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Carrefour diz que não esquecerá João Alberto e faz cláusula antirracista

Nesta quarta-feira, 28, Carrefour divulga pesquisa sobre o racismo no Brasil e lança compromissos, que incluem multas aos fornecedores

Homem tira foto em frente a faixa de protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, morto por espancamento por seguranças em loja do Carrefour em Porto Alegre (Diego Vara/Reuters)

Homem tira foto em frente a faixa de protesto contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, morto por espancamento por seguranças em loja do Carrefour em Porto Alegre (Diego Vara/Reuters)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 28 de abril de 2021 às 15h05.

Última atualização em 28 de abril de 2021 às 15h19.

Nesta quarta-feira, 28, a varejista Carrefour realiza um evento online para 16.000 fornecedores com o objetivo de anunciar um compromisso de combate ao racismo. Estavam presentes Noel Prioux, presidente do Grupo Carrefour, Marcelo Melchior,  presidente da Nestlé, Juliana Azevedo, presidente da P&G e personalidades como Rachel Maia, Silvio Almeida, Celso Athayde, Renato Meirelles e Adriana Barbosa, participantes do comitê externo independente e de Livre Expressão sobre a Diversidade e Inclusão.

Com exclusividade, EXAME teve acesso à iniciativa que se dá numa tentativa de limpar a imagem do Carrefour e realizar ações concretas para que não se repitam tragédias como a morte de João Alberto Silveira Freitas, ocorrida em uma loja do Carrefour em Porto Alegre em novembro do ano passado.

"Aquele momento chocou o país, abalou nossa imagem com razão e nos fez reforçar uma construção de sociedade mais justa. Aprendemos que o que fazíamos até aqui não era suficiente e precisamos avançar muito mais", diz Prioux. Diante disto, a companhia anuncia a inclusão de uma cláusula antirracista em todos os contratos de fornecedores e uma política de tolerância zero ao racismo. Qualquer fornecedor que descumpra essa cláusula será automaticamente excluído da base de fornecimento e terá de arcar com uma multa, cujo valor será revertido para causas de direitos humanos.

A cláusula faz parte de uma série de mais de 50 iniciativas públicas para o combate à discriminação e inclusão de negros e negras. Todos que desejam manter contrato com a empresa terão de seguir regras de fomento à diversidade e combate e intolerância ao racismo. O descumprimento de qualquer nova obrigação irá resultar em rescisão imediata do contrato e o pagamento de multa correspondente a 30% (trinta por cento) do valor equivalente a 12 meses do contrato. O valor da multa que o Carrefour vier a receber será revertido à proteção dos direitos humanos.

A empresa também apresentou as novas diretrizes para a segurança interna e, segundo eles, todo o escopo de passou por mudanças como internalização dos agentes de segurança e implementação de um novo modelo.

Ainda foram apresentados projetos de fomento ao empreendedorismo, apoio a iniciativas de combate ao racismo e fortalecimento de organizações da sociedade civil com ênfase na população negra no Brasil. Entre outros compromissos, o Grupo Carrefour Brasil revisou suas políticas internas código de conduta e diversidade. A companhia também lançou um canal de denúncias de enfrentamento ao racismo e discriminação para todos(as) colaboradores(as), clientes, terceiros e fornecedores.

João Alberto não será esquecido

Para divulgar as iniciativas, o Carrefour lançou o site Não Vamos Esquecer, que reúne comunicados como as novidades desta quarta-feira e também o andamento no acordo com a família de João Alberto Silveira de Freitas. Até o momento oito membros da família já têm indenizações definidas e, em alguns casos, pagas. Isso significa que:

- todos os quatro filhos de João Alberto, sua enteada e sua neta já estão com ressarcimentos definidos, em negociações finalizadas. Apenas os três filhos do segundo casamento que aguardam homologação do Ministério Público do Rio Grande do Sul para que o pagamento seja efetuado;
- dentre estes familiares, a filha e a neta do primeiro casamento, bem como a enteada de João Alberto, já tiveram o acordo homologado e receberam o valor pactuado;
- o pai de João Alberto já recebeu o valor acordado; e
- a irmã de João Alberto já recebeu o valor acordado.
O único acordo não finalizado é com a viúva de João Alberto, a senhora Milena Borges Alves, que vem insistindo, por intermédio de seus advogados, no recebimento de valores considerados pela companhia não razoáveis e fora dos patamares jurisprudenciais apesar de superior ao estipulado para indenização por morte de familiar pelo Superior Tribunal de Justiça e também superior ao montante que seus advogados vêm comunicando.

No site ainda há mensagens institucionais como "Nada trará a vida de João Alberto de volta. Estamos certos, no entanto, que esse profundo pesar se converterá em ações concretas que impedirão que tragédias como essa se repitam".

Racismo estrutral 

Para mapear o racismo no Brasil, o Carrefour encomendou uma pesquisa com o Instituto Locomotiva, realizada com 1630 entrevistados em 72 cidades do país entre os dias 15 e 20 de Abril de 2020. Por meio dela se confirma que o preconceito racial é frequente no varejo e demais ambientes públicos, uma vez que 61% dos brasileiros presenciaram uma pessoa negra (preta ou parda) sendo humilhada ou discriminada devido à sua raça/cor em lojas, shoppings, restaurantes ou supermercados. O percentual aumenta para 71% quando pretas. Além disso, 69% pessoas negras já foram seguidas por seguranças em lojas. Entre as pessoas pretas, o percentual atinge 76%.

"O brasileiro precisa enxergar o racismo na sociedade e os impactos que ele traz. Existe um mercado gigantesco de pessoas que estão discriminadas e não atendidas e, mais do que isso, seguidas em supermercados, sofrendo violência policial e mais. A promoção da diversidade nas empresas é um dos caminhos para mudar esse cenário", diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

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