Édila Neves (Sebrae Maranhão), Margarete Coelho (Sebrae Nacional) e Giovanna Antonelli em encontro que celebrou o protagonismo feminino no empreendedorismo. (Marcio Vasconcelos)
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 19 de maio de 2025 às 14h59.
Na última quinta-feira, 15, São Luís (MA) recebeu a Caravana Sebrae Delas, série de atendimentos pelo Brasil para o fomento da educação financeira e o acesso a crédito para negócios comandados por mulheres.
A iniciativa, que começou em Campo Grande (MS) e vai rodar o país ao longo do ano, aconteceu durante a ExpoMEI 2025, e recebeu mais de duas mil pessoas. A programação contou com palestras e debates conduzidos por representantes do Sebrae e autoridades locais, e com uma feira que reuniu 120 microempreendedores que puderam expor seus produtos e potencializar o networking.
Um dos destaques foi a formalização da primeira assinatura do FAMPE 100% Mulher – nova modalidade do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas, voltada exclusivamente para mulheres –, na região. Realizada em parceria com o Banco do Nordeste, garante 100% do valor financiado, eliminando a exigência de avalista. Tradicionalmente, o fundo cobre até 80% das operações de crédito.
“Para as mulheres, o FAMPE é 100% porque elas enfrentam uma jornada empreendedora muito mais difícil, marcada pela escassez de tempo, de garantias e de acesso ao crédito, além da falta de confiança e educação financeira", afirmou Margarete Coelho, diretora de administração e finanças do Sebrae Nacional. Segundo ela, a proposta é clara: fortalecer a autonomia financeira feminina, aproximando empreendedoras das instituições bancárias.
A iniciativa se baseia em uma pesquisa profunda sobre a realidade das mulheres que empreendem no Brasil. De acordo com o estudo do Sebrae, elas investem 17% menos tempo na empresa porque gastam 10,5 horas por semana a mais do que eles para os cuidados com a casa.
Fora isso, dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas mostram que o valor médio de empréstimos liberados para as empresárias é em torno de R$ 13 mil a menos do que a média aprovada para o sexo masculino. Além disso, enfrentam taxas de juros, em média, 4 pontos percentuais mais altas do que os homens — mesmo sendo melhores pagadoras.
Na visão de Margarete Coelho, essa desigualdade financeira revela um problema estrutural. “É uma violência cobrar 4% a mais de juros das mulheres, é violência as mulheres terem de cuidar da casa sozinhas e ainda serem questionadas, ao buscarem crédito, com frases como ‘quem vai cuidar da sua casa?’ ou ‘com quem ficarão seus filhos enquanto você trabalha?’”, afirmou. “É um ambiente hostil que precisa ser transformado com políticas públicas efetivas.”
A solenidade de abertura contou com nomes de peso como Celso Gonçalo, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Maranhão; Edila Neves, diretora de administração e finanças do Sebrae Maranhão; Albertino Leal, diretor superintendente do Sebrae Maranhão; Mauro Borralho, diretor técnico do Sebrae Maranhão; Esmênia Miranda, vice-prefeita de São Luís; e Abigail Cunha, secretária de Estado da Mulher, além de Margarete.
“Apoiar o empreendedorismo feminino é mais do que uma missão, é uma necessidade”, afirmou Celso Gonçalo.
Para ele, a Caravana Sebrae Delas existe para conectar, valorizar, capacitar e empoderar mulheres que movimentam a economia.
Já Edila reforçou que a iniciativa representa conhecimento, oportunidade e transformação para milhares de empreendedoras em todo o Brasil. “Muitas mulheres já empreendem, mas não se reconhecem como parte da economia. Nosso papel é chegar até elas com conhecimento e orientação”, disse. “Quando uma mulher cresce, transforma todo o ecossistema ao seu redor.”
A empresária Juliane Ribeiro Sousa, de 26 anos, foi a primeira beneficiária do FAMPE 100% no Maranhão. Fundadora do restaurante Lá na Lu e da Lá na Ju Variedades, comemorou a conquista. “Nunca tive uma verba para dizer: ‘agora, sim, tudo é meu e posso crescer’. Vou conseguir, pela primeira vez, focar em meu negócio, pagar funcionários, renovar equipamentos, uniformes e ter capital de giro de verdade. O dinheiro vai fazer muita diferença.”
