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Carlos Slim enfrenta transição como 2º mais rico do mundo

Bilionário planeja investir mais em países como o Brasil em um momento em que a pressão regulatória está despedaçando seu ativo mais valioso


	Carlos Slim: bilionário disse que está otimista em relação ao México e à América Latina
 (Susana Gonzalez/Bloomberg)

Carlos Slim: bilionário disse que está otimista em relação ao México e à América Latina (Susana Gonzalez/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2014 às 18h03.

Cidade do México - Carlos Slim planeja investir mais em países como o Brasil e ao mesmo tempo apostar mais em setores como o de energia em um momento em que a pressão regulatória no México está despedaçando seu ativo mais valioso.

Depois que duas décadas de investimentos no negócio de telefonia no México o colocaram no ranking dos indivíduos mais ricos do mundo, Slim disse nesta semana que sua empresa América Móvil está se curvando diante da legislação antitruste ao vender ativos no México para reduzir sua participação dominante no mercado.

Contudo, Slim disse em uma entrevista recente que está otimista em relação ao México e ao restante da América Latina. O bilionário planeja dar um novo foco aos seus investimentos para tirar vantagem dos custos cada vez mais baratos dos empréstimos.

“Eu acho que com as baixas taxas de juros no longo prazo, as oportunidades de investir em nossos países são significativas”, disse Slim, 74, em uma entrevista concedida nesta semana em seu escritório, no bairro Lomas, na Cidade do México, antes do anúncio de divisão da América Móvil. “Nós temos que tirar vantagem dessa grande janela enquanto ela durar”.

Enquanto a América Móvil reduz sua dependência do mercado doméstico, o segundo homem mais rico do mundo vem diversificando seus negócios além do México e do setor de telecomunicações por anos com participações nos segmentos bancário, de mineração e de construção.

Slim disse que planeja, agora, colocar mais dinheiro em energia, infraestrutura e habitação em países da América Latina, particularmente no Brasil, na Colômbia e no Peru. O setor de telecomunicações continua atrativo fora do México, disse ele.

“O dinheiro disponível torna viáveis os projetos nos quais estamos trabalhando e nos quais estamos investindo”, disse Slim, vestindo uma camisa creme, com um monograma, e sentado a uma mesa de conferência, onde seu telefone BlackBerry permaneceu intocado.

O patrimônio de Slim se expandiu e hoje abrange sete empresas de capital aberto controladas por ele no México, incluindo a Inbursa, a empresa de varejo Grupo Sanborns SAB e a mineradora Minera Frisco SAB, que opera com ouro e prata.

Fora do México, ele possui uma participação de 8 por cento na New York Times, com warrants para a aquisição de mais ações, e ações da empresa petroleira argentina YPF.

Neste ano a Inbursa adquiriu um pequeno banco no Brasil para expandir-se fora do México e a Grupo Carso SAB, holding de Slim, está prospectando petróleo na Colômbia.

Menos dependente

A América Móvil também se expandiu, com operações em 17 outros países, dos EUA ao Chile.

A empresa mantém ainda participações em duas operadoras europeias de telefonia, a Royal KPN NV e a Telekom Austria AG, na qual ampliou uma oferta de aquisição por ações em circulação, que expira hoje.

Com cerca de 60 por cento das vendas da América Móvil vindo de fora do México hoje, fatia maior que a de 29 por cento em 2002, a fortuna de Slim é menos dependente de seu país natal do que era.

Slim entrou no negócio de telecomunicações do México adquirindo o controle da antiga Teléfonos de México, que mantinha o monopólio estatal, em um processo de privatização realizado em 1990.

A América Móvil foi desmembrada uma década depois e mais tarde adquiriu sua antiga empresa-mãe. Agora seu valor de mercado é de US$ 78 bilhões depois que as ações subiram 9,4 por cento, ontem, com a notícia da cisão.

