercado B2B e B2G, atendendo outras empresas e governos, a Fleximedical ganhou escala como nunca antes. Já diversificado, o negócio cresceu e ganhou três novos clientes.
A maioria dos clientes da Fleximedical 90% dos clientes são empresas ou prestadores de serviço de saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS). Uma parcela menor é composta por institutos, convênios e organizações sociais.
Com a pandemia, o negócio decolou, baseado na proposta de levar atendimento médico aos rincões do país em um momento em que “Era o remédio certo para o problema daquele momento. Pessoas não chegavam aos consultórios, às UTIs, e não conseguiam atendimento”, diz. “Era o remédio certo para o problema daquele momento. Pessoas não chegavam aos consultórios, às UTIs, e não conseguiam atendimento”, diz. Hoje, a Fleximedical tem 90 veículos adaptados, entre caminhões, ônibus, vans e contêiners.
De 2020 para 2021, a Fleximedical cresceu 27%. A expansão levou a empesa a participar do ranking EXAME Negócios em Expansão, que selecionou as pequenas e médias empresas que mais cresceram no último ano.
Agora, Reis continua apostando na diversificação para manter os bons resultados da empresa, mesmo após o ápice da pandemia. A principal aposta são as cabines de atendimento via telemedicina, um novo alvo para o mercado privado. A ideia é que com as cabines, empresas — e também operadoras de plano de saúde — possam monitorar seus funcionários e clientes olhando para índices como pressão arterial e temperatura.
"Esse é o novo momento da saúde no país, e queremos fazer parte disso com muita confiança e ousadia". Atualmente, as cabines são 30% do faturamento, que em 2022 deve ficar em R$ 13 milhões.
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