Criada por uma mãe solo que sempre empreendeu por necessidade, Juliane cresceu vendo de perto o esforço diário para manter a casa. Inspirada por esse exemplo, decidiu montar seu próprio negócio. Com um fogão usado, uma geladeira antiga e microcréditos, estruturou sua barraca de alimentação.
“Não tinha nenhum dinheiro no bolso; fui na cara e na coragem.”
Hoje, administra dois negócios e planeja ir mais longe com o novo crédito. “Sempre quis divulgar no Instagram, alcançar novos públicos, mas não tinha estrutura. Agora posso montar um espaço bonito, com bons equipamentos. Um negócio com jeito de futuro.”
Sobre o futuro, Juliane não hesita: “Quero crescer. Amo empreender. Mesmo quando estou cansada, não me vejo fazendo outra coisa. Agora com esse crédito, sei que vou mais longe.”
No painel “Políticas Públicas e a Jornada da Mulher Empreendedora”, mediado por Edila Neves, o debate girou em torno de temas como equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, saúde mental e redes de apoio. As participantes — Margarete; Livia Soares Viana, empreendedora social e criadora do projeto Ela Faz; Raquel Martins, coordenadora-geral de empreendedorismo do Ministério das Micro e Pequenas Empresas; a delegada Kazumi Tanaka, coordenadora-geral das Delegacias da Mulher no Maranhão, responsável por políticas de enfrentamento à violência contra a mulher; e a vereadora Thay Evangelista, procuradora da Câmara Municipal de São Luís — reforçaram a necessidade de que as políticas sejam pensadas para além da geração de rendas, envolvendo questões como saúde mental da mulher, estrutura familiar e o próprio suporte à gestão empreendedora.
Kazumi Tanaka, por exemplo, destacou a importância de enfrentar a violência contra a mulher e de reconhecer os diferentes perfis femininos ao desenvolver políticas de apoio. “É fundamental entender o que as mulheres sentem na pele para, a partir disso, adotar estratégias eficazes que incentivem o empreendedorismo e promovam a independência financeira. Antes de qualquer ação, o Estado precisa conhecer essa diversidade — uma mulher com deficiência tem necessidades diferentes de uma idosa, de uma mulher negra, de uma da periferia, de uma mãe solo", afirmou.
Nesse sentido, em entrevista à Exame, Marina Lavareda, gerente estadual de atendimento Sebrae Maranhão, destacou que a instituição tem atuado de forma integrada — desde o apoio à gestão financeira e empresarial até a criação de uma rede de apoio entre mulheres empreendedoras.
“As ações são pensadas para que elas acreditem mais em si mesmas. Sabe aquela força que você precisa para começar um negócio, prosperar, inovar ou acessar novos mercados? O Sebrae está aqui justamente para ser esse impulso, esse braço que apoia quem empreende”, afirmou a executiva, reforçando que o Sebrae tem ampliado sua atuação para incluir grupos historicamente marginalizados, como negros, pessoas com deficiência, 60+ e LGBTQIA+.
A atriz e empresária Giovanna Antonelli fechou a programação do dia com a palestra “Histórias que Inspiram”. Com emoção e leveza, compartilhou sua trajetória, abordando temas como coragem, determinação e propósito.
“Ao longo de mais de 30 anos de carreira, já me desdobrei em outras profissões, acumulei experiências e construí histórias de sucesso. Mas, para isso, acertei, errei, recomecei, me reinventei. Nunca desisti; o que me move — e sempre me moveu — é meu propósito”, afirmou.
Durante sua fala, relembrou os desafios enfrentados até alcançar o patamar atual, incluindo os “nãos” recebidos ao longo do caminho. Ao incentivar as mulheres presentes, ressaltou a importância de não se deixar paralisar pelo medo: “Empreender é sobre acreditar no seu potencial, se arriscar e se reinventar a cada passo”.
Na visão de Giovanna, três pilares são essenciais para quem deseja seguir no empreendedorismo: clareza de propósito, aprendizado constante e rede de apoio. “Ninguém cresce sozinho”, destacou. “Estou sempre em movimento, buscando o novo, criando metas. Sou assim desde jovem — por necessidade”, completou.
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