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CEO da ABB: Este é o momento de investir no Brasil

Em entrevista a EXAME, Ulrich Spiesshofer falou sobre os avanços da robótica e os benefícios que os robôs podem trazer para o Brasil e o mundo

Ulrich Spiesshofer, CEO da ABB
 (Qilai Shen/Bloomberg)

Ulrich Spiesshofer, CEO da ABB (Qilai Shen/Bloomberg)

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Patrícia Valle

Publicado em 6 de novembro de 2017 às 18h08.

Última atualização em 6 de novembro de 2017 às 18h13.

Rio de Janeiro — Em visita ao Brasil, o presidente da multinacional suíça-sueca ABB, Ulrich Spiesshofer, veio comemorar 105 anos de atuação no país e o lançar um novo produto. A empresa fornece tecnologias para energia, automação, digitalização e robótica e está nos maiores projetos de infraestrutura do país, como Itaipu e Belo Monte.

Em entrevista exclusiva a EXAME, Spiesshofer falou sobre o potencial de ganho de produtividade que o Brasil teria com investimentos maiores em tecnologia, robótica e automação. Também discutiu o futuro não tão distante em que conviveremos intensamente com robôs e inteligência artificial.

EXAME — Vocês construíram um robô que é capaz de reger uma orquestra. Como isso foi feito?

Ulrich Spiesshofer — Há 20 anos os robôs estavam nas fábricas para fazer um único trabalho e repeti-lo sempre. Há 3 anos trouxemos o YuMi (robô com inteligência artificial) ao mercado. Ele está levando a tecnologia para o futuro porque tem dois braços e a precisão necessária para colocar uma linha numa agulha. Mas isso é apenas uma descrição física. O YuMi pode aprender. Ele pode solucionar o cubo mágico em apenas 2 minutos. Estamos combinando os movimentos físicos com inteligência. Para mostrar o que essa tecnologia faz, um amigo meu deu a ideia de ter uma orquestra com o tenor Andrea Bocelli conduzida pelo YuMi. Em apenas 70 horas de treinamento, o YuMi aprendeu a reger a orquestra. Isso mostra como a robótica está mudando o mundo. Aqui no Brasil, fizemos o YuMi pintar um quadro com o artista plástico Caio Chacal (veja o vídeo no final deste texto).

Mas qual é o impacto para o mundo disso?

Há muitas pessoas preocupadas com os impactos do avanço da robótica. Mas os três países no mundo com maior nível de robotização e automação (Alemanha, Japão e Coreia do Sul) são os países com menor nível de desemprego. E quanto mais nós avançamos em tecnologia no mundo, mais conseguimos diminuir as taxas de extrema pobreza. A parte do mundo que ficou para trás, como a África, foi onde a pobreza não diminuiu. Então parece muito claro que prosperidade e crescimento estão de mãos dadas com o inteligente uso de tecnologia. Eu entendo que as pessoas estão preocupadas, mas nós é que precisamos nos adaptar e investir em educação, porque os empregos do futuro serão totalmente diferentes.

E que habilidade nós precisamos ter nesse novo mundo?

É preciso estar abertos às mudanças. E o governo tem o dever de usar o benefício da tecnologia e fazer parcerias para dar educação para isso, além de incentivar startups para esse tipo de desenvolvimento.

O Brasil é criticado por investir pouco em tecnologia. Isso se reflete na demanda por seus produtos e soluções aqui?

Olhando os setores em que trabalhamos, de utilities (serviços essenciais), indústria, transportes e infraestrutura, vemos bastante demanda no Brasil. Em utilities, o país tem demanda por novas fontes de energia. Ao mesmo tempo, a demanda por eletricidade está aumentando e nós somos os líderes em novas soluções. No Brasil, somos especialistas em transmissão de energia em longas distâncias, como no programa de Itaipu. No lado da indústria, houve sem dúvida dificuldades aqui nos últimos anos, pelo cenário global e local. Mas, nas áreas de mineração e de óleo e gás, há um novo jeito de fazer negócios para os próximos dois anos. É preciso ser digitalizado para ter mais produtividade. Não é tarde demais para o Brasil. Eu acredito que este é o momento de investir e aumentar a produtividade do país e, assim, sua competitividade. Os recursos naturais estão aí. As pessoas capacitadas estão aí. O mercado global está voltando e, com a nova realidade de preços de commodities mais baixos, as empresas precisam buscar competitividade. A digitalização é o melhor caminho para isso. A indústria de comidas e bebidas, que é muito grande no Brasil, também poderia ganhar grande produtividade com isso.

Estamos saindo da pior crise econômica do país. Isso afetou a demanda por esses produtos, ou é neste momento que se deve investir mais?

Estamos aqui para o longo prazo. Mas mesmo em momentos de crise as empresas precisam competir.

Como essa tecnologia pode aumentar a produtividade?

No último grande ciclo de crescimento do Brasil nós ajudamos o país a aumentar a infraestrutura física, como a geração de energia. Agora, estamos indo para a próxima fase, que é usar soluções de digitalização e robotização para melhorar e otimizar essas operações. Usamos conectividade e internet das coisas para conectar os sistemas e fazer eles trazerem melhores resultados. Usando diversas dessas nossas soluções é possível aumentar a produtividade em 30% a 40%.

Estamos atrasados em relação a outros países emergentes?

Depende muito do setor. Em mineração vocês têm processos bem sofisticados e avançados com grande produtividade. Um exemplo de tecnologia de ponta é a nossa parceria com a Vale no projeto Carajás. Nós controlamos toda a produção, que é automatizada, com grande produtividade, e reduzimos em 50% os custos de manutenção. No setor de óleo e gás, a Petrobras sempre teve a ambição de ter uma tecnologia de ponta e nós temos a oportunidade de melhorar ainda mais isso. No setor de comidas e bebidas tem uma grande oportunidade de melhorar. E no setor automotivo ainda há bastante a ser melhorado. Então, no geral, eu diria que não podemos mudar o passado, mas podemos criar o futuro. E, com investimentos, o Brasil pode acelerar e igualar a produtividade de outros países — ou mesmo superá-la. Estou otimista.

Este vídeo mostra a interação do artista plástico Caio Chacal com o robô YuMi:

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