Lucas Araripe, da Casa dos Ventos: “O Brasil tem a energia renovável mais competitiva do mundo, vendida pela metade do preço de outros países e com oferta abundante, além de carbono biogênico em grande escala. A soma dos dois é o futuro do combustível – temos tudo para ser a Arábia Saudita do futuro.” (Casa dos Ventos/Divulgação)
EXAME Solutions
Publicado em 18 de abril de 2024 às 09h00.
Última atualização em 19 de abril de 2024 às 15h10.
A Casa dos Ventos é líder em soluções sustentáveis voltadas para a descarbonização de empresas e investe para acelerar a transição energética no Brasil. A companhia acredita que o país tem potencial gigantesco para ser um protagonista global desse movimento e está preparada para liderar o setor de energia oferecendo contratos de fornecimento de longo prazo (PPAs em diferentes modalidades), eletrificação de processos e produtos verdes que vão além do elétron.
Para tanto, a empresa está direcionando esforços e investimentos não apenas na venda de energia renovável – eólica e solar –, mas também em novos projetos que ajudam a criar ou agregar valor a produtos e serviços mais sustentáveis.
Entram nessa lista: eletrificação de processos que utilizam combustíveis fósseis, atração de setores que consomem muita eletricidade, como datas centers, uso de energia “renovável” para produção de hidrogênio e amônia verde (que podem ser usados na produção de aço e fertilizantes), e-metanol (para transporte marítimo) e SAF (voltado para a aviação).
“O Brasil tem a energia renovável mais competitiva do mundo, vendida pela metade do preço de outros países e com oferta abundante, além de carbono biogênico em grande escala. A soma dos dois é o futuro do combustível – temos tudo para ser a Arábia Saudita do futuro”, aposta Lucas Araripe, diretor-executivo da Casa dos Ventos.
A aposta é de um player pioneiro e líder no mercado de energia renovável. A Casa dos Ventos está há 16 anos no setor e tem clientes em áreas estratégicas, como siderurgia, química, mineração, data center e fertilizantes, entre eles ArcelorMittal Brasil, Vale, Anglo American, Braskem, Dow, Ypê, Mosaic Fertilizantes, Takoda, entre outros.
A empresa iniciou sua operação investindo no desenvolvimento de projetos de energia eólica no Nordeste brasileiro. Além de complementar a matriz hidráulica nacional, o país tem ventos que possibilitam a diversificação de fontes e garantem a segurança do suprimento durante o período de seca.
Nos primeiros anos de atuação, a companhia identificou as principais regiões de viabilidade para a fonte eólica, após uma extensa campanha de medição em mais de 2 mil localidades. Esse pioneirismo permitiu estruturar projetos nas melhores regiões e em grande escala, tornando a Casa dos Ventos a maior desenvolvedora de energia eólica do país. A partir de 2009, com o início dos leilões regulados que contratavam energia da fonte eólica, a empresa passou a ser uma provedora de projetos para empresas tradicionais do setor, como a CPFL, Energisa, Enel, EDP, EDF, dentre outras.
Era a hora de dar mais um passo, em direção ao objetivo inicial de ser líder em geração renovável no país. Em 2013, além de maior desenvolvedora, a Casa dos Ventos passou a se tornar uma das maiores investidoras em energia renovável. Em dois anos, sagrou-se vitoriosa em leilões de contratação de energia eólica no ambiente regulado e investiu mais de R$ 5 bilhões para implantar 1.1 GW de capacidade instalada que entrou em operação comercial entre 2015 e 2017.
Em meio a esse investimento, em 2015, a Casa dos Ventos iniciou a diversificação de seu portfólio desenvolvendo projetos com a fonte solar. Por um lado, a empresa estruturava projetos conectados a usinas eólicas, permitindo sinergias e economias de custo na implantação e operação. Ao mesmo tempo, a companhia expandiu o desenvolvimento para projetos solares fora da Região Nordeste, possibilitando a diversificação geográfica da empresa que passou a atuar no Sudeste do país.
Em 2018, a Casa dos Ventos se tornou pioneira em viabilizar projetos por meio de contratos corporativos no Mercado Livre de Energia, apoiando grandes companhias em suas jornadas de descarbonização. Entre esses projetos, estava o Complexo Eólico Rio do Vento, um dos maiores do mundo, que foi realizado em duas fases – a primeira de 504 MW e a segunda de 534 MW. Ele permitiu fechar contratos de longo prazo com Braskem, Anglo American, Dow Química, entre outros. Ao todo, a empresa está operando ou construindo 3,1 GW em energia eólica atualmente.
Em 2023, o ciclo de expansão da empresa foi impulsionado com a entrada da TotalEnergies, gigante francês do setor energético mundial, que adquiriu 34% de participação da Casa dos Ventos.
A joint venture permitiu à empresa aprimorar sua governança corporativa, reduzir o custo do capital – e consequentemente o custo da energia –, fortalecer a competitividade e aportar sinergias técnicas e de conhecimento. “Isso ampliou nosso diferencial como protagonista da transição energética no Brasil”, afirma Araripe.
A Casa dos Ventos planeja investir R$ 12 bilhões na expansão e na diversificação de seu negócio até 2026. Entre os projetos previstos estão a conclusão de parques eólicos já em construção – um no Rio Grande do Norte e outro na Bahia – e a entrada da companhia na produção de energia fotovoltaica.