Slim foi ultrapassado como homem mais rico do mundo em maio de 2013 por Bill Gates, que tem uma fortuna de US$ 83,5 bilhões, segundo o índice Bloomberg Billionaires.

A maior parte da riqueza de Slim vem de sua participação de 57 por cento na América Móvil, que antes da decisão de venda de ativos desta semana havia perdido US$ 17 bilhões em valor de mercado desde que o presidente do México, Enrique Peña Nieto, assumiu, em 2012, com a promessa de incentivar uma maior concorrência para impulsionar a economia mexicana.

A elevação de ontem nos preços das ações da América Móvil ajudou a aumentar a fortuna de Slim em US$ 4,3 bilhões, para US$ 75,8 bilhões.

Uma fatia de 41 por cento de seu patrimônio vem de investimentos fora do setor de telecomunicações, segundo o índice Bloomberg Billionaires.

Nesta semana, os legisladores mexicanos aprovaram um projeto para criar uma maior concorrência no setor de telecomunicações, estabelecendo restrições aos preços, exigências para compartilhar infraestrutura e a opção de que as empresas dominantes proponham suas próprias divisões para reduzir sua participação de mercado para menos de 50 por cento. A lei precisará de sanção de Peña Nieto.

Plano de divisão

Para cumprir as limitações, a América Móvil precisará se desfazer de mais de 20 milhões de usuários de telefonia celular e 4 milhões de linhas fixas. O plano de cisão é resultado de anos de esforços frustrados do governo do México para conter o domínio da América Móvil.

Quando foi privatizada, a Telmex originalmente tinha o monopólio legal do serviço de telefonia local. A concorrência foi gradualmente introduzida anos depois.

As empresas que ingressaram no mercado, como Axtel SAB e Maxcom Telecomunicaciones SAB, acharam difícil competir com a vasta rede e com o reconhecimento de marca dessa potência de Slim.

Quando Slim adquiriu o controle da Telmex, a minúscula unidade de telefonia móvel da empresa tinha 35.000 assinantes, ficando atrás da líder de mercado Iusacell. O setor de telecomunicações sem fio era considerado domínio dos ricos, e não um dos negócios principais de um mercado em desenvolvimento como o México.

Slim viu uma oportunidade, criando um mercado para o serviço de telefonia celular inspirado nos cartões pré-pagos que os usuários da Telmex adquiriam em lojas de conveniência para uso em telefones públicos. Ele replicou esse modelo de telefonia celular pré-paga em toda a América Latina, o que ajudou a América Móvil a se tornar a maior operadora da região, à frente da espanhola Telefónica SA.

As leis aprovadas pela administração Peña Nieto eliminam muitas das ferramentas que a América Móvil usou para manter as reguladoras distantes.

A renovação do marco legal criou uma nova agência de telecomunicações com maiores poderes antitruste e um sistema judicial especializado para analisar as decisões. Além disso, as novas decisões da agência não podem ser suspensas por liminar enquanto estiverem sendo analisadas nos tribunais.

Enquanto determina quais ativos poderá vender para se ajustar ao novo regime regulatório, a América Móvil poderá aproveitar a oportunidade para avaliar que novos investimentos fazer com os recursos, segundo analistas do Royal Bank of Canada.

As taxas de juros continuam sendo um incentivo fundamental para os investimentos, disse Slim.

Embora a presidente do Fed, Janet Yellen, tenha afirmado que o plano dos estrategistas de política cambial dos EUA é manter sua taxa principal próxima a zero por um “tempo considerável” após encerrar as compras mensais de bônus, que injetam dinheiro na economia para incentivar o crescimento, a taxa de referência do México é de 3 por cento, a da Colômbia é de 4 por cento e a taxa básica no Brasil é de 11 por cento.

“Investir em infraestrutura, habitação, fábricas, empresas -- quando você vai criar uma empresa, você precisa observar a demanda, mas também os custos financeiros e o acesso ao capital e ao financiamento”, disse Slim.

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