Negócios

Casino tem desafio de não deixar Pão de Açúcar desacelerar

O grupo varejista francês exerceu a opção de compra de uma ação ordinária da Wilkes, holding que controla o Pão de Açúcar

Com a possibilidade de Abílio Diniz perder espaço no grupo, as atenções do mercado se voltam para como o Casino pretende manter o ritmo de crescimento (Exame)

Com a possibilidade de Abílio Diniz perder espaço no grupo, as atenções do mercado se voltam para como o Casino pretende manter o ritmo de crescimento (Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2012 às 12h29.

São Paulo - A cerca de um mês de assumir o comando do Grupo Pão de Açúcar, o francês Casino tem pela frente o desafio de provar sua estratégia ao mercado a fim de não deixar a maior varejista do Brasil perder terreno e competitividade.

Na segunda-feira passada, o grupo varejista francês exerceu a opção de compra de uma ação ordinária da Wilkes, holding que controla o Pão de Açúcar, operação que garantirá maioria das ações com direito a voto.

Na ocasião, o Casino também enviou uma notificação ao atual presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, informando-o de sua decisão de nomear Jean Charles Naouri, presidente-executivo e do Conselho do grupo francês, como chairman da Wilkes.

As movimentações traçam um cenário em que Diniz passa a ocupar papel secundário na companhia fundada por seu pai e conduzida e liderada pelo empresário há décadas.

Em meados do ano passado, Diniz teve as relações com Naouri fortemente abaladas após tentar unir o Pão de Açúcar às operações brasileiras do Carrefour, arquirrival do Casino na França.

"O maior risco é societário, com a possível saída de Diniz e de alguns conselheiros", diz o sócio-diretor da Naxentia, consultoria especializada em transições críticas, fusões e aquisições, Vincent Baron. "A dúvida é se Diniz fica no Conselho... Terá de haver uma moeda de troca." Ele assinalou ainda que o desgaste causado por questões societárias pode resultar em incerteza maior quanto à política de crescimento do Pão de Açúcar, o que pesaria nas suas ações.

Com a possibilidade de o empresário brasileiro perder espaço no grupo, as atenções do mercado se voltam para como o Casino pretende manter o ritmo de crescimento e a liderança da companhia, algo conquistado principalmente via aquisições, uma das principais características do perfil de Diniz.

"A principal dúvida dos investidores é se a companhia continuará a ter bom desempenho após a troca de controle", assinalou a analista-chefe do Raymond James no Brasil, Daniela Bretthauer. "Na teoria, isso deveria acontecer." Por outro lado, Baron, da Naxentia, ponderou que, tirando o desgaste com Carrefour, Casino e Pão de Açúcar sempre caminharam alinhados.


"Não vejo riscos operacionais, o Casino é muito maior que o Pão de Açúcar, atua na mesma área em várias regiões do mundo, em mercados competitivos... Deve manter o perfil mais agressivo de aquisições, principalmente no segmento atacadista", afirma.

As operações de varejo no Brasil, de qualquer forma, se encontram em estágio bastante consolidado, restando poucas opções como possíveis alvos de aquisição.

POTENCIAL DO BRASIL O Brasil é atualmente o segundo maior mercado do Casino depois da França e visto como importante motor de crescimento do grupo em países emergentes, diante da crise na Europa, o que significa que qualquer passo em falso pode ser prejudicial.

"O maior potencial de crescimento do Casino virá de Brasil, Colômbia ou do sudeste da Ásia. Mas o Brasil é a menina dos olhos e vai continuar sendo o foco", diz Baron.

De fato, a possibilidade de colocar a varejista brasileira no piloto-automático para crescer em outros locais não agrada investidores e analistas.

"O Casino terá de continuar buscando crescimento no Brasil, caso contrário perderá a atual liderança de mercado para Carrefour e Wal-Mart", avalia o analista Carlos Hernandez, da Planet Retail, grupo de pesquisa de varejo sediado em Londres.

Carrefour e Wal-Mart ocupam a segunda e terceira posições, respectivamente, no setor supermercadista brasileiro, que em 2011 faturou 224,3 bilhões de reais, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

O LEGADO DE DINIZ Para alguns analistas, a saída de Diniz aumentaria o risco de perder o time de executivos que ele formou, responsável por manter a rentabilidade da companhia.

O Casino, entretanto, tem afirmado estar satisfeito com a atual diretoria do Pão de Açúcar, especialmente com o presidente-executivo da empresa, Enéas Pestana.

Muitos citam, inclusive, o poder do empresário de transferir suas próprias características ao negócio. "É uma dessas empresas muito personalistas", destaca o gerente de fundos Flávio Barros, da Grau Gestão de Ativos. "O que virá depois é nebuloso." Conforme o atual acordo de acionistas, Diniz tem o direito de permanecer como presidente do Conselho do Pão de Açúcar, embora seu papel em decisões estratégicas seja limitado e suas manobras corporativas dependam de aprovação do Casino.

A possibilidade de Diniz conquistar o controle da Via Varejo (ex-Globex), que concentra os ativos de eletroeletrônicos e comércio online do Grupo Pão de Açúcar, também não é descartada por profissionais que acompanham o setor.

"Diniz ficar com a Via Varejo é uma possibilidade", diz Baron, da Naxentia. "O foco das operações do Casino é no segmento alimentar, então essa negociação faria sentido." Contudo, o fato de a aquisição de Casas Bahia e Ponto Frio -que integram a Via Varejo- ainda não ter sido aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mais de dois anos após terem sido realizadas, é visto como outro fator de dúvida. "A indefinição com o Cade é uma incerteza a mais", acrescenta Baron.

Acompanhe tudo sobre:CasinoComércioEmpresasEmpresas abertasEmpresas francesasFusões e AquisiçõesPão de AçúcarSupermercadosVarejo

Mais de Negócios

'E-commerce' ao vivo? Loja física aplica modelo do TikTok e fatura alto nos EUA

Catarinense mira R$ 32 milhões na Black Friday com cadeiras que aliviam suas dores

Startups no Brasil: menos glamour e mais trabalho na era da inteligência artificial

Um erro quase levou essa marca de camisetas à falência – mas agora ela deve faturar US$ 250 milhões