A previsão é que a empresa alcance com a fonte solar o volume de 1 GW, entre parques solares isolados no Sudeste e projetos solares conectados aos empreendimentos eólicos da companhia no Nordeste.
“Nossa expectativa é atingir 4,2 GW de capacidade instalada até o final de 2025. Além disso, contamos com mais de 30 GW de projetos no pipeline para o crescimento da companhia nos anos seguintes”, completa o executivo.
Com o extenso pipeline de projetos e capitalizada com a parceria com a TotalEnergies, a Casa dos Ventos agora investe em outras soluções “verdes”, algumas ancoradas na experiência da sócia no exterior.
A primeira é a eletrificação de processos que utilizam combustíveis fósseis, como a geração de vapor proveniente de caldeiras em diversas indústrias. “Com o patamar de competitividade das renováveis, podemos prover vapor por meio de caldeiras elétricas com menor custo e menos emissões", explica o diretor-executivo.
A Casa dos Ventos também aposta na atração de setores que consomem grande quantidade de energia, como data centers. O executivo acredita que o Brasil tem condições propícias para essa indústria como energia renovável competitiva globalmente e abundante em uma matriz elétrica limpa, além de capacidade de conexão para novas cargas, o que não é comum em outros países.
A ideia é desenvolver projetos de grande escala para empresas de tecnologia se instalarem no Brasil oferecendo uma solução completa, envolvendo área e conexão para o data center, bem como a energia renovável necessária para o processamento.
“Precisamos atrair esses investimentos para o Brasil nos próximos anos, especialmente por conta do uso de inteligência artificial, que tem uma demanda gigantesca de processamento de informações e, consequentemente, de energia renovável por conta das metas de sustentabilidade dessas empresas”, afirma Araripe.
Outra frente nova da Casa dos Ventos é usar a energia sustentável para a produção de hidrogênio verde e outros derivados dele, substituindo o uso de combustíveis fósseis.
O executivo conta que a empresa está elaborando os primeiros projetos de hidrogênio verde no Brasil e incentivando a criação de uma indústria de produtos mais verdes, como o aço ou fertilizante. “O Brasil tem reservas de minério de ferro com alto grau de pureza, o mais apropriado para fazer a redução direta com o hidrogênio. E, dado o custo de nossas renováveis, podemos ter um hidrogênio verde competitivo. Em vez de exportarmos minério para produzir aço com carvão ou gás natural, o Brasil poderia usar sua energia renovável e exportar um produto com maior valor agregado”, esclarece.
“Já estamos conversando com indústrias pioneiras no aço verde para ver como ajudar a desenvolver um ambiente propício para produzir HBI e exportar para Europa”, antecipa.
Uma quarta frente é fomentar a produção de fertilizantes verdes. Atualmente, o Brasil importa do Leste Europeu 80% de todo fertilizante que utiliza. Ele é produzido com combustíveis fósseis e tem elevado custo de transporte.
“Produzindo próximo ao campo e com o custo mais baixo da energia renovável, poderíamos fornecer fertilizantes verdes, gerando independência geopolítica e sustentabilidade ao agronegócio nacional”, afirma Araripe.
A companhia também mira o mercado internacional com um projeto de produção de hidrogênio e amônia verdes no Complexo Industrial do Pecém, no Ceará, um dos mais avançados do Brasil. “O custo de geração das renováveis no Brasil a torna competitiva globalmente”, complementa o executivo.
“Asseguramos área, conexão, acesso a água e estamos avançando no desenvolvimento do projeto. Temos conversado com diversos potenciais clientes na Europa e na Ásia para comprar essa amônia, seja como produto final, seja para fazer o cracking para uso do hidrogênio”, diz o executivo.
Ele acredita que é possível expandir a atuação da Casa dos Ventos para descarbonizar outras geografias que não possuem recursos naturais em escala, com um produto que, mesmo com os custos da exportação, tem competitividade global.
Combustíveis verdes é outra aposta da Casa dos Ventos. Entre eles, está o SAF, combustível verde da aviação, que possui uma versão sintética produzida com hidrogênio verde.
Outro é o metanol verde, que tem sido umas das principais alternativas de descarbonização para o transporte marítimo, produzido com hidrogênio verde. “O Brasil tem energia renovável competitiva e tem o carbono oriundo do agronegócio, então poderíamos ser um grande hub de abastecimento de navios com nossa energia renovável e hidrogênio verde”, aponta o diretor-executivo.
Hoje, esses combustíveis verdes são mais caros, pois é preciso desenvolver tecnologia, ganhar escala de produção, assim como aconteceu com a energia solar e a eólica.
Apesar de aumentar sua produção de energia renovável, a Casa dos Ventos quer ampliar sua atuação, seja como plataforma de soluções sustentáveis, seja na distribuição de produtos verdes: como amônia, hidrogênio ou metanol. Como? Por meio de parcerias para acelerar processos e o Brasil ganhar protagonismo nesse setor.
“Precisamos fechar alguns gaps da luta do verde contra o fóssil, como gerar atrativos para empresas, criar um ambiente regulatório de incentivo, desonerando algumas cadeias produtivas. O Brasil tem a matéria-prima que o mundo inteiro quer, basta estabelecer as políticas corretas que aproveitaremos a oportunidade para sermos o país industrial do futuro”, finaliza.