Fábrica da Ford: agora, os diretores ouvem as ligações dos clientes / (Germano Lüders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 14h58.
Depois de anunciar o fechamento de uma fábrica em São Bernardo do Campo, SP, o presidente da Ford afirmou que passou meses buscando alternativas viáveis para a operação. No entanto, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC contesta a informação. Segundo o órgão, a montadora não tentou negociar novos acordos, investimentos ou opções para a operação.
A fábrica, que será fechada no decorrer de 2019, produz as linhas Cargo, F-4000, F-350 e o carro Fiesta, que deixarão de ser comercializados assim que terminarem os estoques. O fim da operação impactará 3.200 trabalhadores diretos e mil indiretos e custará aproximadamente US$ 460 milhões para a Ford.
A montadora é a terceira maior do país, com 9,47% do mercado, atrás de GM e Volkswagen, e vendeu 205 mil carros novos no ano passado. Já no segmento de caminhões, que deixarão de ser fabricados no Brasil, a montadora é a quarta maior do mercado, com participação de 12,2%, atrás da Mercedes Benz, Volkswagen e Volvo. A empresa tem três fábricas em São Paulo, São Bernardo do Campo, Tatuí e Taubaté, e uma na Bahia, em Camaçari.
Apesar do aumento das vendas após a crise econômica, a Ford luta para manter rentabilidade e investimentos no país. Ela sofre com o aumento da concorrência no Brasil e no exterior e a pressão das matrizes para entregar mais eficiência.
Em vídeo, o presidente da Ford para a América do Sul afirma que "nosso desempenho na América do Sul não é aceitável e claramente não é sustentável, exigindo que continuemos a reformular nossos negócios com urgência".
Para ele, "embora essa seja uma decisão difícil do ponto de vista pessoal, as realidades do negócio foram evidentes". "O negócio precisaria de um volume expressivo de investimentos para atender às necessidades do mercado, incluindo novas tecnologias e aumento de ações regulatórias, sem um caminho viável para a lucratividade", afirma.
A América do Sul não dá lucro para a companhia e a operação brasileira não recebe novos investimentos desde 2015. De acordo com o executivo, a decisão de fechar a operação e sair do negócio de caminhões não é abrupta e ocorreu após meses de busca de alternativas viáveis, incluindo possíveis parcerias e a venda da operação.
No entanto, o sindicato diz que essas negociações não ocorreram e que a montadora não conversou com a entidade.
O presidente do sindicato, Wagner Santana, afirma que não aceita a decisão da Ford e que já buscava uma conversa com a montadora há algum tempo.“O desinteresse da Ford nos pegou de surpresa”, disse ele em entrevista esta manhã. “Percebemos uma apatia da montadora em relação às negociações. Marcavam reuniões e não apareciam”.
"Em janeiro fizemos uma assembleia na portaria da fábrica, decretamos estado de luta e pedimos para que essa reunião acontecesse, para que a Ford deixasse clara sua real intenção sobre essa planta", afirma ele.
O sindicato também disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que um acordo coletivo foi firmado com a empresa em 2017, com validade até novembro de 2019. O acordo prevê a estabilidade dos empregos da planta e que a montadora iria buscar alternativas para o local.
O sindicato cobrava a vinda de novos investimentos desde o início do ano. Enquanto a produção de motores de Taubaté (SP) e a fábrica de Camaçari (BA) receberam investimentos recentes e renovação de produtos, nada foi anunciado para São Bernardo, diz a entidade.
Entre as propostas levantadas pelo sindicato, estava a possibilidade de trazer mais um automóvel para ser fabricado em São Bernardo, já que a operação dificilmente se sustentaria com apenas um modelo, o Fiesta. Sem negociações, sem planos e sem alternativas, a operação estava fadada à queda.
Em assembleia realizada no início da noite de ontem, 19, os metalúrgicos da Ford decidiram entrar em greve.