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Carreira orgânica: um plano de carreira para pessoas e tempos reais

Quando o sucesso deixa de ser linear, surge um modelo que valoriza competências, experiências e impacto, não apenas cargos

Vivian Broge, vice-presidente de Relações Humanas e Marketing da TOTVS (TOTVS/Divulgação)

Vivian Broge, vice-presidente de Relações Humanas e Marketing da TOTVS (TOTVS/Divulgação)

Vivian Broge
Vivian Broge

Vice-presidente de Relações Humanas e Marketing da TOTVS

Publicado em 18 de novembro de 2025 às 12h07.

Por décadas, o símbolo de sucesso profissional foi a ascensão linear na hierarquia corporativa. Um caminho previsível e vertical, onde cada degrau representava um cargo superior. Mas em um mundo de transformações aceleradas, equipes multigeracionais e novos modelos de trabalho, essa estrutura rígida já não responde às aspirações da maioria dos profissionais nem às necessidades das empresas. É tempo de falarmos sobre a carreira orgânica: um plano de carreira real, para pessoas reais.

Mas o que define uma carreira orgânica? Em essência, é uma jornada de desenvolvimento profissional que não se limita a movimentos verticais (promoções) ou horizontais (trocas de área). Ela se assemelha mais a um mosaico de experiências, onde o foco principal é a evolução contínua das competências, o aprofundamento do conhecimento e a ampliação do impacto dos profissionais no negócio. É um modelo que valoriza a jornada tanto quanto o destino e que entende o desenvolvimento contínuo como diferencial competitivo, não apenas individual.

Nesse modelo, o crescimento não é medido apenas por um novo título no crachá. Ele se manifesta na participação em projetos estratégicos e interdepartamentais, na aquisição de uma nova habilidade técnica (hard skill) que otimiza um processo, ou no desenvolvimento de uma competência comportamental (human skill) como liderança ou comunicação, que passa a inspirar colegas. O profissional pode, por exemplo, tornar-se uma referência técnica, um mentor de novos talentos ou o protagonista na adoção de uma nova tecnologia, ampliando seu impacto, sem necessariamente mudar de cargo.

Em tempos de inteligência artificial, vivemos uma era em que a tecnologia aprende, adapta-se e toma decisões em ritmo acelerado, e isso muda profundamente a forma como as pessoas também aprendem, se desenvolvem e trabalham. Neste contexto, orquestrar a experimentação das pessoas tornou-se um dos papéis mais importantes dos RHs. Estimular que profissionais testem novas ferramentas, aprendam com dados e explorem diferentes formas de aplicar tecnologia no dia a dia é o que permite que o aprendizado se transforme em vantagem competitiva.

Claro, para que esse modelo seja sustentável e atrativo, ele precisa estar diretamente atrelado a um pilar fundamental: o reconhecimento. A carreira orgânica não pode ser uma desculpa para estagnação. Pelo contrário, ela propõe uma lógica mais justa e moderna: o aumento da complexidade das tarefas, da responsabilidade e do impacto da pessoa  colaboradora deve ser diretamente refletido em uma compensação compatível.

O reconhecimento vai além da remuneração. Visibilidade, autonomia e propósito também são formas poderosas de valorização. Dar palco a quem entrega resultados, compartilhar boas práticas e promover o protagonismo são mecanismos que fortalecem o engajamento. O reconhecimento financeiro e o simbólico caminham juntos, reforçando a mensagem de que o desenvolvimento — em qualquer direção — é percebido, celebrado e recompensado.

O papel do RH e das lideranças, nesse contexto, é estratégico: construir ambientes onde o aprendizado seja contínuo, o talento seja móvel e o crescimento tenha múltiplas rotas possíveis.. Deixamos de ser "donos" de um mapa de carreira engessado para nos tornarmos designers de um ecossistema de desenvolvimento. Isso significa criar programas de mentoria, incentivar a mobilidade interna para projetos (mesmo que temporários), oferecer acesso a plataformas de aprendizado e, acima de tudo, fomentar uma cultura de diálogo aberto, onde todas as pessoas possam construir caminhos alinhando aspirações individuais aos objetivos da empresa.

A carreira orgânica é, em suma, uma abordagem mais humana, flexível e resiliente, que conecta o desenvolvimento das pessoas à sustentabilidade dos negócios. Ela reconhece que cada profissional é único e permite que as pessoas construam trajetórias que façam sentido para elas, gerando mais engajamento, inovação e retenção de talentos. Para as empresas, o benefício é ter um time mais qualificado, adaptável e preparado para qualquer desafio que o futuro apresente.

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