Alex Carreteiro: “Não existe plano B para o planeta” (PepsiCo/Divulgação)
Repórter
Publicado em 24 de novembro de 2025 às 07h22.
Última atualização em 24 de novembro de 2025 às 07h23.
A PepsiCo vive no Brasil um dos ciclos de expansão mais robustos de sua história recente, segundo Alex Carreteiro, CEO da PepsiCo Brasil e Cone Sul Alimentos. Nos últimos quatro anos, a operação de alimentos — carro-chefe da companhia na América Latina com marcas como Lay’s, Doritos e Cheetos - dobrou de tamanho, ampliou participação de mercado, ingressou em 10 milhões de novos lares e consolidou o país entre os dez maiores mercados globais do grupo.
“Entre 2021 e 2024, foram investidos cerca de R$ 2,5 bilhões, especialmente em capacidade produtiva, inovação e sustentabilidade”, diz o CEO.
Essa virada coincide com o período em que o executivo assumiu o comando da operação brasileira, em plena pandemia. Desde então, a companhia acelerou lançamentos - seis novas marcas em dois anos - reforçou parcerias em esporte e entretenimento, modernizou a cadeia de valor e transformou o Brasil em vitrine mundial de agricultura regenerativa dentro do grupo.
Agora, o próximo motor de crescimento já tem nome e data: Copa do Mundo de 2026.
“Somos patrocinadores oficiais e vamos trabalhar o conceito de pré-jogo, algo muito forte nos Estados Unidos. A ideia é criar uma cultura de consumo antes das partidas, seja em casa, com amigos ou em encontros sociais”, afirma Carreteiro. A estratégia mira uma combinação de metas: aumento de frequência, ganho de share e maior presença das marcas nos momentos que antecedem os jogos — um ritual ainda pouco explorado no Brasil, segundo o CEO.
A aposta é reforçada por outros movimentos: Gatorade e Doritos entraram na Fórmula 1 como patrocinadores globais, Lay’s segue na Liga dos Campeões, e a empresa já mapeia oportunidades adicionais para ativar o consumidor em larga escala.
“É um momento muito forte de consumo para nós. As marcas estão preparadas para captar essa onda”, diz Carreteiro.
Em entrevista exclusiva ao podcast “De frente com CEO”, da EXAME, Alex Carreteiro fala sobre os próximos passos para alavancar o negócio no Brasil e Cone Sul (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai) e como chegou a cadeira de CEO de uma das maiores empresas de alimentos do mundo.
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A estratégia recente da PepsiCo no Brasil se apoia em três movimentos que, segundo o CEO, explicam por que o país se tornou uma das operações mais relevantes do grupo.
“O Brasil tem um potencial enorme e nós só conseguimos capturá-lo quando aceleramos inovação, digitalização e sustentabilidade ao mesmo tempo”, diz Alex Carreteiro.
A frente de inovação ganhou outra velocidade. Produtos passaram a estrear globalmente no país — caso da Ruffles em tubo de papel — enquanto categorias como Tostitos, PopCorners e Doritos Dinamita foram adaptadas ao gosto local.
“O consumidor brasileiro é muito aberto à inovação quando ela faz sentido para o seu paladar e para os seus momentos de consumo”, afirma.
Ao mesmo tempo, a digitalização mudou a operação. A empresa reúne hoje mais de 22 milhões de consumidores em sua base de dados.
“Quando você coloca dados no centro da estratégia, consegue ser mais preciso na rota, na logística e na comunicação. Isso nos dá velocidade e eficiência”, diz o executivo que está na frente da operação Brasil desde 2021 e da operação Cone Sul desde janeiro deste ano.
Mas é na agenda de sustentabilidade que o avanço se torna mais simbólico. Desde 2021, com a implantação da estratégia global pep+, o Brasil virou referência mundial em agricultura regenerativa.
“Hoje, 100% dos nossos produtores de batata utilizam práticas regenerativas. Isso melhora a produtividade, reduz emissões e fortalece o negócio. Não existe plano B para o nosso planeta”, diz.
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Com a liderança da operação do Cone Sul, Carreteiro ganhou uma nova responsabilidade que envolve realidades distintas em Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
“Cada país está em um momento econômico, mas o nosso papel é garantir consistência, mesmo com volatilidade”, afirma.
Ele resume o núcleo de sua gestão como uma equação complexa. “Liderança é entregar crescimento, participação de mercado, rentabilidade e geração de caixa ao mesmo tempo. Fazer uma dessas coisas é fácil — fazer as quatro exige disciplina e resiliência”, diz.
O executivo repete ao time que o caminho depende de clareza e execução. “Visão clara, execução consistente e desenvolvimento de pessoas — é isso que eu espero de qualquer líder aqui dentro”, afirma. E reforça um lema pessoal que se tornou regra interna: “Feito é melhor que perfeito”, diz. “Um bom líder precisa também agir rápido frente ao concorrente”.
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Na entrevista ao podcast “De frente com CEO”, Carreteiro também comentou sobre a própria trajetória profissional. “Eu tinha 10 anos quando minha mãe recebeu uma bolsa para estudar na França. Chegamos em Paris sem falar francês, morando em um quarto e sala. Aquilo me ensinou a me adaptar, a ouvir e a entender culturas diferentes”, lembra.
Ele estudou em escolas de refugiados e mudou de turma dez vezes. “Essa experiência me abriu a cabeça. Eu percebi cedo que precisava enxergar o mundo como território de aprendizado”, conta.
O tênis entrou pouco depois e mudou o rumo da vida. “O tênis me ensinou a perder. No esporte, a derrota é mais frequente que a vitória. Isso cria resiliência, cria humildade e te ensina que você precisa se reinventar todos os dias”, diz. A modalidade o levou aos Estados Unidos, onde estudou finanças e comércio internacional com bolsa de estudo na Temple University.
A experiência pelo mundo o ajudou a construir uma carreira global, passando por sete países, doze mudanças e funções distintas.
“Quando você está num ambiente de culturas tão variadas, você tem que escutar para poder aprender sobre os outros. Ali eu aprendi que existem vários pontos de vista para uma mesma solução.”
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Os fundamentos da liderança de Carreteiro vêm de casa. “Minha mãe sempre me disse que devemos tratar todas as pessoas da mesma maneira. Isso se tornou um valor inegociável para mim”, afirma. “Da pessoa da limpeza ao presidente da República, respeito é respeito. E isso define cultura.”
Sob sua gestão, o Brasil se tornou também um exportador de talentos para outras regiões da PepsiCo. “Quando vejo brasileiros liderando operações no México, em Porto Rico ou em áreas globais, sinto que estamos no caminho certo”, diz.
Mas é no legado que ele coloca sua marca mais pessoal. “Os números são importantes — dobramos a companhia, ganhamos participação, avançamos em produtividade. Mas o que realmente fica são as pessoas que você desenvolve”, afirma. “Afinal, a nossa atitude define a nossa altitude.”