Tiago Santos, CEO da Danone Brasil: “Diante de duas empresas semelhantes, as pessoas vão escolher aquela que prova que faz algo positivo pelo planeta” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 09h10.
“Performance sem sustentabilidade não tem futuro”, diz Tiago Santos, CEO da Danone Brasil, durante o podcast “De frente com CEO”, da EXAME.
A afirmação de Santos, que lidera a multinacional no Brasil desde abril de 2024, resume a filosofia que o executivo leva à COP30, onde a empresa apresentará o Projeto Flora, iniciativa de agricultura regenerativa desenvolvida no país e que já inspira outras operações globais da companhia.
O programa, criado há cinco anos, conecta fazendeiros, universidades, órgãos públicos, startups e bancos para demonstrar que sustentabilidade e rentabilidade podem andar juntas. Os resultados já estão aparecendo: redução de 47% das emissões de carbono e 42% de metano na cadeia do leite.
“A gente trabalha para que os produtores aumentem sua produtividade e margem, vivam melhor e ainda contribuam para o bem-estar animal e o meio ambiente”, diz Santos.
A proposta, segundo o CEO, é mostrar que boas práticas ambientais geram valor econômico — e que um projeto nascido no Brasil pode servir de modelo para o mundo.
Em entrevista à EXAME, direto do escritório da companhia em São Paulo, o executivo fala sobre as expectativas com a COP30, que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, no estado do Pará, além da trajetória profissional em 9 países e as ambições da companhia que completa 55 anos no Brasil.
Com faturamento global de € 27 bilhões e presença em mais de 100 países, a Danone mantém um portfólio que vai de iogurtes e lácteos frescos (Danone, Danoninho, Activia, Danette, YoPRO) a nutrição especializada, incluindo fórmulas infantis e soluções médicas.
A companhia nasceu literalmente da ciência — o primeiro iogurte era vendido em farmácias — e mantém essa base até hoje. Recentemente, inaugurou um novo centro mundial de P&D e um laboratório de microbioma, voltados à inovação e à saúde alimentar.
“Nascemos da ciência e continuamos baseados nela. O consumidor, o paciente e o cliente estão no centro de tudo o que fazemos”, diz o CEO.
No Brasil, onde a companhia celebra neste ano 55 anos, a sustentabilidade faz parte da estratégia do negócio. Como uma empresa B certificada, para Santos, o selo é mais do que uma chancela: é uma vantagem competitiva e um fator de atração de talentos.
“Diante de duas empresas semelhantes, as pessoas vão escolher aquela que prova que faz algo positivo pelo planeta”, afirma.
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Santos aposta na combinação de inovação, saúde e sustentabilidade para sustentar o avanço. Sob sua gestão, a Danone vem reduzindo açúcar nas linhas infantis - com o Danoninho alcançando a meta de menos de 10 gramas por 100 g de produto - e ampliando investimentos locais.
“O desafio é entregar produtos com propósito, sabor e valor percebido. O consumidor paga quando entende que vale a pena”, afirma o CEO da Danone Brasil.
Para o futuro, ele quer manter o ritmo e ampliar o impacto. “Nosso sonho é voltar a colocar a Danone Brasil no papel que essa unidade merece - entre as líderes do grupo global. Sustentabilidade e performance andam juntas. Uma sem a outra simplesmente não tem futuro.”
Tiago Santos, CEO da Danone Brasil: “O Brasil já está entre os 15 maiores mercados da Danone e cresce há dois anos acima da média global" (Leandro Fonseca /Exame)
Natural de Coimbra, Portugal, Santos iniciou a carreira “por acaso” ao acompanhar um amigo em um processo seletivo da Procter & Gamble. Passou também pela PepsiCo antes de ingressar na Danone, onde está há 17 anos. Desde então, viveu em nove países, incluindo Finlândia, Ucrânia e Cazaquistão — onde enfrentou desde revoluções até guerras civis.
“Aprendi que cada país exige um novo olhar sobre a felicidade e o trabalho”, afirma.
Em comum entre as experiências, ele destaca a importância de entender pessoas e contextos e de manter resiliência e adaptabilidade - virtudes herdadas dos avós imigrantes.
Hoje, no comando da Danone Brasil, o executivo quer reposicionar a subsidiária entre as mais relevantes do grupo.
“O Brasil já está entre os 15 maiores mercados da Danone e cresce há dois anos acima da média global. Nosso papel é seguir acelerando, com impacto positivo para os negócios, para as pessoas e para o planeta”.
Fundada em 1919, em Barcelona, por Isaac Carasso, a Danone nasceu com base científica: seus primeiros iogurtes eram vendidos em farmácias como produtos de saúde digestiva. O nome veio de “Danon”, apelido de seu filho Daniel Carasso, que mais tarde levaria a marca para a França e iniciaria a expansão internacional.
Hoje, a Danone é uma das maiores companhias de alimentos e bebidas do planeta, com foco em saúde, nutrição e sustentabilidade, com presença em mais de 100 países, cerca de 90 mil funcionários e mais de 180 unidades industriais.
No Brasil, a Danone chegou em 1970 e foi responsável por popularizar o iogurte industrializado no país - tanto que o nome “Danone” acabou se tornando sinônimo de categoria. A operação brasileira tem duas fábricas, voltadas a lácteos e nutrição especializada, e emprega cerca de 3 mil funcionários diretos.