Mateus Orsini, da Vulp Air: “A gente verticaliza tudo: projeto, instalação, operação e manutenção" (Divulgação/Divulgação)
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Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 06h01.
A mudança climática pressiona o setor de climatização no Brasil.
Temperaturas mais altas, consumo crescente de energia e equipamentos antigos colocam escolas, hospitais, data centers e varejo diante de um risco constante: manter o ambiente funcionando sem interrupções.
A Vulp Air surge nesse contexto como uma das empresas que mais cresce no modelo de climatização por assinatura, conhecido globalmente como Cooling-as-a-Service, climatização como serviço.
A companhia atua em todos os estados, atende 2.700 clientes e gerencia mais de 100 mil equipamentos, sempre com equipes próprias e tempo máximo de resposta de duas horas.
A história volta ao centro agora porque, dois anos após ser adquirida pela Lotta Capital via search fund, modelo em que investidores financiam um empreendedor para adquirir e operar uma empresa, a Vulp dobrou de tamanho.
Agora, quer saltar de R$ 160 milhões para R$ 250 milhões de receita anual recorrente até 2026.
O plano envolve automação, substituição de sistemas antigos e expansão do parque de equipamentos.
“Eu entrego para o meu cliente todos os serviços por meio de uma mensalidade única e fixa. O único trabalho dele é abrir o chamado quando acontece”, diz o CEO Mateus Orsini.
“A gente verticaliza tudo: projeto, instalação, operação e manutenção. Isso garante disponibilidade todos os dias da semana, eficiência energética e conforto térmico para quem realmente importa — o usuário final”, afirma.
O próximo passo é ampliar o alcance do serviço para impactar 1,7 milhão de pessoas por dia, ante 1,4 milhão atendidas atualmente.
Orsini é mineiro, formado em Engenharia Mecânica pela UFMG e iniciou a carreira na mineração. Trabalhou na Austrália, voltou ao Brasil e migrou para venture capital e private equity.
Após cursar MBA no INSEAD, decidiu seguir o modelo de search fund, ainda raro no país.
“O Brasil é um país enorme e formado por empresas familiares que entregam valor, mas muitas vezes ficam sem sucessão. O search fund resolve essa dor”, diz.
Ele relata ter sido um dos primeiros operadores desse modelo no Brasil.
Em 2023, a Lotta Capital adquiriu a Colortel — empresa fundada há 55 anos como locadora de televisões coloridas — e iniciou o reposicionamento para Vulp Air.
Hotelaria, saúde e educação, setores atendidos há décadas, passaram a demandar climatização com mais intensidade, impulsionados pelo avanço das temperaturas e pela urbanização.
Uma escola com 300 salas precisa gerir diversos serviços: projeto, compra, armazenamento, instalação, manutenção, troca de filtros, gás, peças, controle de consumo e automação.
“O setor opera com incentivos desalinhados: quem instala não opera, e quem opera lucra com falhas”, afirma Orsini.
A Vulp verticaliza toda a cadeia. Compra, instala, opera e troca o equipamento quando necessário. O cliente paga uma mensalidade fixa. O foco é disponibilidade, eficiência energética e estabilidade térmica.
“Não vendemos equipamentos; entregamos performance. O cliente paga pelo resultado: conforto, economia e previsibilidade”, diz o CEO.
Hoje, a Vulp opera com 71.000 TRs (Tonelada de Refrigeração) instaladas e impacta 1,4 milhão de pessoas diariamente. A meta é chegar a 75.000 TRs e 1,7 milhão de pessoas até 2026.
“Era uma empresa que crescia 5% ou 7% ao ano. Hoje cresce entre 40% e 50%”, afirma Orsini.
A Vulp fechou o ano com 471 funcionários e projeta chegar a 550. O avanço depende de retrofits, automação e expansão para novas verticais.
A principal aposta é a automação. A empresa desenvolveu sensores e software próprios capazes de medir temperatura, umidade, particulados e gases, ajustando automaticamente o funcionamento do ar-condicionado.
“A gente conecta os sensores ao software, interpreta os dados e automatiza o funcionamento. Isso entrega eficiência energética e, no fim do dia, conforto térmico”, diz Orsini.
As soluções reduzem o consumo de energia entre 20% e 25%, segundo o CEO. Para ele, eficiência não é opcional: a climatização pode representar de 30% a 80% da conta de energia de um imóvel.
Menos de 20% das escolas brasileiras têm climatização. Mesmo quando têm, os sistemas funcionam de forma irregular: aparelhos ligados a 17 graus o dia inteiro, falta de automação e desperdício de energia.
“O modelo antigo é energeticamente ineficiente e não entrega conforto. O equipamento quebra, a manutenção demora e quem paga essa conta é o aluno, o paciente ou o cliente”, diz o CEO.
A empresa vê espaço para avançar em saúde, educação e hotelaria — setores onde já tem forte presença —, mas enxerga maior aceleração em data centers e shoppings.
“O processamento de dados gera calor. Mais processamento, mais energia, mais calor, menos capacidade de processamento. É paradoxal”, afirma Orsini.
A Vulp está presente nos 27 estados, com nove centros de distribuição avançada e 40 postos operacionais.
“Somos a única empresa de climatização com capilaridade nacional própria. Sempre temos alguém a duas horas de qualquer equipamento”, afirma.
Para os próximos anos, o plano é simples, segundo o CEO: ampliar a automação, trocar equipamentos antigos e manter o ritmo de crescimento.
“Nosso futuro é entregar conforto térmico e mostrar que existe um novo jeito de climatizar: eficiente, automatizado e sem atrito”, afirma.