Empreendedorismo feminino: crédito, capacitação e protagonismo marcaram o evento em Porto Velho.
Publicado em 11 de novembro de 2025 às 14h00.
Última atualização em 27 de novembro de 2025 às 13h50.
O Mutirão Acredita e a Caravana Sebrae Delas reuniram, em 7 de novembro, centenas de empreendedoras na Faculdade Católica de Rondônia, em Porto Velho, para um dia dedicado a crédito, gestão financeira e fortalecimento de negócios liderados por mulheres. A etapa rondoniense ofereceu acesso a linhas de financiamento com condições diferenciadas e garantia de até 100% pelo FAMPE Mulheres, fundo de aval do Sebrae voltado ao público feminino.
Na abertura, o Sebrae Rondônia destacou o protagonismo das mulheres na economia local e homenageou a artista plástica Edna Costa, reconhecida por sua atuação empreendedora. Com obras expostas em Paris, prêmio internacional em Londres e trabalhos apresentados em Brasília e Nova York, ela foi apresentada como exemplo da combinação entre talento criativo e visão de negócio. Caravanas de municípios como Guajará-Mirim, Nova Mamoré, Candeias e Ariquemes participaram do encontro.
Ao longo da tarde, o público acompanhou palestras sobre planejamento financeiro, uso consciente de empréstimos e relatos de empreendedoras que transformaram desafios em crescimento. À noite, o evento foi encerrado com duas palestras master: “Organize, invista e cresça”, com o influenciador financeiro Eduardo Felberg, o Primo Pobre, e “O discurso do óbvio”, com a atriz e empresária Giovanna Antonelli.
A programação foi também ocasião para apresentar o cenário econômico do estado e a estratégia do Sebrae no apoio aos pequenos negócios. Segundo o diretor-superintendente do Sebrae/RO, José Alberto Anísio, Rondônia registrou, até setembro, a abertura de 25,1 mil empresas — um crescimento de 21% em relação ao ano anterior. Ele destacou que cerca de 76% desses novos CNPJs correspondem a micro e pequenas empresas, reforçando a relevância do segmento para a economia local.
Anísio explicou que o modelo de “crédito acompanhado” é um dos pilares desse fortalecimento. O Sebrae atua como avalista por meio do FAMPE, os bancos liberam os recursos e a instituição oferece consultoria para o uso estratégico do crédito. Ele observou ainda que as mulheres se consolidam como um “braço forte” da economia regional, com presença crescente em áreas como bioeconomia, beleza, chocolate, pescado e cafés especiais. Também anunciou missões internacionais com grupos exclusivamente femininos, voltadas à ampliação de networking e de mercados.
O especialista nacional em Inclusão Financeira do Sebrae, Márcio Borges, acrescentou que a integração entre o Mutirão Acredita e a Caravana Sebrae Delas busca enfrentar um desafio estrutural: as barreiras ao crédito para pequenos negócios, ampliadas quando o recorte é de gênero. Segundo ele, mesmo sem restrições formais por parte das instituições financeiras, as mulheres ainda encontram mais obstáculos para acessar financiamento e acabam pagando, em média, juros mais altos.
Borges explicou que a iniciativa atua simultaneamente na oferta e no uso do crédito. De um lado, instituições financeiras parceiras operam linhas específicas com garantia total do FAMPE Mulheres. De outro, o evento reforça o papel da informação e da capacitação. “Por ser mais prudente, a mulher só pega crédito quando se sente segura sobre o que vai fazer com esse dinheiro. Informação e suporte reduzem o risco de endividamento e aumentam a chance de o crédito impulsionar o negócio”, afirma.
A palestra inicial sobre “Crédito e pequenos negócios” explicou como os bancos avaliam propostas e os critérios para aprovação. O público foi apresentado aos “C’s do crédito” — caráter, condições, capacidade, capital e colateral — que orientam a análise de risco. Cadastro atualizado, histórico de bom pagador, demonstração de capacidade de pagamento e existência de garantias compõem a base de decisão. O FAMPE, nesse contexto, supre a ausência de garantias reais e amplia o acesso das empreendedoras a recursos.
Eduardo Felberg, o Primo Pobre, compartilhou sua trajetória na educação financeira popular e destacou a diferença entre vender o próprio tempo como empregado e gerar renda com produtos ou serviços. Ele alertou sobre a alta taxa de mortalidade das empresas no país e associou esse cenário à ausência de planejamento e educação financeira.
Na sequência, Giovanna Antonelli emocionou o público com “O discurso do óbvio”. A atriz relatou episódios em que foi rejeitada por não se encaixar em padrões e ressaltou a importância de resiliência e autoconhecimento. “Projetos rejeitados hoje podem ser os grandes sucessos de amanhã”, afirmou. Ela destacou a distância entre o glamour das redes sociais e os bastidores do esforço cotidiano.