Pimco: a empresa está se afastando uma década depois que a companhia comprou títulos brasileiros quando estes despencaram antes das eleições presidenciais de 2002 (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2014 às 13h58.
Nova York - Bill Gross está se amargurando pelo Brasil.
Depois que a dívida do País denominada em reais despencou 13,6 por cento no ano passado, acima do declínio médio de 9 por cento para países em desenvolvimento, o chefe de investimentos da Pacific Investment Management Co. disse em 15 de janeiro que o Brasil já não era um mercado favorito.
Em dezembro, seu Total Return Fund de US$ 237 bilhões reduziu seus ativos brasileiros para 3,27 por cento, de 4,18 por cento três meses atrás, mostrou seu mais recente relatório de investimentos.
A Pimco está se afastando da maior economia da América Latina uma década depois que a companhia comprou títulos brasileiros quando estes despencaram antes das eleições presidenciais de 2002, uma aposta que provou ser profética e que lustrou a reputação do presidente Mohamed El-Erian.
O comentário de Gross, que chega um ano depois que ele disse que o real era um melhor uso do caixa do que comprar títulos com nota de crédito junk, mostra como os investidores estão perdendo a confiança na presidente Dilma Rousseff enquanto o crescimento econômico desacelera e o Brasil eleva sua taxa de juros acima de 10 por cento para conter a inflação.
“A desconfiança emana das más políticas econômicas da atual administração”, disse Peter Lannigan, diretor de gestão do CRT Capital Group LLC em Stamford, Connecticut, em entrevista por telefone. “Taxas tão altas nesse tipo de ambiente de crescimento – é um cenário macro desafiador”.
A Pimco ainda possui dívida brasileira, mas não está overweight em relação ao País, disse Mark Porterfield, porta-voz da companhia, em resposta a perguntas que lhe foram enviadas. O Ministro da Fazenda do Brasil não respondeu ao pedido de comentários por e-mail e a telefonema fora do horário comercial.
Perdas do fundo
Os investimentos da Pimco no Brasil deram errado no ano passado depois que os títulos do País em moeda local registraram sua segunda perda anual desde 2003. As notas do País denominadas em dólares perderam 11,2 por cento, a maior queda desde 1998, mostram dados de índices da JPMorgan Chase Co.
O real caiu 13 por cento frente ao dólar no ano passado, ao passo que os títulos globais com nota de crédito de grau especulativo cresceram 6,4 por cento, segundo dados de índices compilados pelo Bank of America Corp. Gross, o cofundador da Pimco de 69 anos, promoveu o real frente aos títulos de alto risco em uma mensagem de Twitter em 16 de janeiro de 2013.
“Da exposição modesta às taxas locais de juros do Brasil enquanto os rendimentos aumentavam pela preocupação com a inflação” resultaram retornos negativos ou neutrais para o Total Return Fund em 2013, conforme o relatório trimestral de investimentos da Pimco, publicado em 31 de dezembro.
Default da OGX
A Pimco também sofreu perdas pelos seus investimentos em títulos da OGX Petróleo Gás Participações SA. A companhia petroleira, agora conhecida como Óleo Gás, não conseguiu pagar dívidas em dólares por US$ 3,6 bilhões no ano passado, no que foi o maior default corporativo da América Latina.
Em 2002, a Pimco aumentou suas posses no Brasil, quando os títulos do País denominados em dólares, com vencimento em 2040, operavam ao mínimo de 42,7 centavos pela preocupação com que Luiz Inácio Lula da Silva fosse decretar o default das obrigações do País após chegar à presidência.
Dois anos depois que a companhia aumentou sua participação para cerca de US$ 1 bilhão em meados de 2002, os títulos operavam a um valor de até 119,5 centavos por dólar, porque Lula, que assumiu o cargo em janeiro de 2003, cortou o gasto público.
Para Lannigan do CRT, a incapacidade do Brasil de dominar a inflação à medida que o crescimento se desacelera significa que há poucas razões para ser otimista.
“Eles têm um ambiente onde a atividade está se enfraquecendo, mas eles continuam elevando as taxas das políticas para lutar contra a inflação”, disse ele. “Isso anula a capacidade de resposta ao enfraquecimento do crescimento. Eu tenho estado bastante pessimista em relação ao Brasil há um ano, e nada está acontecendo que possa mudar isso”.