Negócios

Por um capitalismo mais limpo

A escala dos problemas ambientais e sociais que enfrentamos hoje exige a articulação de governos, empresários e cidadãos

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

O recente terremoto no Haiti nos lembra, tristemente, de como é frágil o domínio que temos sobre o planeta. Em poucos dias o tremor causou prejuízos incontáveis, matou centenas de milhares de pessoas e arruinou a vida de muitas outras. O mundo está atento ao que se passou ali e tem enviado alimentos, água limpa e remédios. Os governos, ex-presidentes americanos, empresas, pessoas comuns e até mesmo um número grande de crianças estão ajudando o Haiti com doações, serviços ou eventos. Em meio a essa reação extraordinária, uma das tarefas mais difíceis tem sido coordenar os recursos e fundos de tal forma que cheguem às linhas de frente de maneira eficaz e a tempo.

O desafio do Haiti nos lembra que, para resolver grandes problemas, é preciso que governos, empresas, organizações não governamentais e indivíduos trabalhem em extrema sintonia. Para um futuro melhor, é fundamental que se criem modelos de filantropia de maior qualidade. Embora em alguns casos a crise financeira dos últimos 18 meses tenha reduzido o volume de financiamentos vitais para muitas instituições sem fins lucrativos, ela também fez com que a geração mais recente de filantropos avaliasse como trabalhar de modo mais eficaz para garantir que os melhores projetos atinjam um resultado de ampla escala.

Jeff Skoll, por exemplo, um dos fundadores do eBay, recorreu a suas habilidades empresariais para criar a Participant, uma nova empresa cinematográfica que combina entretenimento com conscientização sobre questões importantes. Skoll fez filmes engajados, como Uma Verdade Inconveniente, um documentário fantástico protagonizado pelo ex-vice-presidente americano Al Gore sobre as mudanças climáticas, The Soloist ("O solista"), um filme encantador que trata da questão dos sem-teto nos Estados Unidos, e ainda Countdown to Zero, sobre a necessidade de banir as armas atômicas do mundo.

Nos últimos 20 anos, assistimos à criação de fortunas maiores do que o PIB de muitos países. Isso requer uma forma mais benevolente de capitalismo - um modelo que crie riqueza e use parte dela de forma mais responsável. As empresas têm hoje um novo objetivo - provar que o capitalismo, por si só, não basta. Além do lucro, é preciso também tornar o mundo um lugar melhor. Para algumas pessoas, isso significou criar fundações enormes para a distribuição de riqueza. Para outras, colocar a responsabilidade social e as boas práticas de trabalho no coração da empresa. O debate sempre vai existir: a caridade pura e simples é melhor do que o investimento que promove o crescimento econômico? Tratase, porém, de um debate fútil. O mundo precisa hoje de toda a ajuda que puder conseguir para lidar com a escala dos problemas ambientais e sociais que enfrentamos.

Há alguns anos, criamos uma fundação sem fins lucrativos, a Virgin Unite. Seu objetivo é simplesmente unir a capacidade de transformação de pessoas que podem resolver problemas prementes. Queremos ser elementos catalisadores de novas maneiras de proporcionar saúde em larga escala, estimulando a paz e reduzindo os fatores que contribuem para a mudança climática. Ajudamos a criar a organização The Elders, grupo formado por pessoas como Nelson Mandela, Desmond Tutu, Jimmy Carter e Kofi Annan, que atuam discretamente nos bastidores ajudando a resolver os conflitos mundiais. Estamos trabalhando na criação do Centro de Controle de Doenças em parceria com o governo sul-africano e líderes do setor de saúde, num esforço para erradicar o sofrimento causado por doenças evitáveis e que podem ser tratadas. Também ajudamos a criar um Comando de Guerra ao Carbono, que permitirá ampliar a escala de novos modelos de negócios atentos à mudança climática. Como não temos todas as respostas, trabalhamos com parceiros e especialistas de primeira linha. Com frequência, eles sabem o que fazer, mas não tiveram a oportunidade de ser ouvidos.

É fascinante observar como diferentes setores da sociedade geram novas parcerias, por vezes improváveis, que permitirão lidar com grandes desafios. Com o aprofundamento da globalização, cresce a distância entre ricos e pobres. Temos de recorrer à tecnologia e ao conhecimento das empresas para construir um mundo mais próspero e saudável para todos. Isso exige que nós - movidos por um sentimento profundo de humildade e de respeito - nos associemos a parceiros e a pessoas nas diversas linhas de frente. O retorno vai depender do quanto estivermos dispostos a oferecer. As soluções virão a um custo baixo se mantivermos a atual geração de filantropos compromissados e participantes.

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedoresEmpreendedorismogestao-de-negociosMotivaçãoPequenas empresas

Mais de Negócios

Franquias no RJ faturam R$ 11 bilhões. Conheça redes a partir de R$ 7.500 na feira da ABF-Rio

Mappin: o que aconteceu com uma das maiores lojas do Brasil no século 20

Saiba os efeitos da remoção de barragens

Exclusivo: Tino Marcos revela qual pergunta gostaria de ter feito a Ayrton Senna